domingo, 24 de fevereiro de 2013

Descanso anual - viagens III

Todos os anos, após o período regular de aulas da minha filha, e após as festas de fim de ano, saímos alguns dias de nossa rotina para tentar descansar.
Este ano não foi diferente.
Entretanto, junto com nossa vontade de espairecer, viajou  uma preocupação: minha tia e madrinha estava severamente adoentada, com o que chamo mal do século: câncer.  Como escrito na última postagem, ela faleceu depois de nosso retorno.
No entanto, como  gostamos de curtir as férias na beira do mar, fomos para Itapema/SC, e tivemos dias muito bons.  Alguns dias de sol, em que aproveitamos para sentir seu calor tocar em nossas peles, fazer um dia bonito, com nuvens brancas e mar azul, e outros carregados de nuvens de chuva, também necessárias, em que aproveitamos para dormir (até parece que não temos cama em casa!), assistir tv, ler, passear.
Num destes passeios, no qual contamos com a companhia agradável e carinhosa de meu filho, sua namorada e filhinha, fomos conhecer a praia de Camboriú, e realizar um dia de aventuras. O mais emocionanate, e que nos causou pânico, a mim e a meu marido - a pequena só vibrava - foi de teleférico, entre uma ponta da praia e um morro da Mata Atlântica, e depois desta para outra praia, de Laranjeiras, muito bonita, fora o retorno.  Andamos por sobre o mar e a mata, pendurados por cabos elétricos.  Com pânico, mas fui - eu sou assim, com medo, mas enfrento.  Foi um dia maravilhoso, paisagens lindíssimas, restaurante com comida gostosa, sobremesa idem, e umas lojinhas pra alegrar a mulherada, com quinquilharias.
Passeio de teleférico pela Mata Atlântica - Camboriú/SC




Vista de Camboriú do teleférico.
 
Vista do Restaturante, Praia de Laranjeiras.




Praia de Laranjeiras, vista do teleférico.



Dos dias chuvosos, guardo a lembrança das leituras, meu único vício.
Ganhei de Natal do meu filho "Diálogos Impossíveis", do Luís F. Veríssimo; um livro de crônicas publicado em 2012; parece-me que recobrou a mão para escrever, crônicas bem divertidas.
Já tinha lido comentários sobre "A Queda", do Diogo Mainardi, em que ele relata, de forma inusitada, mas não sem emoção, raiva, denúncia, o que ocorre em termos de saúde não só no Brasil, mas também na Itália, Veneza, onde nasceu seu filho, em um parto apressado pela obstetra italiana, que deixou-o com deficiência mental. Emocionante; ele pára de narrar quando sai a sentença que condena a médica e o hospital, a pagar uma bela indenização ao menino por erro médico, o que permitirá que ele tenha tratamento por toda a vida, e uma vida confortável.
Já comentei outro livro do Juremir Machado da Silva em outra postagem; li agora "A orquídea e o serial killer", um livro de crônicas.  E aproveito para corrigir um erro da outra postagem: ele publica suas crônicas diariamente no Correio do Povo, e não na Zero Hora, como coloquei.  É culpa dos muitos anos fora do Rio Grande do Sul, a gente assimila as coisas pela metade.
Nestas crônicas Juremir mostra toda sua linha de pensamento, sua crueza de linguagem, sua acidez, seu olhar crítico sobre a sociedade, o país e o mundo.  Excelentes crônicas, das quais destaco uma , por eu pensar parecido com ele, por ter exercido a profissão de professora de Português durante muitos anos: "Saudades do trema", em que ele comenta que Portugal quer rever o acordo ortográfico, e que muitas palavras, tanto aqui, quanto lá, ficaram sem sentido ou mudaram de sentido, por causa da acentuação.  Tem todo meu apoio.  Como suas críticas são como uma arma rotativa, que gira atirando pra todo lado, em alguns textos estou do lado do escritor, em outros estou no extremo oposto.  Todos nós somos antagônicos e não temos um lado só. C'est la vie!.
E, segundo um desejo bem meu, que me propus ler toda a obra de Honoré de  Balzac, por gostar da cultura francesa, e para conhecer um dos maiores escritores de todos os tempos - e aprender com ele - encontrei na pequena livraria da praia "Estudos de mulher e Eugênia Grandet". São dois livros que li, cada um, numa pegada; são pequenos, fáceis de carregar e de ler. Eugênica trata de uma 'pobre menina rica", criada pelo pai numa severidade e pobreza extremas, para economizar sempre, embora o pai fosse um homem de negócios e riquíssimo.  Apaixona-se por um primo falido, que vai embora, a mãe morre, o pai morre e ela fica solteira a vida inteira.  Falando assim parece simplista e desinteressante; a forma como Balzac narra é fantástica.
Nos Estudos de mulher, ele narra as suas concepções sobre as almas femininas de seu tempo, em que o que valia era o dinheiro - embora digam que o capitalismo veio depois; os títulos de nobreza, os saraus, as discussões filosóficas, os casamentos arranjados, as traições  os divórcios, tudo na linguagem da metade do século XIX.  São dois exemplares que fazem parte d"A Comédia humana" , em que ele analisa a sociedade francesa de vários ângulos, desnudando-a para os de sua época e para nós, curiosos do século XXI. Bons livros, a chuva passou rapidinho...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Os pobres e os analfabetos são mais felizes...

