domingo, 6 de dezembro de 2015

A árvore e os frutos: cada um do seu jeito.







 

    Os 5 dedos da mão não são iguais: assim são os filhos.  Esta frase me foi dita uma vez pela minha sogra, em conversa familiar sobre filhos, educação, personalidades. E é uma verdade, sabedoria dos mais antigos.
Relembrando minha infância, tem o meu irmão mais velho, logo depois venho eu, o terceiro e o quarto.
Fisicamente não nos parecemos, quem nos olhasse, os quatro  juntos, sem saber que somos irmãos, não o diriam.  Só nossas arcadas dentárias são semelhantes.
Nossas personalidades também são muito diferentes. Embora tenhamos recebido, teoricamente, a mesma educação familiar, assumimos na vida caminhos diferentes.  Cada um do seu jeito.
Desde a infância, senti-me muito solitária por ser a única menina no meio dos guris.  E, século passado, meninos não brincavam com meninas...brincavam entre si e com os amigos.  Raras vezes curtimos brincadeiras juntos, quando eles deixavam-me participar.
Num dia de saudosismo, relembro infância e adolescência.
Quando tinha uns onze ou doze anos, situação financeira difícil da família, minha mãe, além de todo o serviço da casa, arrumou um extra: para uma litografia (na época assim  era chamada uma gráfica), fazíamos os fechamentos (colagem) de pacotinhos de sementes.  Pagavam pouco mais que nada, mas era um valor pago por cento; quanto mais colássemos, mais ganharíamos; desenvolvemos uma habilidade extrema neste trabalho manual, chegávamos a colar de 500 a mil por dia.  Toda a família - mãe e os três filhos mais velhos- nos envolvíamos nesta atividade para ajudar no orçamento.  Dizíamos "fazer saquinhos". Depois de terminadas as tarefas da escola, e da mãe concluir as atividades domésticas, dedicávamo-nos a isto.
Quando meu irmão mais velho foi estudar em Porto Alegre - chance só dada aos mais velho, os mais novos não a tiveram - continuamos a fazer esta atividade, agora destinando o resultado financeiro a  este irmão que fora em busca de novas oportunidades de estudos.
Quando éramos crianças, outra forma de aumentar a renda que minha mãe utilizou foi produzir seus deliciosos pastéis os quais meu irmão mais velho vendia nos jogos do Esporte Clube São Luís, de nossa cidade.  Para vendê-los, conseguia entrar de graça e, depois de vender os pastéis, assistia ao jogo ...
A mãe também costurava roupas de criança, e mandava-me oferecer nas casas vizinhas...meio envergonhada fui aprendendo, na prática, no rumo, sem orientação nenhuma, técnicas de venda... voltava com os troquinhos que ajudavam a família.
Meu irmão mais velho foi estudar na capital, aproveitar a oportunidade que o governo estava dando com as escolas técnicas.  Era o período da ditadura militar, e o país precisava de técnicos.  Inclusive este período, hoje, pode ser averbado à aposentadoria como tempo de serviço.  A ditadura militar não produziu só coisas ruins.
Todo o dinheiro extra que conseguíamos, mandávamos para ele. Sobreviver na capital não era fácil.
Quando estava no último ano do ginásio, além de fazer o curso de corte e costura que meu pai me obrigara - eu detestava estes trabalhos manuais - fiz o curso de datilografia, que era exigido para qualquer emprego que se procurasse no comércio ou indústria da cidade. Foi o que me deu o primeiro emprego, que me permitiu continuar estudando.
Enquanto isto, meus 3 irmãos só estudavam, sustentados pelo pai e pelos extras familiares.
Meu terceiro irmão também começou a trabalhar logo após terminar o ginásio.  Não era muito afeito aos estudos mas conseguiu cursar um pequeno período da graduação.
O mais novo era muito inteligente, porém tinha uma grave doença mental que atrapalhou sua vida; mesmo assim, conseguiu ser aprovado em vários vestibulares entre os primeiros colocados. Mas nunca conseguiu concluí-los.
O mais velho conseguiu concluir o curso superior depois de muitas dificuldades.
Somos os primeiros da família a concluir curso superior com o próprio esforço e sustento. Isto se chama mérito.  Infelizmente só depois da nossa luta de cidadãs e cidadãos a Constituição Federal de 1988 autorizou que fossem instituídos cursos superiores gratuitos em locais que não fossem grandes centros ou capitais.  Agora o acesso ao estudo está melhor. Por que lutamos, fizemos reuniões e assembléias durante a Constituinte, e enviamos nossas sugestões aos componentes do Congresso Nacional, que as aceitaram e incluíram na Constituição.  Participei de muitas destas reuniões, era professora na época.  É uma vitória do povo, do magistério e estudantes da época, década de 1980. Os que hoje têm acesso a estes estudos, que foram sendo implementados gradativamente, agradeçam a nós, à geração anterior que teve suas lutas e vitórias.  Do seu jeito.
Fisicamente também os filhos são diferentes.  Meu irmão mais velho é "rechonchudinho", assim como o mais novo era.  O terceiro é muito alto e magro, parecido com o pai.  Eu fiquei no meio-termo, nem magra nem gorda.  Mas o gene da obesidade anda se manifestando nos últimos tempos.
Quanto à personalidade e formas de encarar a vida, os quatro são totalmente diferentes e/ou antagônicos.
Meu irmão mais velho é calmo, até certo ponto.  Não mexam com ele.  Politicamente tende para o que se chama, no Brasil, esquerda. Honestíssimo, é uma pessoa que amo e admiro muito.
O terceiro tem o temperamento explosivo, e politicamente está na extrema direita.
O mais novo era um tanto impositivo, mas infelizmente fora prejudicado pela sua doença.  Politicamente era da direita, sem extremos.
Eu creio que ajo da forma que considero mais correta, dentro dos ditames da educação recebida e adquirida. Talvez um pouco impositiva, mas com diálogo.  Quando tenho que tomar decisões que envolvem outras pessoas ou a própria família, procuro argumentos e diálogos que sejam racionais.  Mas aprendi a ceder, quando necessário. (O nosso espelho interno sempre é mais benéfico...)   Politicamente, como já falei muitas vezes, sou conservadora.  Sem esquerda nem direita, sem  partido.  Pelo certo e justo, de acordo com meu entendimento.
Assim segue a vida...minha mãe às vezes se pergunta se a mistura deu certo...creio que deu.  Cada um do seu jeito, cidadãos de bem.



Numa destas aprendi datilografia e em muitas delas tirei                                                  meu sustento e da família.



domingo, 22 de novembro de 2015

Casa grande & Senzala - o Brasil de Gilberto Freyre e o atual.


O que mais me intimida em nossos grandes escritores é que, os mais ilustres, os mais cultos, os mais 'viajados', com uma visão do mundo aberta, e em condições de conhecimento e sabedoria em pé de igualdade com os 'estrangeiros', são justamente os filhos da casa grande.
Os da senzala, com raros exemplos, e os brancos pobres, também raros, não tiveram a chance, a oportunidade de, já aos 15 anos, como Freyre,  ler os grandes pensadores da civilização ocidental da antiguidade clássica, nem os de seu tempo, e muito menos poder estudar ao lado de pessoas que se tornaram ilustres no mundo científico, ou ser alunos de outros tantos, em universidades estrangeiras.
Não deixa de ser um orgulho para nós, brasileiros e brasileiras, que pelo menos as pessoas do "andar de cima" tenham tido esta chance e, como ele, pelo que sei, o único brasileiro indicado ao prêmio Nobel.
Ao ler "Casa grande & senzala", livro que Gilberto Freyre escreveu e publicou em 1933 - meu pai já havia nascido, mas minha mãe ainda não- descobre-se por que Fernando Henrique Cardoso, nesta edição comemorativa dos 80 anos da publicação, fala que é um livro perene.
Na década de 70, quando iniciei meu curso de letras, analisâ-mo-lo detidamente, nas aulas de literatura brasileira, quando estudamos o Romance de 30 - não só os romances, mas a bibliografia da época.  Entretanto, naquela época de carências da faculdade, somente tínhamos a cópia "xérox" do livro, e somente de partes que o professor considerava importantes.
Professora, pobre, sem dinheiro, somente agora consegui comprar o exemplar.  E identifiquei-me com as descrições meticulosas de Freyre, tanto quando menciona algumas características dos portugueses (tenho Silva, Trindade, dos Santos, Carvalho, Carneiro, da Fontoura, Almeida de sobrenomes ancestrais), como quando menciona algumas características indígenas quanto dos negros.  Sei que sou o que ele chama de povo "híbrido" ou "transgênico", o resultado das misturas européias, com indígenas americanos e negros/árabes/mouros africanos.
O livro, conhecido no mundo inteiro, assim como seu autor, não precisa de apresentações.
Apenas, por ter modestamente  considerado interessantes, vou destacar alguns excertos.  Quem tiver paciência, assim como tive, de ler suas 573 páginas de texto, mais biobibliografia e outras informações, sinta-se à vontade.

