sábado, 27 de agosto de 2011

A casa dos avós paternos.


     Meus avós moravam em Santo Ângelo quando me dei por mim.  Mas eles vieram de São Borja,  fronteira com a Argentina, tendo como divisa o Rio Uruguai; passaram por São Luiz Gonzaga e só depois foram para Santo Ângelo.
      Como já mencionei em outro post, nós íamos  visitá-los nas férias.  Via-os, pelo que me lembro, uma vez por ano.
     Meu avô, mais conhecido por Guta (só o chamávamos de vô Guta), era um gaúcho autêntico, do tempo das revoluções, pois nasceu no século XIX; como profissão era, inicialmente, agricultor, e posteriormente, carreteiro; para quem não é do Rio Grande do Sul, carreteiros eram os agricultores que viajavam, de uma fazenda a outra, ou de uma cidade a outra, vendendo seus produtos da agricultura, couro, animais, etc; daí vem a origem do famoso arroz de carreteiro (uma delícia!) feita com charque, banha, temperos verdes, o que se conseguia transportar sem que estragasse naqueles tempos; era feito originalmente em panelas de ferro, cozido em trempes durante as viagens, e fácil de fazer que até os homens os preparavam...

Carreteiros
(Imagem: http://lucianoandancas.blogspot.com/2011/02/antigo-posto-marin.html)

O famoso arroz-de-carreteiro

(Imagem: http://www.cozinhabrasileira.com/comidas_gauchas/arroz_de_carreteiro.html)
     
     Contam meus pais que ele conheceu minha avó e se apaixonou por seu lindo narizinho arrebitado! naqueles tempos em que as mulheres andavam com longos vestidos, poucas partes do corpo indicavam a total beleza de uma mulher, daí se apaixonar pelo nariz...mas minha avó era linda.
    Meu avô vinha para casa de suas andanças, trabalhava um pouco, juntava coisas para vender e saía, carretear, deixando minha avó grávida a cada vez que isto acontecia.
     Ela era uma mulher de fibra, carneava porco, galinha, plantava, colhia, cuidava dos filhos, costurava, matava cobras, aranhas, cuidava dos animais, era o homem da casa.  E, naquele tempo, como também já comentei em outro post, os partos eram feitos em casa, com o auxílio de parteiras. Para crianças que nascessem frágeis, sobreviver, então, era uma dádiva de Deus e um esforço sobre-humano da mãe, pois médicos e assistência em geral não existia, para quem vivia em uma fazenda, no meio do mato.
     Recordo do cheiro da casa da vó, quando a gente chegava lá: meu avô fumava palheiro, mas não era um cheiro ruim de cigarro ou de outros palheiros que se sente por este mundo; era um cheiro adocicado, gostoso, o cheiro da casa da vó. Vô Guta contava histórias engraçadas para nós, e dava suas risadinhas curtas e ritmadas; ele era baixinho, não muito gordo, usava bigodes, como todo gaúcho da época, e lenço vermelho maragato.  A vó era mais alta que ele, esguia, uma mulher muito delicada e bonita.
     Minha avó era fera nas agulhas de "coroché" (crochet), como ela falava; só trabalhava com linha fina (mercet crochet), e fazia rendas maravilhosas: guardanapos, toalhinhas, roupas, era uma artista; recordo, na década de 70, que  fez um vestido de noiva de crochet, que ficou famoso na cidade, saiu no jornal, foi para a filha de um advogado bem conceituado no local.  Ela tinha uma ótima clientela, toda a nata de Santo Ângelo encomendava trabalhos com ela.

Creio ser semelhante a este o vestido que minha avó fez.

(Imagem: http://nanytendresse.blogspot.com/2009/07/vestidos-de-noiva-em-croche.html)     

     Quando íamos passear, fazia coisas gostosas, bolos, seus pães eram meio adocicados e com erva-doce; fazia abacate na casca, que achávamos diferente; uma vez disse que ia ensinar a mim e minhas primas a fazer pão, foi uma tarde divertida: colocamos panos na cabeça, avental, peneiramos a farinha, metemos a mão no ovo e demais ingredientes, e cada uma fez um boneco, com feijão nos olhos, nariz e boca, muito engraçado e gostoso.

Eram parecidos com estes os bonecos que fazíamos, embora estes sejam doces, os nossos eram com massa de pão mesmo.
(Imagem: http://www.google.com.br/imgres?q=p%C3%A3o+em+formato+de+boneco&um=1&hl=pt-BR&client=firefox-a&sa=N&rls=org.mozilla:pt-BR:official&biw=1338&bih=569&tbm=isch&tbnid=2FYwu8TgOhkXFM:&imgrefurl=http://artedecozinhar-blogsecia.blogspot.com/2010_12_01)

     Geralmente íamos perto do Natal, passávamos esta data com eles, e era a época de encontrar os demais familiares: irmãos e irmãs do meu pai, com as famílias; era primos e primas de toda idade e tipo físico: altos, baixos, gordos, magros, uma diversidade enorme; a família estava toda esparramada pelo Rio Grande, e    uma tia morava, e mora ainda, no Rio de Janeiro.  Tinha uma tia que morava na mesma quadra da casa da vó, um casarão na esquina que eu gostava muito de visitar, pois havia primas da minha idade e que ficaram minhas amigas pela vida toda; o que me marcou na casa desta tia  era o enorme relógio cuco que eles tinham na sala; adorava ficar olhando quando batiam as horas e o cuco abria a portinhola e cantava...
       Quando eu tinha uns 13 anos, fui passar uns dias sozinha na casa da vó, para aprender crochet, que eu não sabia e minha mãe também não; fiquei 15 dias,  fiz uma saia e uma blusa...e não via a hora de ir para casa; decididamente, não tenho habilidades com as agulhas, tenho duas mãos esquerdas...mas aprendi. 
     Foi nesta época, creio, que eles comemoraram as Bodas de Ouro; só descendentes diretos tinha 150 pessoas - filhos/as, genros, noras, netos. Foi uma festa muito bonita, uma oportunidade rara da família encontrar-se, pois os netos estavam crescendo, demandando estudos e trabalho, então ficava cada vez mais difícil reunir todo mundo.
     Meu avô faleceu com mais de 80 anos, minha avó perto disto, quando eu estava na faixa dos 17/18 anos.  Ficamos todos tristes, mas sabemos que tiveram uma vida intensa, cheia de atividades, emoções, criaram os filhos, apesar das dificuldades, superaram problemas, e deram um bom exemplo de vida aos seus descendentes.
    
