domingo, 18 de novembro de 2012

O DIREITO À EDUCAÇÃO - UM MANDAMENTO CONSTITUCIONAL - Parte. III


Continuando a publicação de meu trabalho de conclusão do curso de Direito, a terceira parte do mesmo, que virá em conta-gotas, vagarosamente, entremeado de minhas crônicas. A parte de hoje é um tanto extensa, pois se eu cortá-la, ficará difícil de ser compreendida. Paciência.


"1.2.  Histórico
            Antecedendo um breve relato histórico de como vem ocorrendo o processo educacional do povo brasileiro, considera-se prudente tomar conhecimento das reflexões a seguir, de nosso maior jurista, Pontes de Miranda:
“O Estado tardou em reconhecer as vantagens da instrução e educação do povo.  Desconheceu, durante séculos, que somente se pode aumentar o valor do Estado, do país, aumentando-se o valor dos indivíduos.  Ainda hoje, há os que, dirigentes de povos, acham prudente a ignorância do povo.  Tal como tardaram em descobrir que a escravidão era o trabalho menos econômico e que dos Estados sem liberdades para os seus nacionais os outros Estados são os senhores.” (...)“O Estado contemporâneo tem de ser educativo cabe-lhe o cuidado máximo, de acordo com o seu fim valorizador do Homem, no ensino público, principalmente profissional, nas seleções e orientações profissionais, na escolha e no preparo de chefes.  Mas, se elimina a liberdade de pensar, ou a de cátedra, é um monstro. É o Leviathan de Hobbes.” (...)“A força dos povos não está no que eles aprenderam da ciência, água comum que todos bebem, ou quase todos bebem; a força deles está no que a cada momento aumentam à ciência, e visão serena da evolução e da cultura mostra-nos que poucos são os povos capazes disso. Os incapazes tendem a desaparecer, ou se fazem capazes.” (grifos nossos)[1]
            De conformidade com suas assertivas, é conveniente que os dirigentes do Brasil façam de tudo para colocar o país em lugar de realce com relação à educação de seu povo, procurando proporcionar-lhe formas de aquisição de cultura, conhecimentos, saber científico, se quiser situar-se entre os países  destaque quanto ao conhecimento científico, tecnológico, produção, pesquisa e registro do conhecimento.        
            Os dados históricos da educação brasileira, que se seguem, foram extraídos da obra de Paulo Ghiraldelli Jr[2], “História da Educação”.

            Os estudos que a seguir serão apresentados referem-se às formas como os administradores da coisa pública, no Brasil, encararam a educação das múltiplas camadas sociais, nas diversas etapas da vida pública brasileira,  e os reflexos de suas ações, ou não-ações, no desenvolvimento pessoal dos indivíduos que compõem o povo brasileiro, bem como do próprio país.  As consequências da fuga de cientistas brasileiros e outras inteligências do país, com destino a outras nações que incentivem o alcance e divulgação do saber e estimulem a aquisição da cultura, ciência e tecnologia, são funestas. Observe-se:
                        O Brasil da primeira República viu o alvorecer de três correntes pedagógicas no país: a Tradicional, que reunia os intelectuais das Oligarquias e da Igreja; a Nova, que compunha-se da burguesia e classe média; a Libertária,formada por intelectuais dos projetos de Movimentos Sociais populares, do movimento operário e sindicatos.
            Todas enfrentaram ou assimilaram os preceitos da herança pedagógica Jesuítica, responsável pela educação no Brasil por mais de 200 anos.  “O que mostra a incapacidade do pensamento laico em superar a organização da cultura forjada pelo catolicismo no Brasil”, reforça Ghiraldelli.[3]
            Esta pedagogia era a “ratio studiorum”, e pregava disciplina rígida;cultivo da atenção; perseverança nos estudos; hierarquia do corpo discente e era  baseada na obediência e meritocracia.
            A pedagogia de Johann Friedrich Herbart seguia o  modelo da Pedagogia Tradicional,   e manifestava uma  “tendência de psicologizar a educação”, propondo uma teoria da aprendizagem, da mesma forma que princípios do positivismo e muita disciplina.
            Várias são as concepções da Pedagogia Libertária; a que mais ganhou adeptos foi do educador Francisco Ferrer y Guardia, que procurava uma nova ordem sócio-econômica, novo homem e nova sociedade, sem divisão de classes, sem hierarquia burocratizada, sem centralização do poder. No entendimento de Ferrer, “homem livre sobre a terra livre; infância livre e feliz”.  Procurava convívio menino/menina; convívio de diferentes classes sociais, o que resultaria em uma Escola Moderna, com “ensino de base racional e científica”.  
            O  Movimento da Escola Nova chegou ao Brasil  com métodos ativos de ensino-aprendizagem, objetivando conceder importância à liberdade das  crianças; buscar e incentivar os interesses do educando, o trabalho em grupo, trabalhos manuais; colocar a criança, não mais o professor, no centro do processo educacional. Tal movimento resulta do trabalho de John Dewey, filósofo da educação nos EUA.
            No lastro do entendimento de Ghiraldellli, nos anos 20 do século passado, ocorreram diversas reformas educacionais em vários estados brasileiros, as quais foram promovidas baseadas nos princípios da Pedagogia Nova.
            Segundo relato deste autor, as poucas escolas públicas existentes nas cidades eram frequentadas pelos filhos das famílias de classe média, no período da primeira e segunda Repúblicas.   Os ricos contratavam preceptores,  que ministravam aos filhos o ensino em casa, ou os mandavam a alguns poucos colégios particulares, leigos ou religiosos,  em regime de internato ou semi-internato. E esclarece:
 “Em todo o vasto interior do país havia algumas precárias escolinhas rurais, em cuja maioria trabalhavam professores sem qualquer formação profissional, que atendiam as populações dispersas em imensas áreas: eram as substitutas das antigas aulas, instituídas pelas reformas pombalinas, após a expulsão dos jesuítas, em 1763”. (...) “com a Reforma Luiz Alves Rocha Vaz, pela primeira vez se procurou estabelecer uma legislação que permitisse ao Governo Federal uma ação conjunta com os Estados da Federação no sentido do atendimento do ensino primário.” [4]
            Há a informação que, “no campo educacional, as atitudes do governo Vargas caminharam sob os mesmos parâmetros táticos de sua política trabalhista.  Desenvolveu-se um esforço governamental no sentido de controlar as duas grandes tendências do pensamento educacional esboçado nos anos 20.  De um lado estavam as diversas facções conservadoras,  e que desaprovaram alterações qualitativas modernizantes nas escolas, e não concordavam com a democratização das oportunidades educacionais a toda a população.  De outro lado estavam os grupos influenciados pelos chamados “profissionais da educação”, os liberais, que desejavam mudanças qualitativas e quantitativas na rede de ensino público.”[5]  Nesta época, Vargas  não tinha uma proposta educacional e esperava que os intelectuais que estavam na IV Conferência Nacional de Educação elaborassem “o sentido pedagógico da Revolução.” Ainda, Francisco Campos, Ministro da Educação de Vargas, promoveu uma reforma em todo o território nacional; criou o Conselho Nacional de Educação; diretrizes para o ensino superior; organizou o ensino secundário; regulamentou a profissão de contador; estruturou o ensino comercial, etc... E ignorou a escola primária."