"A mobilidade foi um dos segredos da vitória portuguesa; sem ela, não se explicaria ter um Portugal quase sem gente, um pessoalzinho ralo, insignificante em número - sobejo de quanta epidemia , fome e sobretudo guerra afligiu a Península na Idade Média- conseguido salpicar virilmente do seu resto de sangue e de cultura populações tão diversas e a tão grandes distâncias umas das outras: na Ásia, na África, na América, em numerosas ilhas e arquipélagos.  A escassez de capital-homem, supriram-nas os portugueses com extremos de mobilidade e miscibilidade: dominando espaços enormes e onde quer que pousassem, na África ou na América, emprenhando mulheres e fazendo filhos, em uma atividade genésica que tanto tinha de violentamente instintiva da parte do indivíduo quanto de política, de calculada, de estimulada por evidentes razões econômicas e políticas da parte do Estado." 
" Os indivíduos de valor, guerreiros, administradores, técnicos, eram por sua vez deslocados pela política colonial de Lisboa como peças em um tabuleiro de gamão: da Ásia para a América ou daí para a África, conforme conveniências de momento ou de religião". p.70

Muitas outras citações poderia fazer. Considerei esta, no meu entendimento, uma síntese do que o autor expôs, posteriormente, em seu livro.

E como estou muito atarefada, sugiro que quem ainda não o leu, faça-o.  É uma ótima forma de compreender a formação populacional, a cultura, a alimentação, as doenças, a personalidade dos brasileiros.



segunda-feira, 24 de agosto de 2015

37 anos de Magistério - e a dignidade da pessoa humana?





Ensinando a amar a leitura, literatura, alto conhecimento


Ao concluir a faculdade de Letras, sentia-me insegura para ser professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Eu tinha 22 anos, fizera um pequeno estágio NÃO REMUNERADO, e não tinha, a meu ver, condições de lecionar.  Meus professores da FAFI disseram literalmente: " Não estamos aqui para ensiná-los a dar aulas, isto vocês se virem para aprender.  Estamos aqui para ensiná-los a pensar" - a pensar como eles, época da ditadura, professores esquerdistas.  Alguns, após a aula, iam dormir no quartel.
Desde os 16 anos eu trabalhava durante o dia - 8 horas - e estudava à noite.  Creio que já falei sobre isto. Pobre, não tinha situação financeira que me permitisse só estudar, e meus pais também não tinham esta disponibilidade de recursos.  Trabalhei como secretária de um advogado, e, depois em uma Companhia de seguros; posteriormente, secretária em uma empresa de revenda de tratores e implementos agrícolas.  Então, não tive como fazer o curso Normal, que ensina a lecionar.  Fiz o Curso Técnico de Contabilidade, e o Curso de Letras, que era o mais perto do que eu queria - Jornalismo.  Porém, este último só tinha em Santa Maria ou Porto Alegre o que, por motivos óbvios, não me permitia cursá-lo.
Era 1977.  Casei no último dia do ano.  Fomos morar em outra cidade, perdi meu emprego.  Procurei em várias empresas para trabalhar no que eu mais entendia, mas não consegui.  E surgiu a oportunidade para lecionar em uma escola particular e numa pública - ambas sempre carentes de profissionais. Criei coragem e fui me candidatar.  As duas vagas eu preenchi.
Desnecessário dizer da minha angústia nos primeiros tempos, pois desconhecia a burocracia que os professores têm que dominar, além de seus conteúdos.  Precisei aprender a lidar com cadernos de chamada e suas peculiaridades, reuniões pedagógicas com a Supervisora Pedagógica.  Reuniões de área, com os colegas de Língua Portuguesa.  Reuniões da Diretoria da Escola e Supervisão Escolar com todos os professores.  Distribuição de turmas, horários, etc, etc, etc Atividades extra-classe, sem remuneração, provas, boletins, atendimento aos pais, e assim vai.
Mas o que mais me angustiava eram as aulas.
Tive a sorte grande de ter duas colegas maravilhosas - Maria Mercedes Cavalheiro e Ilca Laskoski.  Ambas praticamente me ensinaram a preparar aulas, o preenchimento correto dos cadernos, a escolher textos, a preparar provas.  Devo isto a elas, e reconhecerei por toda minha vida.  Como sempre tive facilidade para aprender, e aliado aos conhecimentos teóricos da faculdade, tornei-me uma ótima professora, sem modéstia nenhuma.  Resultado obtido do trabalho a três.
Durante dois anos trabalhei nas duas escolas: na particular, fiquei até o fim da licença-gestante de minha primeira filha.  Na escola pública, como contratada até o nascimento de meu segundo filho, oportunidade em que fiz concurso e passei a ser professora efetiva concursada.
Desde 1978 eu luto junto com meus colegas de profissão pelo que eles chamam de  "valorização do magistério".  Eu cansei de ouvir esta expressão.  Nossos salários, desde aquele tempo, são os piores possíveis.  Para 20 horas semanais, o que se entende por meio turno, um professor ganha pouco mais do que o salário mínimo brasileiro.
Na década de 80 tivemos a implantação do plano de carreira do magistério estadual.  Até ali, os professores eram contratados por indicação; se tivessem divergência política com a direção da escola - que era escolhida por acordo político - o professor era demitido.  Era um troca-troca de professores infernal.  Então os professores, junto com o poder público - Legislativo e Executivo- implantaram um plano de carreira. E os professores, a partir de 1988, com a Constituição Cidadã, somente deveriam ser admitidos por concurso público, para evitar as perseguições políticas.
Neste plano de carreira, os mestres, no decorrer do tempo, e de acordo com sua capacitação por estudos, devidamente comprovada através de cursos universitários, passa  do nível 1 até o 6, com as seguintes características, numa Progressão vertical:  
    N1 – Ensino Médio                                                                                               
    N2 – Ensino Médio com estudos adicionais
    N3 – Licenciatura Curta
    N4 – Licenciatura Curta com estudos adicionais
    N5 – Licenciatura Plena
    N6 – Pós-Graduação.
Também os professores são submetidos às Classes, que vão da "A," a "F", assim:
Progressão horizontal: Se dá através do sistema de promoções de classes (A, B, C, D, E e F), tanto por antiguidade, como merecimento, todas definidas por um percentual de 10% sobre o valor da Classe A. A avaliação é periódica, e valoriza a formação permanente através de cursos de aperfeiçoamento e atualização.
 Quando ingressei no magistério, entrei na classe A, nível 3. Depois de cursar a Licenciatura Plena - já com dois filhos pequenos, morando em uma cidade distante 40km da faculdade, consegui ser promovida para o nível 5.  Depois de alguns anos, não sem dificuldade - NUMA FACULDADE PARTICULAR, SEM NINGUÉM QUE BANCASSE MEUS ESTUDOS - concluí o Curso de Pós-graduação, conseguindo atingir o nível 6. 
Neste meio-tempo, fui lecionando para alunos de ensino fundamental, a partir da 5ª série, e para alunos de ensino médio.
Tornei-me, ao lado dos meus colegas, uma lutadora. Filiei-me ao sindicato dos professores estaduais gaúchos, o CPERS/SINDICATO. 
Nossa luta nunca foi sossegada.
Apesar do plano de carreira, nossos salários sempre foram muito baixos, aviltados mesmo.  Comparando com a pessoa que eu pagava para cuidar de minha casa e meus filhos enquanto eu trabalhava, quase tudo que eu ganhava ia para ela, se não considerasse o pagamento do INSS.  Mas com carteira assinada, eu ficava no déficit.
Por que não mudei de profissão, como muitos me diziam?
As pessoas que sugerem a um professor que mude de profissão nunca entraram numa sala de aula repleta de pessoinhas que  aguardam ansiosamente, com rostos curiosos por saber de que vais falar. 
Desconhecem o prazer que é quando um aluno diz "agora entendi, professora", e fica radiante diante de sua evolução e aquisição de conhecimento. Não conhece o brilho dos olhos dos alunos pelo prazer de aprender.
Desconhecem o que é adquirir o conhecimento, através do estudo, repassar o mesmo aos alunos, e instigá-los a buscar mais, não ficar somente com aquilo que é passado na escola.
Nunca vi alguém dizer a um médico, advogado, engenheiro, banqueiro, empresário, odontólogo, e profissionais de outras áreas do conhecimento: "Não está satisfeito? Procura outra profissão."
O que vi, durante o período em que me dediquei ao magistério: alunos que entravam no começo do ano com muitas dificuldades de escrita, vocabulário, conhecimentos gerais, temas da atualidade; desconhecimento da literatura, tanto brasileira quanto estrangeira; desconhecimento de fatos históricos, que muitas vezes são narradas literariamente; com dificuldades de leitura e compreensão de textos simples, os quais, a todos eles, dediquei-me com vontade, lucidez, persistência, mania de perfeição, alegria e vontade de vê-los melhor, no fim do ano, do que entraram.  Ensinei-lhes o que é o conto, o prazer da poesia, da leitura em voz alta, da escrita nos vários estilos adequados às séries, a conhecerem o romance, e os vários estilos e autores.  E quando chegava o fim de ano, pegando uma redação dos primeiros dias e uma dos últimos - eu era louca, fazia uma redação por semana em cada turma - dava prazer comparar e verificar a evolução. E o Brasil precisa de professores. Já pensaram quando todos abandonarem a profissão?
Mas... por que falo tudo isto?
Por que durante todo o tempo em que fui professora, tive que brigar com os governadores do Rio Grande do Sul.  Todos, sem exceção, desde 1978, achataram e achacaram nossos vencimentos, considerando-nos profissionais de segunda classe, se comparados com mestres de outros países.  Sempre estivemos correndo atrás da máquina, fazendo reivindicações, greve, viajando do interior do Rio Grande a Porto Alegre para bater às portas do Palácio Piratini, esmolando aumento. E esmolando a construção, manutenção de escolas; a criação de bibliotecas, laboratórios, quadras esportivas, nem se fala em auditórios. E merenda escolar, pois são alunos de escola pública, a grande maioria pobres.
Hoje, não esmolamos aumento, nem isto. Muito menos a manutenção da escola.
Aposentados, ao lado dos que estão na ativa, mendigamos o simples pagamento dos vencimentos, o que, muitas vezes, com vários governadores, tivemos que correr atrás. E muitos nos agrediram, dizendo que o que pesa na folha de pagamento são os aposentados.  Depois de tantos anos dedicados ao afã de ensinar, somos considerados pesos! Muitos de nós, com idade avançada, com diversas doenças que precisam ser tratadas, atendidas, vêem-se à mercê de governadores inescrupulosos que, não duvidamos, teriam vontade de liquidar-nos para não ter que nos pagar.
 Mas o atual governador conseguiu superar os demais: além de parcelar os vencimentos, está ameaçando não pagar.  É o cúmulo do ABUSO DE PODER E DE AUTORIDADE.  Os professores e os funcionários públicos trabalharem e não receberem seus vencimentos, que são considerados ALIMENTOS! 
É UM DESRESPEITO À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, insculpido na nossa Constituição Federal.
O presente texto, além de repudiar a decisão do governador Sartori, é uma DENÚNCIA sobre o que governadores incompetentes administrativamente vêm fazendo com o Magistério Estadual do Rio Grande do Sul, no decorrer do tempo. E descumprindo, reiteradamente, o que é de sua competência como Poder Executivo Estadual, ou seja, manter os percentuais legais para a educação, incluindo neste percentual o pagamento dos vencimentos dos professores- nem se fala em cumprir Lei Federal sobre o Piso do Magistério- e a manutenção das escolas.
O orçamento do Estado está comprometido?  Quando a pessoa adere a funções políticas, sabe que vai ter que dar seus pulinhos para resolver os problemas do Estado.  Já dizia   um ditado popular muito antigo: quem não tem competência, não se estabeleça.



