domingo, 29 de junho de 2014

Falando sobre política

Nunca fui filiada a partido político. Por enquanto, também não pretendo fazê-lo, pois ando amadurecendo algumas idéias.
Mas isto não impede que eu me interesse pelo assunto.  Nas minhas variadas leituras, e totalmente descoordenadas, pois vou lendo ao sabor do vento, e a leitura que encontro;  na última feira do livro havia adquirido o primeiro volume do livro "Getúlio- 1882-1930- Dos anos de formação à conquista do poder", do escritor e jornalista Lira Neto.  Primeiro, gostei de saber que o escritor é nordestino, natural de Fortaleza/CE, e é um jovem (nasceu em 1963, para mim é jovem), o que o torna 'isento', pois se fosse um gaúcho o escritor correria o risco de tecer loas indevidas, o que muitas vezes ocorre.
A minha insaciável curiosidade por entender meu país - que já mencionei outras vezes - levou-me por simples curiosidade a encarar estas 630 páginas - que não li de um só fôlego por não me ser possível, tenho outras atividades.   Mas vale dizer que a escrita de Lira flui, magnetiza, chama para o livro, não nos deixa largá-lo, só o fazendo quando extremamente necessário.
A começar por uma frase de Getúlio Vargas, já no início do livro: "Sou contra biografias". Lira Neto empreendeu um trabalho hercúleo de pesquisa; bebeu direto na fonte do diário de Getúlio Vargas; na Fundação Getúlio Vargas (FGV), organismo de extrema credibilidade; bibliotecas, museus, partidos políticos, bibliografia extensa, correspondência particular e pública do governo brasileiro e dos governos estaduais e estrangeiros, assim como de amigos e correligionários; documentos obtidos no Brasil e no exterior.  Cortou fundo.
Narra a saga de Getúlio desde o nascimento até o início de seu primeiro governo de âmbito federal, no ano de 1930, após a famosa Revolução de 30.
Expõe a personalidade ambígua de Getúlio Vargas: o que concedia com a mão direita, tomava com a esquerda.  Um político hábil, manhoso, subreptício, enganador, galante, sempre sorrindo e nunca decidindo.
Passei a compreender um pouco mais por que nosso país está como está, ou é como é: o próprio Getúlio comenta que as pessoas que o procuravam enquanto esteve no poder, nunca pediam coisas para o bem de todos, era sempre para o bem próprio.  E o Getúlio concedia tudo o que ele considerava possível, para quem considerava possível e lhe fosse útil ou proveitoso.
Getúlio narra em seu diário que as eleições no Rio Grande do Sul, na época em que Borges de Medeiros foi Presidente do Estado - naquele tempo era Presidente, não era Governador- as eleições sempre eram fraudadas, tanto que Borges permaneceu no poder por mais de 30 anos.  Sempre era 'reeleito', com votos de cabresto, urnas fraudadas, atas falsificadas, etc.
O ex-presidente foi admirador de Mussolini e de Hitler, e tentou impor ao Brasil um governo semelhante ao deles.
Ambíguo ao extremo, ao mesmo tempo em que foi ditador, fechou o Congresso Nacional várias vezes, também criou a legislação trabalhista, sendo sua cria a Consolidação das Leis do Trabalho/CLT, as férias; criou o sistema S - Senai, Senac, Sesc, Senat, Sesi.  Era considerado pelo povo "pai dos pobres".
Narra o livro histórias sobre a família dos Vargas, a começar pelo pai, General Manuel Vargas, feito a facão, general de muitas guerras e brigas gaúchas; seus irmãos também eram de 'faca-na-bota', expressão gaúcha que significa pessoa braba, exaltada, que resolve tudo na briga e não leva desaforo pra casa.  Eram os 'donos' de São Borja, cidade natal de Getúlio.  E a família o acompanha em muitas lutas, políticas ou não, sendo que um de seus irmãos cometeu até assassinato.  Mas não foi preso pois Getúlio, advogado que era, e amigo dos homens do poder de Porto Alegre, conseguiu fazer com que seu irmão se livrasse da pena.  E era assim: qualquer coisa que dava perigo para a família, pulavam a ponte e iam rumo à Argentina, onde ficavam o tempo necessário para que chegasse o esquecimento.
Excelente leitura, impossível comentar ou narrar todo o acontecido.  Quem se interessar pelo assunto, vale a leitura, inclusive do segundo volume, já publicado e que já li, mas que comentarei em outro post.
Excelente para quem se interessa por política para saber como agir. Ou não.







