segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O lado de lá do balcão do banco

      
 

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Sempre pensava que os bancários tinham uma vida folgada; afinal, os bancos, no Brasil, abrem para atendimento ao público em geral às 10 horas da manhã e fecham às 15 horas. Maravilha, trabalhar poucas horas, ganhar um ótimo salário e ter bastante tempo à disposição para fazer outras coisas.
     Tentei concurso para o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal; no primeiro não consegui aprovação, na segunda consegui, mas nunca fui chamada.  Posteriormente, fiz concurso para o antigo banco Meridional - era um banco público, e fui aprovada entre os primeiros classificados na minha região.
     Muitas pessoas tentam entrar para um banco com a mesma ilusão que eu; a grande maioria não consegue aprovação por: não estudar o suficiente (nos programas, matemática, português, conhecimentos gerais, lógica, matemática financeira, contabilidade, legislação, etc, com pequenas variações); por não ter quociente de inteligência que permita ingressar no serviço -  e não estou falando no famoso "q.i." quem indica; concurso público é por conhecimento, por mérito e competência. A maioria das pessoas não estuda, chuta, não passa, e fica criticando os "nerds" que são aprovados.
     Uma pessoa para ingressar no serviço público deve submeter-se a concurso, previsto na CONSTITUIÇÃO FEDERAL e nas Leis Federais, Estaduais ou Municipais que regem os concursos. O edital prevê toda a matéria a que vai ser submetido o candidato, a lei que rege o concurso, todas as possibilidades para o cargo, função, salário, a titulação que é exigida (ensino médio, graduação, especialização, mestrado, doutorado...) etc. Concurso público não é para qualquer um!   As pessoas que se submetem a um concurso não é a um "concursinho", e depois fazem o que querem. Não é assim que funciona.  Depois de aprovado, o candidato deve submeter-se a exames médicos, e passa, durante 2 ou 3 anos, conforme o cargo, por um período chamado ESTÁGIO PROBATÓRIO, em que é avaliado diariamente por seus superiores, para verificar se a pessoa tem os conhecimentos suficientes e necessários à função que vai exercer, e a sua competência. Por isto os políticos preferem fazer política: não precisa estudar, não precisa provar que tem conhecimentos, não tem estágio probatório...
     A legislação brasileira que rege os concursos públicos é bem rigorosa; como funcionários públicos não têm FGTS e outras vantagens que o funcionário da iniciativa privada tem, ele adquire, depois do estágio probatório, SE APROVADO, a estabilidade. Tudo previsto em LEI. E o funcionário público só pode fazer, dentro de sua área de atuação, aquilo que a lei estabelece e permite.
     Mas, voltemos aos bancos. Há bancos públicos e privados, e os que são considerados públicos, mas regidos pela CLT.
     Voltando à vaca fria: quando passei no concurso para ser bancária, fiquei feliz: 6 horas diárias... previstas.  Duas horas extras obrigatórias, diariamente, SEM PAGAMENTO DE HORAS EXTRAS. Atendimento ao público, no meu caso, com um gerente pisando no meu calcanhar o dia inteiro.  Atendimento a uma velocidade louca, tudo para ontem.  Como era 1993, ainda tínhamos uma inflação doida, com muitos números a serem digitados.  O trabalho do bancário novato: somar os documentos de seis caixas, contabilizar, conferir, achar diferenças (só vão embora depois de achar as diferenças!) E diferença, dá todos os dias.  Era difícil chegar em casa antes das 8 da noite. Atendimento a telefone, receber malotes, tirar extratos, ensinar clientes, orientar e ajudar em terminais de autoatendimento...