    

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Da minha janela eu vejo...

     Durante toda a minha vida tive este "quê" de observar o que vejo de minha janela.  Como era muito curiosa, quando criança, e relembrando as referências de romances antigos, geralmente de Jorge Amado, em que as donzelas ficavam à janela olhando a vida passar; ou a música de Gilberto Gil "...tá me esperando na janela, ai, ai..."; ou quando ouvi pela primeira vez Adriana Calcanhoto cantar "Esquadros" (eu ando pelo mundo, ...pela janela do quarto, pela tela, pela janela, eu vejo tudo enquadrado ...), lembrei-me desta mania e vi que não estou só, o que é um alento a um ser por demasiado humano;  sempre observei o que se passava sob minhas janelas.
    Quando criança, da janela de meu quarto, na velha casa da Penha, eu via um grande pé de cinamomo; a casa da vizinha, cheia de crianças arteiras, em algazarra.  Da janela da frente, víamos toda a Ijuí, pois nossa casa era no alto, então se enxergava o morro do Bairro São Geraldo, com a Unijuí ao lado; o morro do centro, com a Praça da República e o comércio ao seu redor, e se adivinhava o terceiro morro, onde estava o cemitério. Tínhamos uma visão privilegiada da cidade.


    




Na atual casa de meus pais, de minha janela eu via a casa da vizinha - e ela me via, tão perto são as casas.  Mas da janela e porta da frente, víamos diariamente o lindo pôr-do-sol da cidade, com árvores ao fundo, visão esta que hoje está encoberta por construções e uma enorme árvore que meu pai plantou em frente à casa.
(Foto de Athena; 1976)   






Quando trabalhava em uma companhia de seguros, no centro da cidade, da janela em frente à minha mesa, eu via todo o movimento da rua; via pessoas caminhando, conversando, correndo, entrando e saindo de carros; achava interessante olhar de cima (no primeiro andar) e as pessoas não me verem, a não ser que olhassem para cima.  Era como uma testemunha, não sei de quê.
     Quando fui morar em Cruz Alta, já casada, eu via um senhor que morava na casa ao lado, e o coitado bebia... como bebia! Ele tinha uma mania de pegar latas de azeite e empilhar...que derrubava, numa barulheira infernal; depois montava tudo de novo, e assim passava os dias.  No começo achei engraçado, depois tive pena dele.

  Em Panambi, na primeira casa em que morei, eu via o morro em frente - explicando: a topografia desta cidade gaúcha é toda acidentada, tem vários morros, e casas construídas em todos eles.  Neste morro, tinha muitas casas, um pouco de mato - lá se preservava muito o verde; em frente, morava um casal de meia idade; às vezes o homem empinava um pouco bastante...; um sábado à tarde, enquanto a marvada ia fazendo seu efeito, ele escutava músicas bem alto, no rádio; a mulher não gostou, e desligou o rádio...ele começou a gritar e quebrar as coisas..."por que desligou o rádio? a música tava boa... "  Encolhemo-nos dentro de casa e aguardamos a tempestade passar.  Mas o amanhecer era muito lindo, (vide foto, embora antiguinha, 1978),  e nem todos meus vizinhos empinavam...

     Na outra casa que moramos nesta cidade, antes de construir a nossa, à frente eu via a casa dos vizinhos, muito linda, com cortinas que balançavam à janela...aos fundos, um gramado bem cuidadinho, e pinheiros plantados em fileira. Nunca esquecerei um dia, tremendamente frio, em que geou, e a grama ficou toda branquinha, parecia neve.

                                    (Os pinheiros enfileirados; foto de Athena, 1980)

     Quando nossa casa ficou pronta, da janela de meu quarto eu via a Rua Bento Gonçalves, por onde passavam todos os ônibus que iam e vinham da estação rodoviária que ficava a uma quadra de minha casa; à frente tinha uma lenheira, noutra esquina uma casa muito bonita. Ao lado tinha um bar, onde um papagaio  falava o tempo todo, e onde alguns passavam ao fim do dia para molhar o gargumilo..., que posteriormente se transformou em uma igreja! São as incongruências do Brasil.
     Já na frente da casa, víamos a creche municipal, com seu parquinho e as crianças que sempre brincavam e faziam muito barulho. Ao lado, a casa de uma vizinha que tinha o jardim mais lindo da cidade; cuidava das flores com muito carinho e dedicação, estava sempre adubando, tirando os matos, plantando e replantando, e eu ficava, de longe, admirando.  Sempre amei jardins.
     Quando nos mudamos para Caxias do Sul, achei muito triste a visão que tinha do apartamento: era de uma fábrica, e só se via aquele paredão, sem janelas, ouvia os apitos da fábrica nos horários de entrada e saída, muito ...sei lá... não gostei.
     Em outra casa, de volta à minha terra, via um belo jardim...na outra, que ficava abaixo da rua, via a rua e seu movimento, acontecendo lá em cima,  pois era uma das principais da cidade...
     Depois vim para a região onde moro atualmente....da janela do apartamento via outros prédios de apartamentos, tudo muito frio, impessoal, muita alvenaria e alturas...
     Hoje vejo da minha janela, em minha casa, as flores que plantei: coqueiros, azaléias, uma roseira, que adoro rosas...e  pássaros de todas as espécies, pois antigamente este local era zona rural e uma fazenda; até um beija-flor, que apelidamos chiquinho, vem todos os dias beijar as flores da nossa casa;  e vejo, também,  a casa do vizinho da frente, sempre fechada, pois saem para trabalhar e voltam tarde da noite.
     Mas a visão das minhas plantas é privilegiada, amo muito e fico muito feliz.