Getúlio: dos anos de formação à conquista do poder (1882-1930)/Lira Neto,- 1ªed. SP:Cia. das Letras, 2012.


quinta-feira, 5 de junho de 2014

Viagens IV - 1ª parte

Quando completamos 20 anos de casados, meu marido e eu decidimos comemorar de forma diferente.  
Como nunca tínhamos ido para o exterior, optamos por conhecer um pedaço da Europa: procuramos uma empresa de pacotes de viagens, preparamos a documentação (achei que fiquei bonita no antigo passaporte), com cara de gente "bem", que naquele tempo, 1998, eram pessoas da classe alta que faziam estas viagens e não nós, reles trabalhadores do meu Brasil, como dizia o Getúlio Vargas.  Desnecessário dizer que o pagamento do pacote de viagem foi feito no modo brasileiro, em 'suaves prestações mensais', que trabalhadores não são de ferro e não têm as burras cheias.
Entusiasmados, fizemos o roteiro: entraríamos por Roma, iríamos para Florença, Veneza, na Itália,  Lucerna, na Suíça, Paris e Londres, de onde retornaríamos.
Viajante de primeira viagem, informei-me sobre a forma de comportamento no exterior, para não cometer gafes; detesto que digam que brasileiros são mal-educados.  De tudo que li, vi que a forma como sempre me comportei estava adequada ao velho mundo, uma vez que meus pais souberam bem me educar em casa, e a escola que freqüentei na adolescência tinha origem na Alemanha (rede sinodal de ensino, da Igreja Luterana), o que nos ensinou sobre disciplina, organização, hierarquia, respeito, visão de mundo, geografia e história,  e tantas outras coisas.
Também informei-me como me vestir - esquecendo-me, ó ingenuidade- que a moda ditada pelo exterior vem parar aqui no Brasil, um pouco tarde, é verdade, mas sempre.  Então, estava adequada.
Iríamos em maio, que não é tão frio - por mais que ache lindas as paisagens de neve, já passei por ela aqui no sul do Brasil, e detesto frio.  Então, fomos na entrada do verão europeu.
Partimos de São Paulo numa tarde chuvosa, passamos por um túnel que ligou o aeroporto ao avião, e, por muito tempo, só tive a certeza de que viajei mesmo por ter chegado lá, pois não senti e não vi a saída do avião.
Se alguém recordar meu outro post, em que comento a primeira viagem de avião, deve lembrar do meu pânico, agora estendido por 12 horas.  Nem recordar que ficaria 12 horas sobre o Oceano Atlântico; nem pensar na eventualidade do avião cair e sermos devorados por peixes enormes, fora o pânico de morrer afogada.  Adotei vários subterfúgios para expelir para longe de minha mente tais pensamentos: levei 2 livros com mais de 500 páginas; assisti o filme disponibilizado pela antiga Varig, que ainda atuava; escutei música nos fones de ouvido, olhei as revistas de bordo, além de, é claro, ter tomado um calmantezinho antes de partir, o que me permitiu cochilar alguns minutos. Além , é óbvio, de me alimentar com as delícias que ainda serviam naquele tempo.  Como não tenho viajado de avião, mas leio sobre, parece-me que reduziram a alimentação a lanchinhos prosaicos.  Novos tempos.
Sempre tive dificuldades, nas aulas de geografia ginasial, de entender o fuso horário, os meridianos, etc; então, saímos às 16 horas de São Paulo, e chegamos às 7 da manhã em Roma, horário local.
Para começar, as pessoas que deveriam estar nos esperando, com aquelas plaquinhas com nossos nomes, lá não se encontravam.  Segurei meu pânico, só olhei para meu marido: cadê o povo?  Pagamos um pacote e nos abandonam num aeroporto internacional, sem saber falar italiano - meu marido fala um italiano castiço, um dialeto do norte da Itália trazido pela família do nonno no século XIX. E agora?



Fontana di Trevi,  Roma, que visitamos nos primeiros dias. Foto da autora, proibida reprodução.