terça-feira, 18 de agosto de 2015

Vamos transformar o Brasil em uma grande biblioteca?













Tenho andado ocupada, muitos afazeres.
Conversando com meu irmão sobre as últimas leituras nossas, ratos de biblioteca, fiquei curiosa para atualizar a média de livros lidos pelos brasileiros.  Creio que meus últimos dados foram de 2011; os últimos que encontrei foram de 2014, e suponho serem verdadeiros, no link: http://webjornalunesp.com/2014/10/06/brasileiro-le-menos-que-seus-vizos-sul-americanos/ acesso em 14/8/15. título: "Brasileiro lê menos que seus vizinhos sul-americanos".
Fiquei muito triste, pois os dados que eu tinha, de 2011, eram de 4,7 livros lidos por brasileiro/ano, e a pesquisa mostra, com dados de 2012, que caiu para 4 livros/ano/brasileiro.
 Está faltando cultura familiar para desenvolver o hábito nas crianças e adolescentes; se os pais, avós, tios, amigos não lêem, as crianças não têm um exemplo em que se espelhar.  Quem é professor, pai ou mãe,  sabe que as crianças imitam, desde tenra idade, os atos de seus pais ou das pessoas que as cuidam.  Seja na alimentação - como vão gostar de frutas se não lhes são oferecidas desde pequenos? E legumes, verduras, e leituras?  Ler para as crianças além de aproximar os pais dos filhos, cria uma atmosfera de cumplicidade, amizade, proteção e amor. E divide-se cultura, conhecimento, capacidades, vontade, inteligência. Sendo o conhecimento de fundamental importância para o desenvolvimento mental, espiritual, político, profissional e social do cidadão.
Adquire-se hábitos saudáveis.
Esta pesquisa, mencionada acima, revela que os espanhóis lêem 10 livros/ano, sendo que 10% da população revela-se não leitora.
Os argentinos lêem em média 4,6 livros/ano e os chilenos 5,4.
Também revela tal pesquisa que no Brasil 50% da população consultada se declarou não leitora.  Isto é trágico! Como um país quer ser considerado desenvolvido se tem um povo inculto, ignorante?
Como criar cientistas, literatos, conseguir um prêmio Nobel em qualquer área? Como termos profissionais de alto nível em qualquer setor do conhecimento, se as pessoas consideram que ler não é necessário? Perguntas que devemos fazer-nos diariamente, um mea-culpa da nossa influência  sobre nossos familiares mais chegados, que estiveram ou estão sob nossa responsabilidade educacional e cultural.
Eu fiz minha parte como mãe e professora, continuo fazendo como avó e por este blog. Meus 3 filhos amam ler, e meus netos já estão a caminho, na pré-alfabetização.  Recebem livros de mim e de seus pais desde os livros para banho/bebê.
Será que hoje, alguém me ouve?
Por curiosidade, vou ver quantos livros li ano passado. Já volto
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Conferindo minhas leituras relatadas do ano passado, o saldo foi de 15 livros lidos - história, literatura, política, romance, sem contar os que esqueci de anotar, os técnicos, as revistas, jornais e tudo que tem letras e cai em minhas mãos.  E este ano, lidos, já tenho 10 até hoje; até o fim do ano, veremos quanto dá. De longe, deixo os espanhóis para trás e todos os demais sul-americanos mencionados na pesquisa.
Vamos ler?

Joaquim Nabuco, Minha formação. Martim Claret, Coleção a obra-prima de cada autor, publicação original em 1895; esta que tenho acesso, em 2010.

William Shakespeare, Otelo, o mouro de Veneza, Martin Claret, Coleção a obra-prima de cada autor, publicação original em 1604; esta que tenho em mãos, de 2005.