                           (Aqui consegui capturar um passarinho no galho do coqueiro; foto de Athena)


     Da outra janela, ao lado, vejo a BR que passa perto, onde acontecem muitos acidentes, pois os motoristas daqui são tudo meio maluco...e ouço, infinitamente, o ruído de caminhões, ônibus, carros, freadas bruscas, sirenes de polícia e ambulâncias...motoqueiros em alta velocidade disputando rachas, e assim por diante.
     Quantas janelas ainda?
    

                (Minhas azaléias, que sempre florescem em agosto; foto de Athena)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Assim falou Zaratustra.

     Após muito tempo, anos a fio, o resultado de uma maluquice minha; o certo seria perseverança, mas creio que é maluquice mesmo: meus blogtores, aguentem aí, se puderem; quem manda ler meu blog?


·        NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. Trad. De Alex Marins. São Paulo, SP. Martin Claret, 2002, 243p.

Aleluia! Finalmente consegui!
Após várias tentativas, inícios e reinícios,
pegadas duras e intensas, desistências, inconformismo – não, eu TENHO que ler, NÃO ADMITO que um livro me derrube -  , consegui terminar de lê-lo.  Foi um desafio a que me propus – não gosto de coisas fáceis  - tentar decifrar este livro de Nietzsche.  ‘O Anticristo’ não tinha sido muito fácil, mas tinha menos páginas – coisa que nunca olho, mas desta vez percebi – a linguagem e as reflexões não eram tão, como direi, profundas e, muitas vezes para mim, confusas.  Não sei se o entendi.  Creio que para compreender completamente a obra deste autor – se isto for possível a pobres mortais que não sejam filósofos – devo procurar justamente análises de filósofos sobre tal, e também não sei se estes, os filósofos, o entendem. Estarei eu a fim disto?  Talvez seja até prudente citar um comentário feito ao final do perfil biográfico por Scarlett Marton: “Quem julgou compreendê-lo equivocou-se a seu respeito; quem não o compreendeu, julgou-o equivocado”. Eu ainda não sei onde me encaixo...
Mas, leigamente falando, vou tentar expor o que consegui captar desta obra, que muitos comentam e poucos lêem; este é um dos livros que a gente tem que ler com o lápis na mão, sublinhando, pondo exclamações, interrogações, flechinhas, circulando...  EU CONSEGUI!
Para mim também era um duelo comigo mesma, pois como professora, mesmo que aposentada, e mãe de um filho que leu este livro aos 20 anos, não poderia me abater; pelo menos, para poder conversar com ele de igual para igual...

  Zaratustra  aos 30 anos se afastou de sua terra e foi viver numa montanha; lá ficou 10 anos, isolado, pensando, vendo o sol nascer todo o dia, conversando com sua águia e sua serpente domésticas;  refletiu sobre tudo e sobre todos, teve todo tipo de pensamento.  Nietzsche coloca na boca do ermitão toda a sua filosofia, toda a sua crítica ao pensamento alemão e ao ocidental; às religiões cristãs; às formas de vida dos seres humanos, seja no campo familiar, financeiro ou social; comportamentos, valores, tudo aquilo que já tinha sido pensado e refletido pelos filósofos anteriores a ele, e aos seus contemporâneos.
Enfastiado de sua sabedoria, resolve descer da montanha e voltar a viver junto aos homens, divulgando seu pensamento e angariando discípulos, como Jesus; inclusive a forma como o autor escreve  o livro, é uma imitação da Bíblia – a linguagem, a forma de tratamento, escrito em capítulos, a apresentação; e, ao final de cada capítulo, o bordão: “Assim falou  Zaratustra”. Ele menciona que o homem, como se apresenta, já está falido; que Deus não existe mais, já morreu, e que o céu não existe, entre outras reflexões.  Que seria necessário um novo homem, o ‘super-homem’, que não teria todos os valores caros aos ocidentais, que o que se diz crime não seria crime, que cada um é dono de seu nariz e faz o que quer, que as convenções só atrapalham a vida das pessoas, etc...
Vou citar alguns dos pensamentos expostos, pois uma análise mais acurada seria enfadonha, e não é este meu objetivo, e, também seria superficial, o que não gosto; quem se candidatar, leia o livro, e conversamos depois:

