terça-feira, 17 de maio de 2011

Norma culta x linguagem coloquial.

Quando iniciei meus estudos aos 7 anos, no Grupo Escolar Ruy Barbosa, escola estadual de minha cidade, corrigir o aluno quando errava a escrita ou a fala e a leitura, bem como quando errava as continhas, era uma coisa normal; afinal, a gente ia para a escola para aprender. Fixem bem este ponto: ia para a escola para aprender.


(Imagem: http://desenhos.kids.sapo.pt/img/escrevendo-b1365.jpg)
Passei pelo antigo ginásio, pelo Curso Técnico de Contabilidade,  e quando cheguei à faculdade tive uma surpresa: os professores universitários não estavam lá para ensinar, era só para orientar sem corrigir.  Houve uma mudança de pensamento. Neste ínterim, entre o primeiro ano primário e a faculdade, transcorreram 12 anos, tempo suficiente para que os pensadores da educação lessem alguns autores estrangeiros superficialmente, trouxessem a psicologia para o ambiente escolar, e introduzissem o trauma na escola.
Quando concluí o Curso de Letras e fui para a sala de aula - comer pó de giz e arrumar alergia na pele - deparei-me com as angústias do magistério.  A Escola na qual fui trabalhar era uma escola com um estilo tradicional de ensino. Lá os professores deveriam, sim, corrigir o que os alunos escreviam, falavam ou liam, corrigiam seus cálculos matemáticos, entre outros fatores.  E este posicionamento causava atrito entre estes professores-alunos da Faculdade Regional formadora da maioria dos professores, adepta da psicologia de não traumatizar os alunos, e os professores destas faculdades.  Colocar um risco vermelho sob a palavra grafada errada causava traumas de difícil solução, ou colocar um 'x' em vermelho sobre a questão errada também.
Como uma criança ou adolescente vai aprender se você não indicar o que é considerado o correto?  O que se ouvia era que não era necessário aprender a norma culta, que esta era elitista (politização e comunização  do ensino), que os alunos deveriam escrever como falam, pois conseguem se comunicar, são entendidos.
Sempre considerei isto o maior crime que se comete contra uma criança.  Como a Escola em que eu trabalhava era pública estadual, a grande maioria dos alunos era de crianças pobres.  No momento em que eu, como professora de Português, não indicasse para eles como era a norma culta, eu estaria subjugando meus alunos e mantendo-os à margem da sociedade pois tiraria deles a possibilidade de ascensão social por não saberem escrever e ler corretamente, ou se manifestar verbalmente.  Eu estaria privando-os da leitura e compreensão de qualquer obra literária, textos de jornal, compreensão de notícias ou textos simples. Eu estaria tirando deles a possibilidade de arrumar um bom emprego, ter uma profissão condigna ou passar nos tão procurados e bem pagos concursos públicos.  Eu estaria tirando deles o poder da palavra e transformando-os nos conhecidos analfabetos funcionais.  E quem tem o domínio da palavra, tem poder.
Assistindo ao noticiário diário, verifico que o MEC aprovou um livro em que a correção da escrita é minimizada e que as pessoas podem escrever de qualquer jeito.  Vindo de um órgão da autoridade administrativa e executiva, é a pior notícia que se pode ter, ainda mais de um governo que se diz 'do povo'.  Ao assim proceder, estão realizando o nivelamento por baixo, estão mantendo os pobres na ignorância e na pobreza- pois os ricos colocam seus filhos em escolas que ensinam a norma culta-, e estão tirando do país a possibilidade de se transformar em um país de alto nível intelectual, com seu povo tendo o tão propalado senso crítico que os transformaria em cidadãos completos, conscientes, autônomos e com suas inteligências estimuladas e desenvolvidas.
Eu saí da pobreza pelo estudo, pela leitura, pela teimosia em não aceitar que eu deveria permanecer 'lá embaixo' na pirâmide social.  Não cheguei ainda ao patamar que todos sonham, mas melhorei um bocado.  Pelo menos um pouco da riqueza do conhecimento eu tenho, e enquanto estive na sala de aula, estimulei meus alunos, corrigi suas imperfeições mostrando os vários níveis de linguagem e suas aplicações mas, principalmente, a norma culta, que é a que dá emprego, ajuda na compreensão da vida e na aquisição da cultura.
Por agir assim tanto na vida profissional quanto no círculo  familiar, de brincadeira fui chamada de 'torturadora de crianças'.  É claro que levei na brincadeira, mas, pensando bem, quem tortura os estudantes ou os filhos são aqueles que subtraem deles a possibilidade da aquisição do conhecimento. O nivelamento deve ser por cima, e, como disse no início, os alunos vão para a escola para aprender, sim.
Tenho dito!

5 comentários:

  1. Fala Tia (prima)! Muito bom o blog, apenas duas críticas: primeiro, a cor (vermelho) e segundo o símbolo daquele clube da beira do guaíba no texto anterior..heeheh. mas fora isso, ta muito bom! e sobre esse texto, acho que se todos se preocupassem dessa forma com a educação o Brasil seria um país desenvolvido e do chamado "1° mundo". Mas, como a maioria leva a educação e a nossa língua na brincadeira (o alegrismo brasileiro irresponsável, etc) nós estamos na situação em que estamos...
    Parabéns pelo blog! Bjos!

    ResponderExcluir
  2. Cara Athena! Você ficou traumatizada! Quando, rindo, dissemos que você torturava era a teus filhotes que nos referíamos. Porque todos eles, já na mais tenra idade falavam um português escorreito, culto, com todos os esses e os erres e na mais perfeita concordância. Mas era brincadeirinha viu! Por isso agora tens um filho que tá ali ali pra ser escritor!
    Como o Zaratrusta disse, concordo em gênero, número e grau.
    Ah! O Dudu tinha que dizer, fala tia alemoa!

    ResponderExcluir
  3. Ah, se todos os pais "torturassem" os filhos assim, não teríamos tanto texto mal escrito, inclusive em jornais, revistas, etc...
    Tive basicamente a mesma formação lá no início, na EE Ruy Barbosa, excelente tempo em que as escolas públicas tinham ensino bem melhor que as particulares... que pena que mudou tudo...
    Parabéns pelo blog!!

    ResponderExcluir
  4. Não vai escrever mais Dª Antena?

    ResponderExcluir