Honoré de Balzac, A pele de onagro; L & PM ED;  publicação de 1831; esta que tenho, de 2008.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Educação, filosofia, cursos universitários, esquerda, direita, conservador.






Introdução.

Chega um momento da vida da gente em que não é possível se omitir.  A pessoa simples, do povo, pode passar sua vida sem conhecer a literatura brasileira ou mundial; sem conhecer os clássicos, sem ter alta cultura e viver bem.  Suas convicções são poucas, simples e definidas.  Não há interrogações, dúvidas, angústias, ansiedades que só quem lê, procura a Verdade, o que é bom para si e, consequentemente, creia ser bom para toda a humanidade, tem.
Como já dito em outro post, lá no comecinho deste blog, quando criança eu queria ler todos os livros do mundo.  Minha necessidade de conhecimento era tamanha, que minha ingenuidade infantil me permitia este pensamento.
Quando fui para o primeiro ano escolar, alfabetizada em dois meses, começou a minha alegria e, paradoxalmente, a minha angústia.
Como não tinha quem orientasse minhas leituras, fui lendo a esmo.  Ao ler todos os livros da biblioteca da escola em pouco tempo (e não eram muitos, diga-se de passagem), fui conduzida - maravilha das maravilhas - à biblioteca pública municipal pelas mãos do meu pai. Lá, havia uns dois ou três armários, com a "biblioteca para as moças", os quais fui lendo, um a um, até chegar seu final.  Aí comecei a saber, paralelamente aos estudos escolares, que existia uma literatura em outros países.  Conheci alguns escritores ingleses, franceses, alemães, americanos, e assim por diante.
Quando frequentava o ensino técnico (depois segundo grau, hoje ensino médio brasileiro), à medida que nosso professor ia comentando sobre a formação da literatura brasileira - que ia cair no vestibular -, fui lendo-os, concomitantemente às aulas. Nesta época conheci Jorge Amado, Érico Veríssimo, os demais famosos das diversas escolas literárias brasileiras, desde o barroco até o modernismo, 1922.  Tanto que, um dia, em uma aula de história, enquanto o professor falava na frente, eu tinha um livro embaixo da classe;  me empurrava um pouco para trás, e lia; o professor veio, repentinamente, e me perguntou sobre o que ele estava falando.  Claro que eu não soube explicar, e ele mandou-me guardar o livro, para ler depois.  Até hoje tenho dificuldades em história e algumas outras áreas do conhecimento, em virtude deste "vício".
Ao cursar a primeira faculdade, Curso de Letras, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ijuí, que depois passou a chamar-se FIDENE, e hoje é UNIJUÍ, ocorreu algo que afetou minha vida de leitora para sempre. Descubro-o agora, em 2015.
No primeiro semestre do curso tivemos aquelas disciplinas generalistas, que tem em qualquer curso: filosofia, sociologia, antropologia, pesquisa bibliográfica e, como era nos anos 70, se não me engano, organização social e política do Brasil. 1973.
No primeiro dia de aula de filosofia, professor Dinarte Belatto, o Dino (um hippie que se vestia de bata, pantalonas, sandálias, bolsa a tiracolo, cabelão, barba e óculos escuros), fez um risco bem no meio do quadro e nos disse:
- À esquerda deste traço, está tudo o que vocês leram, estudaram, ouviram de seus pais, dos padres, dos pastores, das pessoas da comunidade. Passem uma borracha encima e esqueçam.  Seu pensamento agora está limpo, livre para aprender o que realmente interessa e vale, o saber científico. 
O primeiro autor de quem falou foi Antonio Gramsci. Vieram depois Lenin, Marx, Engel, Trotski, Vigotski, Pavlov, Freud, etc, etc, etc.
Segundo este professor, deveríamos esquecer a religião, a família, os valores sociais e morais que tínhamos ouvido falar até ali.  O que valia, a VERDADE era o que ele pregava em sala de aula.
E não foi só em filosofia: todas as disciplinas seguiam as cartilhas da esquerda comunista mundial.
Como sobreviver?  Como não ser reprovada nas disciplinas, se não tivesse assimilado, introjetado todos os ensinamentos? 
Mas o camaleão muda de cor conforme as necessidades. No Brasil das ditaduras - a militar e a comunista, dentro da faculdade- ou você dá os seus pulinhos, ou não sobrevive.
Meus professores da época da ditadura militar, e início da ditadura de esquerda, me ensinaram a dançar conforme a música, a escrever a resposta que o professor queria ler, a responder conforme o texto.  Ou eu não seria uma professora de português e literatura brasileira.
Não deixei de frequentar minha religião e ter minha fé.  Não coloquei de lado, pessoalmente, os valores que minha família me ensinou.  Balancei quanto a posições políticas, sim.  Nosso país, infelizmente, tem muitas incongruências, e muitas dúvidas ficam em nossa cabeça. Vacilei entre a direita - que meu pai e minha mãe sempre defenderam - e a esquerda, induzida e tentativa de fazer "lavagem cerebral" pelos professores.  Um dia uma amiga esquerdista me posicionou: vocês está encima do muro, é do psdb.  Não sou, o psdb é a esquerda mansa, e o pt é a esquerda revolucionária e raivosa xiita.  No Brasil que tirou a ditadura militar do poder, e uma possível direita, não existe oposição política.  Quem for conservador, não tem onde segurar-se. E eu não tenho nenhuma obrigação de ser filiada, aficcionada ou adepta de qualquer partido político.

Por que digo isto.

Acabei de ler um livro que mexeu com meu orgulho de devoradora de livros.  Mexeu com meus brios.
Descobri - e ainda falta comprovar se é verdade, terei que aprofundar minhas leituras, não acredito em amor à primeira vista - que a esquerda raivosa xiita que prevalece EM TODAS AS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS, a INTELIGENTZIA, a nata da nata da intelectualidade brasileira, sempre omitiu dos alunos a alusão a autores que não rezassem pelas suas cartilhas.  Não deram aos seus alunos o poder se decidir para que lado ir, ter o livre arbítrio, mesclar suas vidas, seus anseios, seu meio social, sua cultura, religião e valores com o conhecimento de outros autores que não os da esquerda mundial.  É como se não existissem.  Quando não se sabe de sua existência, não se lê, e, tendo só um lado dos fatos da vida, da história, da cultura e do conhecimento, não se pode decidir com tranquilidade, razão e consciência de que lado eu quero ficar.  Só existe um lado.
Conheci, agora pela mão do meu filho, jornalista por formação, um autor, um pensador de direita, um conservador, que - pasmem! - existe e escreve há muitos anos.  Era professor universitário.  Mas a grande mídia, as editoras, as universidades, nunca mencionaram seu nome.  Tenho 60 anos, fiz três graduações e um curso de pós-graduação, em duas faculdades diferentes, uma do Rio Grande do Sul, e outra do Paraná, e NUNCA, nenhum professor mencionou seu nome.