“O homem é corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.
O que é de grande valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim; o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um acabamento.
Eu só amo aqueles que sabem viver como que se extinguindo, porque são esses os que atravessam de um para outro lado.
Amo aqueles de grande desprezo, porque são os grandes adoradores, as setas do desejo ansiosas pela outra margem. (...) amo o que vive para conhecer, e que quer conhecer, para que um dia viva o Super-homem, porque assim quer ele sucumbir.”
“Coisa para nos preocupar é a vida humana, e sempre vazia de sentido: um trovão lhe pode ser fatal!”
“Ter toda a gente o direito de aprender a ler é coisa que estropia, não só a letra mas o pensamento.
Noutro tempo o espírito era Deus; depois fez-se homem; agora fez-se populaça.”
“Quanto mais se quer erguer para o alto e para a luz, mais vigorosamente enterra as suas raízes para baixo, para o tenebroso e profundo: para o mal. (...)Quando chego em cima, sempre me encontro só.”
“Vós todos que amais o trabalho furioso e tudo o que é rápido, novo, singular, suportai-vos mal a vós mesmos: a vossa atividade é fuga e desejo de vos esquecerdes de vós mesmos.” (isto em 1883!)
“Por toda parte ressoa a voz dos que pregam a morte, e a terra está cheia de seres a que é mister pregar a morte.
Ou  “a vida eterna” – que para mim é o mesmo – contanto que se vão depressa.”
“A guerra e o valor têm feito mais coisas grandes do que o amor do próximo.  Não foi  a vossa piedade mas a vossa bravura que até hoje salvou os náufragos.”
“Estado chama-se o mais frio de todos os monstros.  Mente também friamente, e eis que mentira rasteira sai da sua boca. “Eu, o Estado, sou o Povo!”
É uma mentira!
(...) Os que armam ciladas ao maior número e chamam a isso um Estado são destruidores; suspendem sobre si uma espada e mil apetites.”
“Onde cessa a solidão principia a praça pública, onde principia a praça pública começa também o ruído dos grandes cômicos e o zumbido das moscas venenosas.(...) O mundo gira em torno dos inventores de valores novos; gira invisivelmente;  mas em torno do mundo giram o povo e a glória: assim “anda o mundo””.
“Os covardes são astutos.”
Sobre a castidade:
“Não vale mais cair nas mãos de um assassino do que nos sonhos de uma mulher ardente?
Se não, olhai para esses homens; os seus olhos o dizem; nada melhor conhecem na terra do que deitar-se com uma mulher.”
“Há demasiado tempo que se ocultavam na mulher um escravo e um tirano.  Por isso a mulher ainda não é capaz de amizade; apenas conhece o amor. (...) A mulher ainda não é capaz de  amizade: as mulheres continuam sendo gatas e pássaros. Ou, melhor, vacas.” (!!!!)
“A mudança de valores é de quem cria. Sempre aquele que cria destrói.”
“O prazer do rebanho é mais antigo que o prazer do Eu. E enquanto a boa consciência se chama rebanho, só a má diz: Eu.”
“Mas eu vos digo: o vosso amor ao próximo é vosso meu amor a vós mesmos.  Fugis de vós em busca do próximo, e quereis converter isso numa virtude; mas eu compreendo o vosso “desinteresse”.  O Tu é mais velho do que Eu; o Tu acha-se santificado, mas o Eu ainda não.  Por isso o homem anda diligente atrás do próximo.”
“O que  procura, facilmente se perde a si mesmo.
Todo o isolamento é um erro.” Assim fala o rebanho.”
“Na mulher tudo é um enigma e tudo tem uma só solução: a prenhez.  O homem é para a mulher um meio; o fim é sempre o filho.  Que é, porém, a mulher para o homem?
O verdadeiro homem quer duas coisas: o perigo e o divertimento. Por isso, quer a mulher, que é o brinquedo mais perigoso . (...) Seja a mulher um brinquedo puro e fino como o diamante, abrilhantado pelas virtudes de um mundo que ainda não existe.”
E, absurdo dos absurdos, o pensamento mais machista que já vi:
“E é preciso que a mulher obedeça e que encontre uma profundidade  para a sua superfície.  A alma da mulher é superfície: móvel e tumultuosa película de águas superficiais.” (!!!!!) E ainda incute a idéia de que se deve bater na mulher! Louco!
Depois Zaratustra volta novamente para o isolamento de sua caverna e suas meditações.
“Deus é uma conjectura.”
“Desde que há homens, o homem tem-se divertido muito pouco: é esse, meus irmãos, o único pecado original.  E, quando aprendemos melhor a divertir-nos, esquecemo-nos melhor de fazer mal aos outros e de inventar dores.”
“Assim me disse um dia o diabo:”Deus também tem o seu inferno: é o seu amor pelos homens.” “Deus morreu: foi  a sua piedade pelos homens que o matou.”
“Nós solitários, construímos o nosso ninho na árvore do futuro; as águias nos trarão no bico o sustento.”
“Todos vós, ó sábios célebres, tendes servido o povo e a superstição do povo, e não a verdade!”
“Há algo invulnerável em mim, qualquer coisa que se não pode enterrar e que faz saltar os rochedos; chama-se a minha vontade.”
“Mas onde quer que encontrasse o ser vivo, ouvi a palavra obediência.  Todo o vivente é obediente.  Eis aqui a segunda coisa; manda-se ao que não sabe obedecer a si mesmo.”
“Onde quer que encontrasse o que é vivo, encontrei a vontade de domínio, até na vontade do que obedece encontrei a vontade de ser senhor.”
“Quando olhei em torno de mim reparei que o tempo era o meu único contemporâneo”.
“Que os homens não são iguais: assim fala a justiça.”

Menciona várias vezes sobre o eterno retorno, que tudo é um círculo vicioso, que vai e volta. Que os homens são humanos, demasiado humanos.
Ao final do livro, Zaratustra encontra os homens que lhe pediam socorro, e enviou-os à sua caverna no cimo da montanha: os homens superiores, que o admiravam e queriam sua proteção e sua sabedoria : o rei da direita e o da esquerda, o papa, o sinistro feiticeiro, o mendigo voluntário, o viandante e a sombra, o velho adivinho, o consciencioso e o homem mais feio que, ao descobrirem que não tinham mais um deus para adorar, pois que tinha morrido, resolveram adorar o jumento!
Transparece: racismo, machismo, idéia de raça superior, entre outros pensamentos.



                                      Friedrich Nietzsche
(Imagens: http://www.google.com.br/search?q=assim+falou+zaratustra&oe=utf-8&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a&um=1&ie=UTF-8&tbm=isch&source=og&sa=N&hl=pt-BR&tab=wi&biw=1245&bih=534)







