domingo, 10 de julho de 2011

Aumentando minhas estatísticas.

     Quando iniciei minhas leituras, na infância, não tinha noção nenhuma de o que ler, como ler, por que ler.  Fui lendo o que me aparecia, o que me era autorizado.
     Estudando no Grupo Escolar Nossa Senhora da Penha, li todos os livrinhos infantis que tinha lá, e que eram pouquíssimos, tendo em vista ser uma escola pública e com parcos recursos.
      Então pedi a meu pai que comprasse livrinhos pra mim; ganhei alguns poucos, a situação da família não permitia.
      Brilhantemente meu pai teve a idéia de levar-me à Biblioteca Pública Municipal; foi o que fez, e me lembro dele me levando pela mão à Biblioteca, no andar superior da Prefeitura, me senti muito importante! E me apresentou à Bibliotecária, Dona Margarida, dizendo que era sua filha e que eu gostava muito de ler.  Ela então me levou a um armário, me deu uma chave, e me disse: deste armário, podes ler o que quiseres.  Fiquei encantada, deslumbrada com tanto livro! Lembro-me até hoje o que dizia nos livros: Biblioteca das Moças.  Eu devia ter uns dez ou onze anos.  Então eu pegava dois ou três livros, lia tudo de um dia para o outro, ou da manhã à tarde, e ia trocar.  Ela achava que eu nem lia, e dizia para trocar no dia marcado; então eu insistia, dizia que já tinha lido e que queria outros.  Assim eu ia.

     Outro fato engraçado, (para mim, é claro), é que eu sempre ajudava minha mãe nas tarefas de casa - lavava louça, passava o pano na casa, varria, dobrava as roupas, e assim por diante, uma vez que não tínhamos empregada.  Quando eu lavava a casa, e chegava no quarto dos meus irmãos, deixava o pano no meio do quarto, o balde perto da porta, e me entretinha lendo as revistas e livros deles: Capitão América, Zorro, Tarzan, Mandrake e uma infinidade de outras revistas.  Lá pelas tantas minha mãe vinha - já aprontou teu serviço?  Eu levava um susto e corria concluir a tarefa.
      No armário que eu podia ler, na Biblioteca Pública, tinha uma coleção de romances que creio ter lido todos, ou quase; eram escritos por M. Delly, que eu achava ser Madame Delly.  Este ano, recordando disto, fui pesquisar na internet e descobri que quem os escrevia era um casal de irmãos franceses que usava este pseudônimo.  Eram romances melosos, açucarados, que eu adorava ler naquela idade.
      Quando comecei a lecionar, e também ainda estava na faculdade, dei-me conta de quão pouco havia lido, e que tinha pouco conhecimento dos clássicos.  Aos poucos venho tentando aprimorar meu gosto, lendo pelo menos o básico considerado pela humanidade.  Se pudesse, leria pelo menos um livro de cada autor...este já é um critério.  Ou todos os livros de alguns autores...é outro.  Na medida do possível, hoje vou lendo o que vejo na frente, me chama a atenção e me dá prazer.
      Abaixo, mais um comentário para melhorar minhas estatísticas e as do IBGE.
          
         
·        KEROUAC, Jack. VIAJANTE SOLITÁRIO. L & PM POCKET. Trad. Eduardo Bueno. Porto Alegre, 2010, 220p.

Este é o 1º livro que leio deste cara; é um escritor franco-americano ,– nasceu nos EUA, mas é descendente de franceses.
        Ele narra suas aventuras meio malucas, de uma pessoa que quer viajar pelo mundo, tendo às costas a sua mochila – mochileiro; pouco dinheiro no bolso, nenhum compromisso, dormindo em qualquer lugar e comendo pouco, o mínimo para sobreviver. Não se fixa em nada, convive com vagabundos, com gente de todas as espécies.
Na primeira parte, narra suas aventuras como um ferroviário, viajando pelo oeste dos EUA, pela Southern Pacific, quando conhece várias comunidades americanas, descreve paisagens muito bonitas; seu escrito segue o fluxo do pensamento, forma de escrita que se tornou moda da década de 50 do séc. XX em diante, se não me engano.
Depois, descreve suas viagens pelo mar, trabalhando em navios; a seguir volta a viver com a mãe por um tempo, trabalha mais um pouco, junta uns trocos e vai viajar pelo norte da África e pela Europa.
Posteriormente foi vigilante de incêndios no Serviço Florestal americano, quando foi viver solitariamente em uma montanha, numa cabana, por mais ou menos 3 meses. Gostei mais desta parte do livro, em que ele faz descrições muito belas das paisagens, tem belas tiradas literárias, reflexões dignas de serem lidas sobre a vida, o motivo de viver, a solidão, a natureza, o trabalho, e muitas outras coisas. “A escuridão baixou, incompreensível”, merece ser citada. Várias frases poéticas, de efeito, ele produz nesta parte do texto.
Suas descrições, posteriormente, das viagens e passeios pela Europa são magníficas, gostei muito. Ler por ler, o prazer de ler, que me ajuda a viver.