OLAVO DE CARVALHO, ex-esquerdista que acordou e viu que a coisa não vai bem quando existe só um lado da moeda, está abrindo meus olhos.  E um pouco do que escrevi, CORAJOSAMENTE, acima, e no título deste post, embora já tenha percebido anteriormente  muito do que ele diz, mas não tenha encontrado eco, foi através do seu livro "o mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", Editora Record (parabéns pela ousadia!), 2014, 613 páginas. Páginas esta que li em menos de um mês (demorei muito? leio com calma, sublinhando, e tenho outras atividades).
Só para ter uma idéia, um excerto sobre o que ele fala a respeito do conhecimento,  da busca da verdade, do povo brasileiro, da (in)cultura brasileira:
"Desejo de conhecer. (p.37):
"É natural no ser humano o desejo de conhecer." Quando li pela primeira vez esta sentença inicial da Metafísica de Aristóteles, mais de quarenta anos atrás, ela me pareceu um grosso exagero.  Afinal, por toda parte onde olhasse - na escola, em família, nas ruas, em clubes ou igrejas - eu me via cercado de pessoas que não queriam conhecer coisíssima alguma, que estavam perfeitamente satisfeitas com suas idéias toscas sobre todos os assuntos, e que julgavam um acinte a mera sugestão de que se soubessem um pouco mais a respeito suas opiniões seriam melhores.
Precisei viajar um bocado pelo mundo para me dar conta de que Aristóteles se referia à natureza humana em geral e não à cabeça dos brasileiros.  De fato, o traço mais conspícuo da mente dos nossos compatriotas era o desprezo soberano pelo conhecimento, acompanhado de um neurótico temor reverencial aos seus símbolos exteriores: diplomas, cargos, espaço na mídia.(...) Até mesmo professores universitários, uma raça que no Brasil é imune a tentações cognitivas, mostravam querer aprender alguma coisa.
Aristóteles tinha razão: o desejo de conhecer é inato.  O Brasil é que havia falhado em desenvolver nos seus filhos a consciência da natureza humana, preferindo substituí-la por um arremedo grotesco de sabedoria infusa."
"O poder de conhecer. (p.38 e seguintes):
"Experimentai de tudo, e ficai com o que é bom", aconselha o apóstolo. (...) "Veritas filia temporis", dizia São Tomás de Aquino: a verdade é filha do tempo. (...) O aprendizado é impossível sem o direito de errar e sem uma longa tolerância para com o estado de dúvida. (...) Infelizmente, a classe intelectual está repleta de indivíduos que não conhecem, da inteligência, senão seu aparato de meios - a lógica, a memória, os sentimentos (...) mas não têm a menor idéia do que seja a inteligência enquanto tal, a inteligência enquanto poder de conhecer o real."
"Somente aquele que é senhor de si é livre (...)"
"Nossa ciência social, atada com cabresto marxista e cega às realidades psicológicas mais óbvias da nossa vida diária, jamais se deu conta da imensa tragédia vocacional brasileira, que condena milhões de pessoas a viver como animaizinhos, entre a dor inevitável e o prazer impossível."
"Com relação ao segundo ponto, isto é, à situação atual da cultura brasileira, o que é preciso enfatizar é o seguinte:
1) Em quinhentos anos de existência, a cultura deste país não deu ao mundo um único registro de experiência cognitiva originária. (...) Toda nossa "produção cultural" consiste apenas de prolongamentos e ecos de registros absorvidos de culturas estrangeiras. (...) toda a história da nossa cultura é a do eco de um eco, da sombra de uma sombra. Todos sabemos disso e temos vergonha disso. (...)
3) Considerando-se nossos cinco séculos de história, a extensão física e o volume populacional deste país, a nulidade da nossa contribuição espiritual chega a ser um fenômeno espantoso, sem paralelo na história do mundo."
"Língua, religião e alta cultura são os únicos componentes de uma nação que podem sobreviver quando ela chega ao término da sua duração histórica."
"A origem da burrice nacional. (p.67 e seguintes):
"Repetidamente um fenômeno tem chamado a atenção de professores estrangeiros que vêm lecionar no Brasil: por que nossas crianças estão entre as mais inteligentes do mundo e nossos universitários entre os mais burros?  Como é possível que um ser humano dotado se transforme, decorridos quinze anos, num oligofrênico incapaz de montar uma frase com sujeito e verbo?"

Voltarei a comentar o livro.  Ele é extenso, profundo, provocativo, esclarecedor, insinuante.  Falarei do genocídio cultural.  Me aguardem.
Meu irmão, duvido que tenhas coragem de lê-lo, embora me tenhas pedido emprestado.  Também duvido que minha prima e minha afilhada tenham coragem de fazê-lo.  É muito perigoso.





sábado, 30 de maio de 2015

Em meio à vida, leituras.






     Entremeio ao cotidiano, leituras. Senão a vida fica por demais chata, todos temos que ter nossas fugas.
     Meus blogtores (lembram? - neologismo que inventei que mistura leitores com blog), inteirei-me das seguintes obras:

1. "A UTOPIA", de Thomas More, Martin Claret, A obra prima de cada autor, 2012.
 Há tempos encontrava-se em minha pilha; livrinho magro, numa tarde devorei-o. 
O significado de utopia já o introjetara há tempos, desde minha primeira graduação, curso de Letras. Sabia ser um sonho, algo inalcançável. Este é o livro que dá origem ao significado e ao termo, escrito no século XVI. Nele, More coloca todo seu conhecimento sobre civilizações, política, comando, povo, ideais, leis, etc.  E nos descreve como seria a vida e a civilização ideal.  Sonhou muito, o homem.


                                           


2. "A história da Princesa Isabel - amor, liberdade e exílio". Regina Echeverria, Versal, 2014.
Quando vi este livro na livraria do Shopping de Joinville, não pude resistir. Sempre tive curiosidade de saber como era, como vivia, como foi educada, os conhecimentos políticos, a maturidade e a responsabilidade de nossa única princesa, a filha do D. Pedro II, mãe dos escravos.  Um livro simplesmente maravilhoso.  Deu-me vontade de conhecer o Rio de Janeiro - que ainda não conheço- Petrópolis, os museus,  e ver de perto a cidade e seus pontos históricos.  Passei a admirá-la: estudou no Rio de Janeiro mesmo (não foi para a Europa, como iam os filhos dos ricos da época); o próprio D.Pedro dava-lhe aulas, assim como teve vários preceptores.  Falava diversas línguas, e quem organizou seu programa de estudos  e de sua irmã, foi o próprio Imperador.  Era uma mulher muito inteligente e, fato que poucas pessoas sabem, a primeira mulher a governar o Brasil, e com mão forte. Não se submetia a alguns conselhos com os quais não concordava e fazia valer sua vontade e sua palavra.
Um livro excelente, que faz-nos ficar pensando, com muitas interrogações, sobre a monarquia e a república no Brasil.

3. "Alabardas, alabardas". José Saramago, Cia das Letras, 2014.
A obra inconclusa do excelente português que não deveria ter morrido, na minha opinião.  Fiquei com gostinho de quero mais. Saramago já estava bastante doente quando iniciou o projeto deste livro, que ficou pela...? metade, 1/3, 1/4, perto do fim? Nunca saberemos, pois ele foi-se e deixou-nos a ver navios.  Mas seria um ótimo romance.  Questionaria as fábricas de armas e munições do nosso mundo; colocá-las-ia de frente aos movimentos pela paz e pela vida, através de seus personagens.  Excelente começo...

sábado, 16 de maio de 2015

Sexagenária


   