domingo, 14 de agosto de 2011

Meu pai

     Escrever a respeito de meu pai é um misto de alegria e prazer.
     Ele foi a primeira pessoa, junto com minha mãe, a me passar a noção de força, proteção, segurança, autoridade, carinho, amor, desprendimento, confiança, fé, bom humor, responsabilidade, auxílio, compreensão, severidade, ética, honestidade,  entre outras características.
   Meu pai nasceu em 1927, 17 de setembro; daqui a alguns dias completará 84 anos bem vividos, como homem do seu tempo.  
    Nasceu na São Borja do começo do século XX, e viu Getúlio Vargas de perto, embora não concordasse com sua forma de agir.
  Viveu a infância na Fazenda do Herval, em São Borja, e, posteriormente, foi para São Luiz Gonzaga, com a família.
    As dificuldades pelas quais passou na vida ajudaram a forjar o homem íntegro que é meu pai; que estudou até o ginásio, o que para a época era um feito,  e aprendeu as lides do comércio com um seu tio, ajudando-o em sua empresa, comprando, vendendo, negociando, o que lhe deu boa experiência.
     Quando chegou a época de servir ao exército, não quis ficar na velha São Luiz, e, juntamente com dois amigos, dirigiram-se à cidade de Canoas, para servir à Força Aérea Brasileira . Conta-nos frequentemente as aventuras dos três matutos, viajando pela primeira vez de trem, numa distância tão grande e, igualmente, longe da família. Segundo relata, foram dois anos na Base Aérea, em Rio Grande, para onde foram designados.  Viviam em uma ilha cerca de 700 homens, e para comprar mantimentos tinham que ir de barco à cidade, o que era outra aventura; foi ali que conheceu os botos, que achava que eram tubarões.
     De seus relatos o que mais o deixa chateado, é que, de tempos em tempos, os aviadores pegavam um recruta e levavam para dar uma volta de avião; quando chegou a vez dele, veio uma ordem superior para cancelar tais vôos; talvez seja o único servidor da FAB que nunca andou de avião. Já o convidei várias vezes com o fim de viajar para algum lugar que queira, de avião, mas diz que agora não quer mais.
     Conheceu minha mãe no culto de inauguração da Igreja Metodista; ela tinha 14 anos e ele 22; entre namoro e noivado foram 3 anos. De casamento eles vão completar, em setembro, 59 anos.
     O lazer dele, durante toda a sua vida ativa, foi a pescaria, coisa que ele fazia de tempos em tempos, com colegas da Prefeitura, que entravam com o caminhão, a garrafa de pinga, que eles bebiam (nunca vi meu pai beber pinga, ele conta que os amigos que bebiam); e ele tinha todo o equipamento de pesca, do barco a todos os tipos de anzóis, redes, panelas e chaleira de ferro, e tudo o mais que um pescador organizado, como ele é, deveria ter. Tanto que a menina curiosa carrega, até hoje, a cicatriz de um anzol que enganchou em seu dedo, e que foi uma dificuldade e uma dor tremenda para tirar.   Tanto ele era organizado, que, brinca, os amigos quando o convidavam, na realidade estavam convidando os equipamentos para a pescaria.  Mas quem relata melhor estes episódios é meu irmão mais velho, no blog dele. Ele foi, dos 3 filhos homens, o que mais foi pescar com pai, desde guri.
     Aposentou-se há já algum tempo, e vive na casa que construiu posteriormente, vendendo a mais velha e indo mais para o centro, desde 1973, com minha mãe.
     Sempre foi um pai responsável: ele que ia à escola buscar os boletins, o que nos enchia de ansiedades e, depois, alegria, pois recebíamos elogios calorosos, que sempre nos incentivou a estudar, e nos incutiu que só o estudo, para quem não nasce em berço de ouro, pode nos levar ao crescimento pessoal, social e financeiro.  Ele tirava os pontos quando tínhamos prova; a tabuada, e se não soubéssemos a matéria, era só nos dar uma olhada que nem precisava dizer - vá estudar mais! Eu conhecia meu pai pelo olhar; que se abrandou com o tempo, pois que crescemos, e este olhar para nós, hoje, é só afeto, uma vez que a responsabilidade de nos criar e educar já vai longe.
     Sempre gostou de andar de terno e gravata, bem asseado e perfumado; nunca o vi sem bigode, o que é uma característica sua desde a juventude.
    Ensinou-nos, junto com a mãe, a encapar os cadernos, engraxar os sapatos, organizar toda a louça antes de lavar - das menos sujas e delicadas, para as mais sujas e engraxadas-; a ser metódicos em tudo, pois sempre foi muito organizado; seu galpão velho, onde guarda as ferramentas e serve como depósito, parece um arquivo de tão organizado; a respeitar os mais velhos e demais pessoas, a ter fé em Deus, a ser honestos, a trabalhar com zelo, a ser responsáveis.  Muito mais teria que falar, mas daí estaria me repetindo.
     Agora que moro longe dele, e não posso estar junto em todas as ocasiões, nem todas as especiais, sinto muita falta dele; que o telefone ajuda a suprir, matando um pouco a saudade.
     Homenageio, desta forma,no dia dos pais, publicamente e para os quatro cantos do mundo, meu pai, um homem íntegro e muito amado por todos nós, seus filhos, netos, e bisnetos.
     Um beijo, meu pai, e um grande abraço do tamanho do mundo!

     
    
    

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Viagens - I



     Andando por este mundão de Deus aprendi a gostar de viajar.  Não recordo qual foi minha primeira viagem, mas puxando pela memória, minhas primeiras visões de viagem são entre Ijuí e Santo Ângelo, quando íamos visitar meus avós paternos que moravam lá.
     Para nós, crianças, era um acontecimento quando, nas férias, o pai avisava que íamos visitar os avós.  Era um tal de arrumar as malas, fazer roupa nova, comprar sapatos, que tinham ficado gastos durante o ano e, principalmente, andar de táxi.  Sentíamo-nos importantes quando sentávamos no banco de trás com minha mãe, o pai no banco da frente e nos dirigíamos à estação rodoviária ou ferroviária.  De ônibus eu não gostava muito, pois nas estradas de chão levantava muita poeira e, quando o ônibus parava - pinga-pinga - entrava um cheiro forte de gasolina, que me dava ânsias.
     De trem Maria Fumaça era uma aventura! Saíamos no começo da tarde, creio, ou do dia, sei lá, e chegávamos geralmente à noite; o legal era ver o trem fazendo as curvas, que a gente enxergava as pontas do mesmo e de um lado a outro; e tinha o balanço do trem, te-tlec, te-tlec, o apito longo nos cruzamentos - piuiuiuiuiuiuiiiiiiiiiiii!  