[1] Pontes de Miranda. Comentários à Constituição de 1967. Tomo VI, 2ª ed, revista. SP: Ed. Revista dos Tribunais, 1974, p. 333/358 e 365.
7 História da Educação. SP: Cortez, 2001, 2ª ed. revista e atualizada. (Coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor).

8 Ghiraldelli, op. cit. p. 20 e segs.

[4] Ghiraldelli, op.cit.p.26/27.
[5] Ghiraldelli, op.cit. p.41 e segs.

domingo, 11 de novembro de 2012

Feira do livro e novas leituras.


 































Após marchas e contramarchas na minha vida este ano, consegui ir à praça central de minha cidade (que fica a duas quadras do meu apê), levar minha filha à Feira do Livro, e levar-me também.  Parece-me que Ijuí agora tem algumas livrarias; em meu afã diário não tive tempo de procurar, ou não quis, o que dá no mesmo.  Ainda tenho alguns livros emprestados pra ler, minha Coleção do Pensamento com 60 volumes, mais 4 de sua História do Pensamento me aguardam, fora outras coleções, que só olho como pesquisa.  Teoricamente, tenho livros para um bom tempo.
Mas minha filha queria ir à feira, a Professora de Português mandou, ela estava curiosa por achar uns títulos e eu para ver novidades.
Fomos ontem pela manhã, num sol já escaldante primaveril,  às 10:00h; claro que não se compara as barraquinhas daqui com a Feira do Livro de Porto Alegre, por exemplo, que também está ocorrendo este mês; lá é uma das maiores do Brasil; aqui é proporcional ao tamanho da cidade.
Mas tinha algumas novidades, alguns livros mencionados nas listas de mais vendidos e mais lidos, sebos, literatura religiosa de vários lados, teve a presença do Iotti, durante a semana  com seu impagável Radicci, que todos amamos; não pudemos ir, infelizmente.  Mas minha filha conseguiu o autógrafo de um jornalista daqui que escreveu um livro sobre nossa história e tinha ido fazer palestra em sua sala de aula. Já foi uma vitória e seu primeiro autógrafo!
Comprei 5 livros, que comprar livros não é todo dia; saí feliz, quase saltitando; minha filha também encontrou o que procurava.  Fizemos nosso investimento em cultura, com corações leves.
De ontem pra hoje já li o primeiro, o qual vou comentar abaixo; dei uma olhada no livro de história da minha filha e comecei um livro sobre a história da guerra dos farrapos, aqui no RS; tá rendendo.
Acompanhem-me, se quiserem; já que vocês me lêem, aguentem...
O primeiro livro que li é de Martha Medeiros, cronista e escritora gaúcha um pouco mais nova que eu; já havia lido algumas crônicas suas na Zero Hora , e tinha lido alguns comentários sobre seus livros.  Paralelamente à Lya Luft, uma das minhas escritoras preferidas, as crônicas de Martha são por demais leves, como li em um comentário,  parece estar sentada ao meu lado num bate-papo informal.  "Feliz por nada" parece uma conversa, parece que ela veio tomar o chá da tarde comigo e me contou umas histórias. Simples assim, divertido assim, sem grandes fórmulas, assim.  É um  livro que se lê numa sentada, não exige esforço, linguagem acessível, não simplista; assuntos do cotidiano, como cabe em uma crônica.  Confesso que esperava um pouco mais, mas quem manda ser muito exigente...talvez lendo outros de seus livros a conheça melhor.
Mas valeu o investimento.  Após ler Umberto Eco, precisava descansar minha cabeça com um texto leve.
Quem não gosta de texto-cabeça, mas de leituras digestivas, que nos ajudem a esquecer as contas a pagar por algumas horas, e dar umas boas risadas, indico, e, como aparece com frequência no 'facebook', 'ficadica'.
Nos próximos posts comentarei os outros livros que adquiri, e o livro de história da minha filha.