 Quando eu era criança considerava que as pessoas que tivessem em torno de 50/60 anos eram velhas.  Quando eu nasci, minha avó materna tinha 51 anos, e foi a avó com quem mais convivemos; ela nunca pintou  o cabelo, então de grisalhos a brancos não demorou muito tempo. Ainda vivia minha bisavó, com 78 anos, a quem chamávamos "vó velhinha", para distinguir da que era mais nova, sua filha. Vó velhinha já era bem judiada, como se diz, cabelinho branquinho, sempre de coque, roupas compridas, um cachecol ao redor do pescoço.
     À medida que o tempo foi passando, e com a evolução ocorrida na vida, nos costumes, na medicina, na educação, na moda, minha mentalidade foi acompanhando. Também meus estudos fizeram minha cabeça.
     Hoje, logo após ter completado sessenta anos, não me considero velha.  Não que os achaques da idade não tenham começado a chegar: dor aqui, dor ali, um desgaste aqui, outro acolá, a geada queimando meus cabelos outrora pretos, alguma dificuldade para andar, dançar, fazer exercícios...
     Todavia, a cabeça julgo boa, aliás, ótima.  Continuo amando a leitura, o estudo - até penso em fazer um doutorado -, as viagens, gosto de caminhar e fazer exercícios, embora de forma um pouco limitada.
     E achei o meu estilo.  Não saberia me definir - alguém sabe?  Sem rótulos, como já pedi em outra postagem. Em síntese, a moda não me pega mais.  Na juventude, a ditadura da moda me pegou direitinho - eu queria acompanhar meu tempo, seguir as tendências e, segundo uma famosa revista, ser "antenada".  Embora sempre com olho crítico, fiel ao espelho,  não usando o que considerasse ridículo em mim, durante muito tempo fui escrava das revistas/jornais/conselhos sobre moda. Mesmo com condições financeiras precárias, tinha uma costureira perto de minha casa que copiava os modelos das famosas para mim; os tecidos eram baratos, a mão de obra também, então me sentia feliz.  Creio que consegui libertar-me, e hoje só uso o que gosto, que seja confortável, e com o que me sinta bem. Sapatos muito altos, jamais; de bico fino, só mandados fazer de acordo com meus pés.
     Minhas avós, tanto materna quanto paterna, não tiveram condições de estudar; nem minha mãe. Nem meus avós, nem meu pai.  Já para mim, o estudo é algo orgânico, inerente a minha pessoa.  Tanto meus pais repetiram a nós, seus quatro filhos, que sem estudo não seria ninguém, que esta afirmação calou fundo em minha mente.  Amo estudar, dou o maior valor às pessoas que estudam, e fiz tudo que pude para meus filhos mais velhos chegarem, pelo menos, ao curso de pós-graduação que eu e meu marido alcançamos.  Eu tenho três graduações e um pós.  E pretendo encaminhar a mais nova até o doutorado, se ela quiser.
     Ser avó.  Este era, também, um dos meus sonhos.  Meus filhos mais velhos já me permitiram realizar este sonho.  São três meninos e uma menina, um mais lindo que o outro, todos muito inteligentes, queridos, carinhosos, educados.  Fazem a minha alegria e de meu marido. Embora não morem na mesma cidade que eu, quando nos encontramos sempre é motivo de festa, e ocasião especial para um "churrasquito", como diz um deles.
     E para registrar  o fato de chegar à idade em que as leis brasileiras nos consideram pessoa idosa, fiz uma festa, com tudo a que achava que tinha direito.  Chamei a família, as pessoas amigas mais chegadas, e fizemos um jantar, com direito a cardápio especial (sou celíaca e havia muitos diabéticos na festa), música com dj e dança, com músicas escolhidas a dedo por mim.  Afinal, a festa era minha;  quando vou na festa dos outros, tenho que aguentar até as músicas que não gosto.
     E continuo amando as flores, principalmente as rosas vermelhas, como também continuo gostando da cor vermelha; não é por que o tempo passou que deixei de gostar de algumas coisas das quais gosto desde criança.  A minha menina continua viva dentro de mim.
     Afinal, como disse meu irmão, agora somos 'sexigenários', os sexagenários sexis (e sempre que vejo esta palavra, me lembro da princesa Isabel, que sancionou a lei dos sexagenários escravos.  Creio que me libertou também). Nem que seja só na cabeça...


                                         




     
     


     

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Os 80 anos de minha mãe

     








D. Noemi cortando seu bolo de 80 anos. Fotos da autora, proibida a reprodução sem autorização.


Já escrevi em outro post sobre minha mãe. Noemi é seu nome.
      Agora pretendo comentar o que sei sobre seus 80 anos.  Completar esta idade não é fácil, se quisermos ter saúde. Ela se encontra razoavelmente bem.
      Alguns dados já se encontram na postagem "Minha mãe"; perdoem-me se estou repetindo.  É a emoção por tê-la como minha mãe e por ter ajudado a preparar uma comemoração digna dela, como fizemos quando meu pai completou seus 80 anos também.
      Como já mencionei alhures, ela nasceu na cidade de Santa Rosa/RS, em 12 de março de 1935, na localidade de distrito de Tucunduva, que hoje é município.  Como era difícil o acesso à cidade, meu avô aguardou mais de um ano para efetuar seu registro; como minha tia Ruth também ainda não estava registrada, para não pagar multa, meu avô registrou-as como gêmeas, em 2 de julho de 1936.  E a tia era mais velha que a mãe uns dois anos.
Meus avós já tinham a filha mais velha, Eva; eram 3 meninas pequenas.  As condições de vida eram precárias, meu avô fazia o trabalho de agrimensor; também eram agricultores; ele acompanhava os engenheiros na abertura e construção de estradas por este Rio Grande de Deus. A vó era originária de Ijuí/RS, e meu avô de Santana do Livramento, mas estiveram um período por lá, tentando melhoria de vida, pois ouviram anúncios de que o governo daria terras para cultivar; entretanto, esta benesse não os alcançou e, diante das dificuldades, retornaram para Ijuí.
     Meu avô foi trabalhar na Prefeitura Municipal; era o responsável pela força e luz em toda a cidade.  Minha avó era dona de casa; além de cuidar da prole, que se multiplicava a cada dois anos - tempo durante o qual  minha avó amamentava os filhos - cuidava da casa, fazia doces, pães, bolos, conservas, e cultivava, além de uma enorme horta aos fundos da casa, árvores frutíferas e um belo jardim à frente da casa. Isto já comentei no post sobre lembranças da infância.
     Minha mãe foi crescendo junto com os irmãos, que foram sete no total. Oito filhos Maria e Bento tiveram, que se criaram, além dos dois que faleceram pequenos ainda.  Naqueles tempos, doenças que hoje têm cura, para tanto não tinha, e as crianças viravam anjinhos.
     Frequentou a Escola Estadual Ruy Barbosa, que hoje é uma escola somente de ensino fundamental e fica a meia quadra de onde moro, enxergo seu telhado todos os dias, e acompanho a balbúrdia da criançada sempre. 
     Segundo minha mãe conta, meu avô tocava violão e cavaquinho; esta parte também já comentei lá atrás; ele deve ter aprendido "de ouvido", pois frequentar aulas de música era um luxo a que não se poderiam dar.  Minha mãe gostava muito quando meu avô sentava-se, à tardinha, puxava um dos instrumentos musicais e cantava, reunindo em torno de si os filhos e a mulher. Ela já tinha o dom da música, mas nem pensar em ir atrás dele e estudar.
     Começou a trabalhar enrolando balas na Fábrica de Balas Soberana, com 13 anos; depois trabalhou em uma padaria, indo, posteriormente, para a empresa Bernardo Gressler, onde fazia o fechamento das vendas à vista e a prazo, auxiliando na contabilidade.  Era exímia nas contas, achava diferenças com facilidade, e era amada e admirada, com seus lindos cabelos pretos ondulados, por todos os colegas do escritório. Também já mencionado no outro post.
     Foi nesta época que conheceu meu pai.  Ela contava 15 anos, ele 23.  Foi na inauguração do tempo da Igreja Metodista de Ijuí.
     Dois anos depois estavam casados, e fixaram residência em Santo Ângelo/RS.
     Em 1954 nasceu meu irmão Marcos; em 1955 eu; em 1956 meu irmão Paulo; logo após  houve um menino natimorto; em 1962 o Moacir nasceu; em 1975, outro menino natimorto.  De seis, criamo-nos 4.
     Minha mãe, além de dona de casa, dedicou grande parte de sua vida aos trabalhos voluntários na Igreja Metodista de Ijuí.  Dentro da hierarquia da igreja, exerceu diversas funções, quais sejam: foi Secretária da Escola Dominical, Presidente, Tesoureira, Secretária da Sociedade Metodista de Mulheres; foi agente da Voz Missionária, do No Cenáculo e de outras revistas da instituição. Durante toda sua vida, até uns cinco a dez anos atrás, quando começou a ter problemas de saúde, foi ativa tanto na igreja quanto na sociedade de mulheres, participando das mais variadas promoções; liderava quando decidiam fazer a famosa "sopa de mocotó", prato típico gaúcho, em que era exímia.  As pessoas só compravam os cartões se fosse ela que fizesse.
     Sua vida se resumia em cuidar da família e participar das atividades da igreja.
      Como já falei no outro post, depois que saímos de casa, foi estudar música, realizar o seu sonho.  Além do deleite próprio e da família, pretendia tocar na igreja, para que as pessoas não cantassem tão desafinadas e fora do contexto musical correto.  Criou o primeiro coro da igreja local.  Também participou do Coral Municipal de Ijuí, que existiu durante algum tempo.
     Entretanto, uma pessoa que faz parte da congregação local, por ocasião do batizado de sua filha, exigiu - como se alguma autoridade tivesse - que ela não tocasse, pois não gostava de hinos tradicionais e da música do órgão.  Demonstrando crueldade, ignorância e estultícia, feriu profundamente minha mãe, com palavras duras e humilhantes.  Depois deste fato, ela nunca mais tocou na igreja.  Embora esteja com as características do mal de Alzheimer, nunca esqueceu deste fato, e fala dele diariamente, em suas repetições.  A pessoa que cometeu esta insanidade nem sonha o mal que fez a ela.  A família espera que Deus faça justiça com relação à mesma.
     Minha mãe cuidou de meu pai até sua morte, em 2013.  Foram quase 61 anos de vida em comum. No post "Bodas de Diamante" comento este fato.
     Muitas pessoas mais jovens não sabem o que é ter um casamento duradouro, nem conseguem imaginar a beleza da cumplicidade deles, o respeito que tinham um com o outro, e o carinho através do apelido carinhoso "negrinha/negrinho".
     Quando meu irmão mais novo faleceu, tive que, juntamente com meu irmão mais velho, comunicar a ela e a meu pai o que tinha acontecido.  Foi o pior dia da minha vida, fiquei desesperada; mas tivemos que enfrentar.  A todas as vicissitudes da vida enfrentou de cabeça erguida, embora muitas vezes abaixasse a cabeça para chorar e pedir forças  ao Deus da sua fé, para logo em seguida seguir, encarando a vida de frente.
     Ela ainda nos conhece, e a todas as pessoas mais chegadas - parentes, amigos - mas, aos poucos, sua memória está se retraindo, mostrando-nos muitos fatos de sua infância e juventude, mas esquecendo às vezes de pentear o cabelo, quem a visitou ontem ou hoje, que dia da semana ou do mês é, e em que ano estamos.  Assim como foi com meu pai, e duas irmãs dela, aos poucos a luz da vela está se apagando, bem devagarinho, para que a gente não sinta.  Já não consegue manter uma conversa, perde o fio da meada, e volta para as suas repetições.  Fixa alguns pensamentos ou acontecimentos que são fortes: não esqueceu a visita do neto, que trouxe o bisneto para conhecer; que a irmã e a sobrinha vieram de Porto Alegre para seu aniversário; que tinha bastante gente na festa, porém não sabe dizer quem. A incomodá-la, ainda, o diabetes, que prejudica seu prazer pelos doces, e a impede de comer o que gosta.
     Apesar de todos os pesares, vai levando a vida, com o auxílio dos três filhos que lhe sobraram, e com as cuidadoras que, além de desempenharem suas funções, tornaram-se amigas de minha mãe, por sua bondade e forma de tratar as pessoas.
     Aqui fica minha homenagem a ela, com um grande abraço e um beijo gostoso.
     Amo a senhora, mãe!