A Maria fumaça fazendo a curva
                                             

(Imagem: http://www.google.com.br/imgres?q=maria+fuma%C3%A7a+em+curvas&um=1&hl=pt-BR&client=firefox-a&sa=N&rls=org.mozilla:pt-BR:official&biw=1245&bih=541&tbm=isch&tbnid=mr0c-5pu7sLz6M:&imgrefurl=http://www.crocantefotolog.com/archives/2006/08/index.html&docid=qtZRQ0TLVtrohM&w=500&h=375&ei=-QlDTpCfD8qugQfOzb2-CQ&zoom=1&iact=hc&vpx=297&vpy=233&dur=6312&hovh=194&hovw=259&tx=136&ty=116&page=2&tbnh=121&tbnw=155&start=18&ndsp=19&ved=1t:429,r:1,s:18)
   
      A mãe levava um farnel, - afinal, viajava com  quatro crianças e dois adultos,-  que constava de sanduíche de pão caseiro (uma delícia!), com queijo e mortadela, alguma fruta, suco ou leite; às vezes galinha enfarofada (outra maravilha que minha mãe fazia divinamente), o pastel divino que ela fazia, entre outros quitutes. Para nós era uma festa.
     Na minha visão de menina que tudo observava,  achava estranho que os postes corressem à frente dos meus olhos, tão rápidos...aos poucos fui me dando conta que os postes estavam parados e o trem que se movimentava...mas que parecia, parecia!
     Ao chegar em Santo Ângelo, outra vez o status de andar de táxi - como a Angélica, ...- e a chegada na casa de meus avós, que era sempre uma maravilha.
     Meus avós tiveram quinze filhos, sendo que dois faleceram ainda crianças.  Então tinham muitos netos; minha vó nunca se lembrava do meu nome; como o apelido de minha mãe é Mimi, me chamava de Mimizinha; creio que era a forma que ela tinha de memorizar quem era filho de quem.  Mas ela era muito querida, fazia coisas gostosas para comermos; e meu avô,  gostava de contar histórias pra nós, ele era muito engraçado.
     Eu gostava de passear pelo centro de Santo Ângelo; lá tinha uma praça onde criavam jacarés, que a gente olhava com um misto de curiosidade e medo; creio que hoje já não existe mais, suponho que o Ibama deve ter proibido. Mas, proibido ou não, o fato é que encontrei na internet imagens da mesma:

Não sei o nome da praça, mas os jacarés estavam lá.

     Quando cresci, fui conhecer as Ruínas de São Miguel das Missões, que fica coladinho em Santo Ângelo; tem um museu com imagens de esculturas sacras feitas pelos índios, e onde é apresentado o programa som e luz, encenando a saga dos índios com a colonização jesuítica. É muito interessante, vale a pena ver.


Ruínas da Igreja de São Miguel dos 7 povos das Missões.
                                   



Esculturas feitas pelos índios no Museu das Missões.

     A praia fui conhecer quando tinha 15 anos, com minha tia mais nova; fomos na Praia de Ipanema, no rio Guaíba ,em Porto Alegre - minha primeira praia era de rio, não do mar, mas gostei assim mesmo.

Praia de Ipanema, Porto Alegre\RS.

     Aliás, foi a primeira vez que fui a Porto Alegre, fomos de trem Minuano - no RS os meios de transporte têm nome.   Ficamos na casa de uma senhora, parente do marido de outra tia; ela cozinhava muito bem, foi a primeira vez que comi filé de peixe, pois meu pai adorava pescar, mas sempre trazia peixes cheios de espinhas, que era uma dificuldade comer. 

Trem Minuano, transporte de passageiros, com restaurante e poltronas reclinávei

      Praia de mar conheci com 20 anos, quando já trabalhava e era filiada ao SESC; anualmente eles promoviam férias coletivas, o que propiciava para nós, comerciários, 10 dias nas praias do litoral gaúcho, com muito sol, brincadeiras, novas  amizades, paqueras, passeios e muita diversão. Desta vez fui de ônibus, já havia asfalto e o trajeto era feito mais rapidamente.  A política já era de incentivo ao uso de ônibus e automóveis, caminhões, e os trens estavam sendo desativados.  Uma grande burrice do governo ditatorial.  Poderiam fazer as estradas asfaltadas, estimulando o transporte rodoviário, mas deveriam ter mantido e atualizado o ferroviário, aproveitando os trilhos que já estavam instalados. Enfim...
     Fomos para a praia de Araçá; foi a primeira vez que fui em um hotel sem ninguém da minha família,; estava começando meu processo de independência; uma amiga minha, Cecília, que estudava comigo na faculdade, também foi; era uma diversão só.

Praia do Araçá, em Capão da Canoa\RS.

     Posteriormente fui à praia nem sei quantas vezes, daí já casada, com meu marido e filhos.  Preferimos as de Santa Catarina, tendo em vista que a água das praias gaúchas são muito frias, e as do outro estado, mais mornas.  Com o tempo fomos ficando 'experts' no assunto; aprendemos a tomar banho de sol sem nos queimar, cuidando os horários e curtindo o bom do verão. Abandonamos os meios de transporte coletivos, e somente viajamos de carro; com crianças é melhor, a gente pára onde e quando quer, fica mais fácil. Infelizmente as viagens aéreas não estão disponíveis para todos os lugares, então temos que ir correndo os riscos de sermos viajantes automobilísticos neste nosso Brasilzão de guerra.




domingo, 7 de agosto de 2011

Mas a gente ria, ria, ria tanto....e às vezes nem sabíamos o porquê.