                              




 Ela era a mais velha. Exerceu à altura da autoridade concedida pela mãe seu direito da primogenitura: junto com os pais, orientava os irmãos mais novos, repreendia-os, aconselhava-os, cuidava deles.  Esta era a tônica das pessoas nascidas no começo do século passado; como sua mãe era muito religiosa, levava a sério o que estava prescrito na Bíblia, inclusive pondo-lhe o nome da primeira mulher, segundo o Gênesis, e um segundo nome, o qual uma de suas afilhadas herdou.
E não foram somente seus irmãos que receberam seu apoio, também o receberam sobrinhos e sobrinhas, cunhada, amigos, com certeza.  Muito lhe devem seus familiares.
Como ela mesma dizia, não casou muito cedo, como era hábito na sua juventude.  Estava um pouco mais madura, preparada para encarar os compromissos e construir uma família com seu companheiro de vida.
Foi uma das precursoras da mulher trabalhadora: trabalhava de dia e estudava à noite, cursando o antigo ginásio e, posteriormente, o Curso Técnico de Contabilidade; foi uma excelente contabilista, exercendo suas funções na Prefeitura Municipal, numa Associação de Funcionários; também fazia a escrita de algumas empresas.
À medida que o tempo ia passando, iam vindo os filhos: três meninos, um mais lindo que o outro, e ao tanto  de beleza correspondia o mesmo tanto de inteligência. O mais velho formado em Medicina, o do meio em Jornalismo e Comunicação Social e o mais novo em Engenharia Elétrica.  Educou-os no maior rigor e ética, mostrando a todos sua retidão de caráter.
Disse-me certa vez que gostaria de ter cursado jornalismo, também, mas à sua época era inviável, pois não havia este curso em sua cidade, nem condições de efetivar os estudos; neste sentido, sentia-se frustrada.  Porém, era uma devoradora de livros, como muitos da família; lembro da sua coleção de livros do Honoré de Balzac - obras completas-, entre muitos outros.  Quando fez seus estudos, tinha condições tranquilas de ler em inglês e francês.
Conversamos muitas vezes sobre o sentido da vida, sobre política - uma permanente descrença sua neste sentido -, religião, a vida em geral.  Numa destas conversas me disse que as pessoas ignorantes eram mais felizes, pois não tinham conhecimento de muitas coisas, nem da podridão do mundo, das coisas erradas feitas por políticos, das coisas que o povo pode reclamar e exigir das autoridades, etc, sendo, por tais razões, mais felizes, pois o pouco era suficiente ou muito.  Não tinham as angústias da classe média, nem o sofrimento por não poder alterar muita coisa no mundo.
Teve suas dificuldades, suas angústias, seus sofrimentos, sendo o maior deles, o que, cremos, aniquilou sua vida, o acidente de carro, no qual um louco bêbado bateu seu carro contra o do seu filho mais velho, matando-o, juntamente com sua nora, seu netinho de 3 anos e dois sobrinhos da nora.  A partir de então, sua vida se transformou.
Teve também muitos momentos de alegria, a formatura dos filhos, realização de todas as mães, a vinda dos netos, suas viagens e passeios, pequenas pílulas de alegria que se permitia, entre outras.
Sempre gostava de ir em nossa casa, e visitou-nos em todos os lugares em que moramos: Panambi, Caxias do Sul, Cambé e nossa cidade.  Gostava de um churrasco e cerveja, mas nem precisava dela para ser alegre, sempre o fora.
Vestia-se com esmero, sempre com roupas clássicas, colares, brincos, cabelo arrumado, unhas feitas, um grande capricho consigo mesma, o que sempre causou-me admiração e, junto com sua personalidade forte e persistência na vida em busca de objetivos, serviu-me como um dos modelos de mulher para eu seguir na minha vida.
Tive oportunidade de dizer-lhe que a amava muito, bem antes de ficar doente.  E o fiz novamente quando se encontrava adoentada.
Que Deus amenize suas dores e sofrimentos, e que a tenha recebido em seu colo, curando todas as suas feridas, as visíveis e as invisíveis.
Quando a deixamos em seu lugar definitivo, caiu uma chuva bem forte, molhando-nos até os ossos, lavando nossas e suas tristezas e sofrimentos.  Foi uma mensagem do Pai.
 
 (Imagem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisa0vP3jFSJqajN_EkYPdFZNssKXBYhrQG69N-ggc29E4RkLNwviFs59jcXrhs_laUI2QId56YJfystv8x89AZnuwzNnCu7StxeSlMTWPvCr7y7OTBRaXcMPxhATm_WUDuO9Lo6-7Qs4Im/s1600/pomba_branca_ceu_espirito.jpg&)