     
Minha mãe, meu irmão mais velho e eu.


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Viagens IV - 3ª parte: Caminhando Roma, navegando Capri.

Continuando a "viagem emocionante da nossa vida", passeamos por vários locais em Roma: Piazza del Popollo, diversas basílicas, catedrais e igrejas, pois Roma é cheia delas, que contêm túmulos de pessoas famosas em seu interior, obras de arte as mais variadas: pinturas, esculturas, etc; passamos por uma pequena rua que se chama "Via della croce", que entendo ser "Caminho da Cruz"; passamos por várias ruas, muitas estreitinhas, que achei um tanto estranho. 
E chegamos a um local com muitos turistas, de todo mundo: uma Igreja chamada Santíssima Trindade de Monti, datada de 1495, na Praça de Espanha, onde também há uma linda escultura de uma fonte, chamada "Barcaccia", de Pietro Bernini, datada de 1629. Maravilhas! Eis:








Da frente dessa Igreja, enxerga-se Roma, têm-se uma ótima vista da cidade, pois é uma parte bem alta.
Continuamos nossa caminhada, passando por vários monumentos, entrando e saindo de igrejas, que é o que mais tem em Roma.
Chegamos ao Terminal de Trem, na Praça Euclide; aprendemos logo o itinerário, e andávamos pelo trem subterrâneo com a maior facilidade.
Retornamos ao hotel à noitinha, após termos feito lanches em vários locais diferentes.
Na manhã seguinte pegamos novamente o trem, e seguimos rumo ao Vaticano.  Foi uma grande emoção para o meu esposo, que é católico, conhecer a sede de sua religião. Maravilhamo-nos com as pinturas e esculturas que fazem parte do acervo do Museu Vaticano, seus enormes sinos, armários branco e dourados, seu jardim interno, tudo fantástico.  Tiramos fotografias frente às janelas, pegando o jardim interno, sempre curiosos e com vontade de ver o Papa.  Infelizmente, ele não estava lá: fomos a Roma e não vimos o Papa! Teremos que lá voltar!
Fotografamos a "Pietá", embora fosse proibido fotos. 
foto
Pietá

Jardins internos do Vaticano

Esculturas


Uma observação a fazer: fomos instruídos, ao chegar, que era proibido tirar algumas fotos; fomos respeitando, direitinho, as restrições; entretanto, vários turistas que observávamos - japoneses, chineses, alemães, etc - fotografavam, mesmo sendo proibido.  Entreolhamo-nos, e dissemos: como? estes não são os "povos mais educados, respeitadores do mundo?" Então, como os demais turistas, também tiramos, subrepticiamente, nossas fotos.
Ao sair, consideramos interessante a escadaria, em forma de caracol, que descíamos. Muito bonita. Continuamos nossas caminhadas e nos recolhemos.
Dia seguinte, foi quando começou nossa excursão. Tivemos  o encontro com nossa guia, a espanhola Maria do Rosário, uma pessoa extremamente cativante, educada, querida, que nos colocou a par de suas orientações e apresentou-nos a disponibilidade dos passeios.
Voltamos ao Vaticano, agora para conhecer a Basílica de São Pedro.  Conhecemos toda sua parte interior, a guia foi nos mostrando, explicando, andamos muito por várias partes da Basílica, foi por demais interessante. Antes, porém, de entrarmos, ela avisou: "cuidem de suas bolsas, pertences, máquinas fotográficas e filmadoras, pois é um local onde tem gente de todo mundo, e há pessoas mal intencionadas que carregam os bens dos outros".  Como em todo mundo...
Basílica de São Pedro

Andamos por toda nave, até chegarmos ao local que, dizem eles, está enterrado Pedro, o Apóstolo de Jesus.  Não por ser evangélica, mas como eles podem garantir isto?
Depois saímos passear pela cidade, de ônibus, fomos às áreas arqueológicas, chegando ao Coliseu (72/80 DC).  Como o tempo era curto, só o vimos por fora, não entramos.


Coliseu, Roma


e vimos também o Arco de Constantino(315 DC), e algumas outras áreas arqueológicas.
Então, chegamos à Fontana de Trevi, as esculturas mais belas e perfeitas que já vi; cheia de turistas, atirando suas moedinhas na água, para dar sorte - o que também fizemos, não iríamos arriscar...
Continuamos nosso passeio a pé, passando pela Piazza Della Repubblica, algumas outras ruelas, chegando ao Altar da Pátria, Monumento a Vitor Emanuel II, que consideramos maravilhoso, mais uma bela obra de arte italiana.

Altar da Pátria - Monumento a Vitor Emanuel II


Para concluir o dia, passamos pelas ruínas do Fórum Romano, o Capitólio, o Pantheon, e a Piazza Navona, local em que está situada a sede da Embaixada Brasileira em Roma.  Mas não fomos visitar o embaixador..., apenas admiramos suas lindas esculturas, e ficamos encantados com as estátuas vivas que se apresentam por lá.
foto
Piazza Navona


Capitólio


Retornamos ao hotel para descansar e refazermo-nos com vistas aos passeios dos outros dias.
Dia seguinte, seguimos de ônibus até Nápoli, com destino à Ilha de Capri. Outro sonho realizado, pois minha referência deste local era o cantor que ouvia, na infância e adolescência, Peppino di Capri, que cantou sucessos como "Roberta, Champagne", entre outros.  Verifiquei na "Wikipédia" que ainda está vivo e cantando. 
Nápoli, vista do barco.