     Gosto de recordar da minha adolescência.  Naquele tempo..., nem vou falar a década pois vocês já sabem, e dirão que o alemão está tomando conta da minha cabeça (o Alzheimer...), pois fico me repetindo...  Paciência, a vida é assim mesmo, chega um momento em que a adolescência e a juventude firmam em nossa mente como o melhor dos tempos.  Às vezes é verdade, mas às vezes é uma falácia.
     Nauele tempo havia uma espécie de vestibular para sair do curso primário - 1º ao 5º ano-, para o ginásio, e a gente fazia um exame para ver se estava capacitado, que era o "Exame de admissão ao ginásio".  Como eu estava em uma escola pública, o Grupo Escolar Nossa Senhora da Penha,  já em setembro do 5º ano comecei a acompanhar, à tarde, as aulas no CEAP, para estar no mesmo nível dos alunos de lá. Mas, porém, todavia, contudo, surpresa!!!!! : nós já estávamos à frente,  tínhamos visto toda a matéria que eles estavam estudando.  Pra mim foi fichinha passar por esta primeira grande avaliação.  Muitos alunos que não passavam no exame, não repetiam o 5º ano, mas repetiam o exame no ano seguinte, e perdiam um ano de estudos.


(Imagem: http://www.google.com.br/imgres?q=exame+de+admiss%C3%A3o+ao+gin%C3%A1sio&um=1&hl=pt-BR&client=firefox-a&sa=N&rls=org.mozilla:pt-BR:official&biw=1366&bih=598&tbm=isch&tbnid=zjnQAWtD5sCSuM:&imgrefurl=http://blcamargo.blogspot.com/2009/09/imagens-escola-livro-admissao-ao.html&docid)

      Mas o que ficou depois, durante os 4 anos do ginásio, foram as grandes amizades que fiz com algumas colegas, pois éramos companheiras na aula, nos grupos de pesquisa - a gente ia pra biblioteca, à tarde, fazer pesquisa; fazer ginástica e paquerar, contar piadas, e a gente ria, ria tanto que era uma maravilha!


 (Acima a quadra de esportes onde ganhamos e perdemos muitos jogos, porém nos divertimos muito).

     Tem uma amiga em especial, a Lúcia, de quem sou amiga até hoje, embora moremos em estados diferentes, pois ela permaneceu no RS; lembro-me de nós, entrando nas livrarias pra comprar material, conversando muito e rindo alto; nas aulas de educação física em que ela, mesmo sendo pequenininha, tinha um potente saque nos jogos de voleybol, enquanto que eu, magra e comprida, tinha um saque pífio que, quando chegava até a rede e a transpunha, todo mundo vibrava.  Mas eu adorava jogar.  E nos saltos em altura, a pequerrucha pulava mais que sua altura, e eu...quando alcançava a primeira marca, sem derrubar a vara, ficava muito feliz.  Eu gostava mesmo era de salto em distância, pois caía na areia fofa...mas ríamos muito de tudo isto.


     Assim era a escola à época em que fizemos o ginásio; as fotos foram copiadas dos arquivoss da escola, em seu endereço eletrônico. Ao redor desta quadra nós fazíamos as corridas de 400m, e a professora com o cronômetro; quando saíamos do alcance do olhar dela, caminhávamos ao invés de correr, e conversávamos muito dando risada alto.  E os meninos gostavam de nos ver fazer ginástica, pois o uniforme era um saiotinho, tipo de jogar tênis antigamente, com um calçãozinho por baixo; mas as pernas ficavam de fora, e a gurizada vibrava. 

                                             Era parecido com este nosso uniforme de educação física.
(Imagem:http://manequim.abril.com.br/moda/figurinos-na-tv/figurinostv_301390.shtml?page=page4).

     Muitas vezes saíamos da aula às 11 horas, e ficávamos em uma esquina perto da escola conversando muito, contando piadas, tinha uma amiga, a Maria, que sabia todas, eu só escutava, nunca soube contar piadas.  E ríamos à solta, período bom, sem preocupações na cabeça, só música, os quase-namorados, nossos cantores e atores favoritos, a tv que estava aparecendo, os filmes que passavam no cinema, os bailes a que íamos e dançávamos a noite inteira, sem descansar nem cansar.  Tempo bom, que ficou marcado na memória ...
     Geralmente minha amiga Lúcia sentava à minha frente, em sala de aula, pois era mais baixa, e, quando não podíamos falar, pois os profes estavam explicando matéria, a gente passava bilhetinhos, com comentários sobre aula, colegas, gatinhos, qualquer assunto, e a gente ria, mas ria muito mesmo. Tempos atrás estava fazendo uma faxina nos meus livros e materiais que guardava desde sempre, e encontrei alguns destes bilhetes.  Diverti-me dobrado, lembrando aquela fase gostosa.
     Estes tempos, estava conversando com minha mãe, e ela me disse que também em sua juventude ria muito mais do que agora; e raciocinou que depois vêm os problemas, filhos pra cuidar, casa, trabalho, e a gente acaba esquecendo de rir, embora haja um ditado que diz que rir é o melhor remédio, faz bem para tudo.
     Outro tempo que me lembro em que ria muito, ainda, era quando estava na faculdade de Letras, 18\20 anos.  As colegas eram outras, tínhamos um grupo de 4 amigas pra tudo: trabalhos, pesquisas, auxílios, cuidar se os namorados saíam sem nós, etc...falar dos bailes, de quem víamos nos cinemas, nos passeios, moda, roupas e sapatos, bolsas, e também ríamos pra valer, tanto, que um dia, jamais esquecerei, nosso professor de Linguística, uma das matérias mais difíceis do curso... mandou-nos sair da aula e só voltar quando conseguíssemos parar! quatro moças, na faculdade....que feio! mas era bom, muuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiito bom! e hoje faz parte das boas lembranças.


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A média de livros lidos pelos brasileiros

   

(Imagem:  http://www.google.com.br/imgres?q=pessoa+lendo&um=1&hl=pt-BR&client=firefox-a&sa=N&rls=org.mozilla:pt-BR:official&biw=1366&bih=598&tbm=isch&tbnid=rL6j15Oh1nNLuM:&imgrefurl=http://manuangelo.oxente.org/tag/desenho-colorido/page/11&docid=OT_l0wTMrEJ1YM&w=874&h=756&ei=utI7Tu-TA4y_gQfb1YHPBg&zoom=1&iact=hc&vpx=179&vpy=275&dur=1544&hovh=209&hovw=241&tx=154&ty=147&page=8&tbnh=132&tbnw=153&start=146&ndsp=19&ved=1t:429,r:13,s:146)



     Em informaçõesm obtidas em julho, soube que os brasileiros lêem  em média 4,7 livros por ano, incluídos didáticos. Procurei no site do IBGE e não encontrei nenhuma informação, então passeei na net e, por diversas fontes, obtive estes dados, inclusive na Câmara Brasileira de Livros.  Soube que os europeus lêem de 8 a 10 por ano, assim como alguns outros sulamericanos.
     Por que isto é importante? E qual a razão de retornar sempre sobre este assunto?  Óbvio, povo que lê tem mais conhecimento, não se deixa enganar e tenta conduzir o próprio destino, eliminando políticos indesejáveis, incompetentes e corruptos. Já diziam meus mestres, há algum tempo: "quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê."
     Já ultrapassei de longe esta média brasileira e também a européia, e estou ajudando a elevar a média dos outros....mas é óbvio que o lucro é meu.
     Abaixo mais um comentário sobre leituras:

·        HOSSEINI, Khaled. O CAÇADOR DE PIPAS. Trad. Maria Helena Rouanet. RJ, Nova Fronteira, 2005. 365p.
 
Romance maravilhoso deste escritor afegão, nascido em Cabul, que eu via na lista dos mais lidos de Veja, mas sempre ficava adiando a leitura, pois ignorava sua beleza.
Narra a história de Amir e seu pai;  ele é órfão de mãe; e de  Hassan, seu amigo e irmão; descreve paisagens afegãs, costumes, sentimentos, relações familiares e amizades, problemas políticos, guerra, coragem , covardia, tudo misturado e muito humano.
Linguagem acessível, romance muito bem escrito, história maravilhosa que vale a pena ler.
Excelente! Não só ler por ler, mas o instante maior do prazer de ler algo que vale a pena, repetindo!




     

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Curtindo a lareira.

     Embora tenha nascido no estado mais frio do Brasil, detesto o inverno.  Só os masoquistas ou quem nunca precisou sair para estudar ou trabalhar curtindo chuva fina e gelada, vento minuano cortante na orelha e que penetra nos ossos, pode gostar disto.  Resumindo: turistas.  
     A cidade em que nasci nem é a mais fria do Rio Grande; as cidades da serra gaúcha, como Canela, Gramado e Caxias do Sul dão de 10 a zero nas cidades do Planalto Médio ou noroeste do estado.  Mas lá, quando faz frio, faz frio; e quando faz calor, faz calor de mais de 30 graus, no verão.
     A primeira vez que nevou no RS eu devia ter uns dez anos, creio que foi em 65.  As aulas foram suspensas, minha mãe não nos deixou sair pra fora, com exceção do irmão mais velho, creio que para rachar lenha para o fogão.


 Esta imagem é a mais conhecida daquele dia, por todos os ijuienses da época, do tempo em que o Trem (uma maria fumaça) ainda rodava frequentemente pela cidade, trancando o trânsito na Rua do Comércio.
Esta outra achei no google, e mostra o centro da cidade coberto de neve.  Meu pai foi trabalhar, e tirou fotos na Praça da República (na foto), que estão lá com ele. E, observem: em preto e branco; na minha terra, fotos coloridas surgiram na década de 70.






Imagens:
(http://www.google.com.br/imgres?q=ijui&um=1&hl=pt-BR&client=firefox-a&rls=org.mozilla:pt-BR:official&biw=1366&bih=598&tbm=isch&tbnid=Kxtxuv-KCI-spM:&imgrefurl=http://www.metsul.com/secoes/visualiza.php%253Fcod_subsecao%253D32%2526cod_texto%253D208&docid=XfX8_JUtlyCiBM&w=500&h=366&ei=Y7M5TorCHcqSgQeimrHPBg&zoom=1&iact=hc&vpx=915&vpy=229&dur=2935&hovh=192&hovw=262&tx=165&ty=149&page=5&tbnh=132&tbnw=174&start=75&ndsp=18&ved=1t:429,r:16,s:75).


     E se tem uma coisa que me traz boas recordações é o fogão à lenha, no inverno.  Sentávamos, toda a família, à noite, em roda do fogão quentinho, para ouvir histórias que meu pai contava: meu irmão menor no colo da mãe, o mais velho na cadeira dele, eu na minha, e meu terceiro irmão no colo do pai;  às vezes a gente revezava o colo do pai, mas o da mãe era do nenê.
     Tem alguma coisa que me atrai no fogo; gosto de ficar olhando a chama, quanto maior melhor, mas não se assustem, não tenho o espírito do Nero...
     Quando construímos a casa em que moramos hoje, mesmo sendo numa região não muito fria, mandamos fazer uma lareira, pois pelo menos por uma ou duas semanas, de junho ao fim de agosto, faz frio de lascar.  Hoje é um dia destes, então após cumprir minha agenda, cheguei em casa e tentei acender o fogo, porém a lenha estava úmida.  Chorou, chorou que nem viúva, como dizem os gaúchos, mas acabou pegando fogo.  Minha filha disse - que graça tem ficar olhando o fogo?  este filme é chato... já não se fazem filhos como antigamente!   ou já não se contam histórias ao redor do fogo, afinal, temos livros, revistas, tv, computador, e pouco tempo para contar histórias.  Como já falei em outro post, a oralidade nos acompanhou durante a infância, visto que a tv só apareceu mais tarde. 
     Vejo no noticiário que está nevando no sul, inclusive no sul do Paraná; este ano é uma exceção.  Onde está o aquecimento global, num frio destes? 
Nem minha casa aquece toda, somente a sala onde está a lareira.

 
     
    
       O fogo de longe...
     

e de perto...






Imagens de Athena.



     A outra vez que nevou em minha cidade, que me lembro foi em 1975.  Daí eu já era moça, trabalhava e estudava e já conhecia meu namorado, atual marido.  O fogo que me interessava era outro...