É claro que fiquei maravilhada com a cidade de Nápoli, seu porto, onde pegamos um barco para o passeio.  Contornamos a ilha, e chegamos à famosa Gruta azul; ali, passamos do barco grande a um barquinho que cabia 4 turistas e o barqueiro, e adentramos a gruta, antes que a maré subisse, pois esta fecharia a entrada.  Foi muito emocionante.
Ilha de Capri

Ilha de Capri


Dizem que os césares iam até esta gruta para banhar-se, e que era um local escondido, onde os curiosos não os encontravam.
Gruta Azul

Chegamos à Capri, subimos em um pequeno e tosco ônibus, que nos levou por tortuosas ruelas morro acima; chegamos bem pertinho, várias vezes, de abismos, dos quais enxergávamos, maravilhados, o mar, a bela paisagem e as pedras das encostas de Capri.  E foi emocionante mesmo, pois o medo que o velho ônibus engasgasse e caíssemos ao mar era grande.
Chegamos ao restaurante, almoçamos, começamos a conversar e compartilhar com brasileiros de outros estados que estavam na excursão, com os quais dividimos a mesa. Foi um dia maravilhoso, extasiante, emocionante, o qual jamais esqueceremos. Descemos ao cais, pegamos nosso barco, retornamos a Nápoli, onde fizemos um city-tour, ouvindo as informações históricas da guia turística.
Barco com o qual fizemos nossa viagem.


Retornamos a Roma, fomos para o hotel e desmaiamos de cansaço.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Verão, praia, férias, a vida se recompõe, se refaz: a chegada de um novo neto.

Ser avó

Quando soube que seria avó novamente, exultei de felicidade.  A nossa descendência  se multiplica, a vida se refaz: um bebê é sempre um motivo de muita alegria, realização, concretização das razões de sermos humanos, demasiado humanos, como diria Nietzsche. Meu filho e sua mulher tiveram seu segundo bebê, um menino lindo e saudável que chegou em meio ao verão.  Calmo como o pai, quando bebê, exerce à altura do que esperávamos suas funções: mama bem, dorme bem e está crescendo saudável.  Meu coração está cheio de ternura, como ficou desde meu primeiro neto, em 2008. Ser avó é de uma emoção indizível.  Ao ouvir seu primeiro choro, chorei também, emocionada com todo o esforço de minha nora e meu neto, e com a força, responsabilidade e coragem de meu filho, que acompanhou o parto desde o seu início até receber nos braços seu filho, chorando de emoção e gratidão à sua mulher.  Isto é vida...

Um pequeno parêntese

Após o tempo necessário ao acompanhamento do nascimento do bebê, fomos descansar.  Voltamos a São Francisco do Sul, Praia da Enseada, que visitáramos há três anos atrás.  Desta vez a vimos de outro ângulo.  Não deixou de ser bela, convidativa e nos proporcionou raros minutos de descanso. Revigorante.



Com uma pequena colônia de pescadores, os barquinhos
fazem parte diária da paisagem.

Mais uma vez comemorei meu aniversário na praia, com um
prato à altura.  Delicious.



Um brinde a mais um ano de vida.

Paisagem bonita e relaxante.

Prazer da vida: leituras.

José Saramago voltou aos meus olhos: "Memorial do Convento", romance publicado originalmente em 1982, em Portugal, de 2011 é esta publicação brasileira.  É o relato da construção de um convento em Mafra, Portugal, no século XVIII; desenrola-se de uma forma envolvente; tem a família do Sete-Sóis e da Sete-Luas, que, junto a um padre, constróem, naquela época uma espécie de aeronave, e voam.  O relato de um rei, sua família, suas idiossincrasias, seus desejos; dos padres, que sempre o rodeiam, e praticamente o obrigam a construir tal convento, para assegurar-lhe um lugar no céu e redimir seus pecados.
Assim falando, não parece interessante; mas é.  A linguagem de Saramago, a sua forma peculiar de escrever, seu vocabulário, a descrição de locais, de pensamentos, de atos, de formas de trabalhar, de materiais, indica um conhecimento elevado, uma erudição que poucos têm; mas que é apresentada de forma simples, sem ser simplista; terei que relê-lo com um dicionário de português de Portugal, se quiser saber alguns significados específicos de vocábulos; caso não o faça, o contexto já explica.  É que sou preciosista...
Vale a pena a leitura. Saramago, sempre magnífico.

Domenico de Masi, "O ócio criativo". Há tempos queria lê-lo, e não tinha acesso.  Tinha lido comentários sobre esta obra, e tinha assistido a uma entrevista do autor no Programa "Roda Viva", da TV Cultura. Quando o ouvi, achei-o fantástico, inteligente, criativo, vivo. Publicado originalmente em 2000, este italiano foi publicado aqui no Brasil, nesta edição, também em 2000.  Mas eu cheguei a tê-lo em minhas mãos somente agora, em 2015.  Por esta razão, muitas de suas colocações ficam um pouco descontextualizadas, em virtude da evolução frenética das formas de comunicação, dos meios eletrônicos e que tais.
Li este livro nas semanas que antecederam ao nascimento de meu neto, na casa de meu filho; o livro é dele, então não pude ler sublinhando, como gosto de fazer.  Então encomendei um exemplar para mim, que chegou-me esta semana.  Vou relê-lo com a calma que ele exige e merece, pois é uma leitura fundamental para todos nós, cidadãos do mundo.
Trata do trabalho, do conhecimento, do capitalismo, do lucro, das formas de trabalho, da escravização de todo ser humano ocidental, que, por sua cultura, incutida em sua mente desde a Reforma Protestante, acredita que deve trabalhar de 10 a 12 horas por dia, e que estar parado, seja descansando, lendo, ouvindo música, refletindo, passeando, é considerado ócio, um tempo desperdiçado em que poder-se-ia estar "produzindo".  Analisa a sociedade industrial e nos localiza na era pós-industrial.  Gostei de suas idéias, pois pensava mais ou menos isto: que o horário de trabalho deveria ser flexível, que deveríamos ter tempo livre para ler, estudar, passear, viajar, conhecer; que tudo isto poderia ser feito de forma interligada, o que é mais ou menos o que ele diz.  Conclui o livro dizendo que o povo da Bahia, no Brasil, seria o mais próximo que ele encontrou, no mundo, dos seus pensamentos sobre vida e trabalho.  Eu diria que há controvérsias.
Para mim, esta é uma leitura obrigatória para pessoas que se importam com a vida, de uma forma integral.

Andrew Morton, "Diana, sua verdadeira história em suas próprias palavras."
Publicado originalmente em 1992, quando lady Di ainda era viva, esta tradução, de 2014, já traz os acontecimentos sobre sua morte trágica, que a todos nós chocou.  Sendo uma contemporânea da "Princesa do povo", acompanhei suas manchetes e sua vida, apesar de morar, à época, em um país da América Latina, em uma cidadezinha de 30 mil habitantes.  Que interesse eu poderia ter na vida de uma nobre, que vivia no outro lado do mundo, que nem sabia da minha existência, rica, poderosa, etc, etc?  O que a vida dela alterava na minha?  Nada. Apenas que, como ela era tudo isto, e manchete de jornais e noticiários televisivos, como continua sendo a Monarquia Britânica, o mundo inteiro gosta de saber o que acontece por lá.  E faço parte de uma parte do mundo.
Como dizia minha avó materna, devemos acompanhar o noticiário e saber o que acontece neste velho e louco mundo.
Na realidade, nós, velhos colonizados do velho e do novo mundo, gostávamos de saber o que por lá acontecia; as roupas que ela usava, as modas que ela lançava, os tapetes pelos quais andava, as óperas, shows, apresentações, viagens, tudo, que está minuciosamente relatado no livro, interessava ao mundo.  Apenas  nós, curiosos, queríamos saber a verdade sobre sua vida e sua chocante morte.  E a tristeza que víamos em suas fotos, confirmou-se em seu relato no livro: casou-se muito cedo, com um príncipe indeciso e dependente (palavras dela e do jornalista que escreveu o livro), teve os filhos que a monarquia exigiu; foi ultrajada o tempo todo pelo marido infiel e pela "bruxa" da Camilla; lutou contra a bulimia, depressão, insegurança; tentou o tempo todo agradar à "Firma" ou "Sistema" como chamava o círculo de cortesãos, e, quando conseguiu libertar-se, morreu em um acidente idiota.
Ótimo relato, põe-nos dentro da família real; faz-nos entender como funciona e confirma que os casamentos de reis e rainhas continuam sendo negócios. Ela era uma pessoa que tinha sentimentos.  Não servia para ser rainha.
Para quem gosta, ótima leitura.