     O ALMOÇO. Creio que poucas pessoas sabem que o bancário tem 15 minutos para almoçar, previstos EM LEI. Isto mesmo, alguém de vocês almoça em 15 minutos? Mal dá para começar, já deu a hora, tem que bater o ponto, voltar ao trabalho que os clientes estão esperando. Dor no estômago, dor de cabeça, enjôo,.... detalhes, que ninguém sabe. Quem sabe almoçar antes de ir para o trabalho? Para evitar problemas estomacais, muitas pessoas almoçam as 9 da manhã - sim, isto acontece, e muito. Ou levar marmita, com comida caseira. Ou comer só uma fruta, e almoçar quando volta do trabalho.... vida mansa....
     Quando ingressei no banco, recebi várias apostilas para estudar (ainda mais, além do concurso): como funciona, os objetivos, as metas, formas de avaliação, plano de carreira, etc. Primeira lição: o objetivo de um banco é o LUCRO! Todos nós sabemos disto, desde remotos tempos. E para obter lucro, tudo vale.  O funcionário, em qualquer lugar da hierarquia interna, tem que VENDER, tudo que for do interesse do patrão.  Além de funções habituais, sempre oferecer alguma coisa para o cliente; e tem METAS a serem alcançadas; caso não sejam, o funcionário é punido e ridicularizado. Mas...nem todos têm o dom da venda... Bobagem! Vire-se.
     A maioria  dos bancários sofre, além da pressão interna, a pressão externa, dos clientes, que nunca estão satisfeitos e acham que os bancários são seus empregados.  E o cliente sempre tem razão...
     Como muitas outras profissões, mas em especial aos bancários estão reservadas as lesões por esforços repetitivos, entre outras doenças ocupacionais, que os levam para tratamentos longos e doloridos, quando não à aposentadoria por acidente do trabalho, uma vez que obrigados a trabalhar sem tempo para ir ao banheiro, para alimentar-se adequadamente, e sem direito à pausa para descanso, prevista na legislação trabalhista - a cada 50 minutos digitando, 10 minutos para alongamentos e ginástica laboral.  Isto, só em sonhos e na letra fria da CLT.  Na realidade, nunca!
     E o salário? Na iniciativa privada, quem determina o salário é o empresário, dono do empreendimento.  O salário mínimo é determinado pelo governo.  E o salário do bancário?  Como a maioria das profissões tem um salário considerado piso, também o bancário o tem.  E todos os anos, em setembro, é a data-base para negociação dos bancários; é previsto pela Lei que os patrões e empregados entrem num acordo sobre os reajustes salariais.  No caso dos bancários, a Federação Nacional dos Bancos- FENABAN- representa os patrões banqueiros, e os Sindicatos representam os bancários.  Como sempre, os patrões querem dar o mínimo de reajuste, ou nenhum, apesar de seus lucros exorbitantes, e os funcionários precisam garantir pelo menos a inflação do ano, tudo dentro do que estabelece a legislação.
     E a população?  A população não conhece os banqueiros, conhece os bancários.  Os donos dos bancos nunca estão em suas agências, quem está é o empregado.  Para o povo, que se utiliza dos serviços bancários, a culpa das greves é de quem eles enxergam todos os dias - dos funcionários.  Assim como, nas greves dos professores, ou de qualquer categoria, o povo mantém contato com a parte mais fraca, pois prefeitos, governadores, presidentes, banqueiros, ou outros grandes patrões, nem são conhecidos.
     Uma greve atrapalha a vida das pessoas?  Sim, podem crer que atrapalha muito mais a vida dos funcionários grevistas do que da própria população, pois, apesar de paralisar temporariamente os serviços, toda a carga horária tem que ser recuperada, caso as pessoas queiram receber seus salários.  A greve é uma forma de tentar fazer com que os empregadores entendam a situação financeira de seus empregados, pois com os salários defasados, a inflação retornando a galope,o que recebem não é suficiente para ter uma vida digna, solver seus compromissos, manter a saúde, a educação e a alimentação sua e de suas famílias. 
     O bancário, o professor, e outros profissionais são trabalhadores como quaisquer outros.  Não são a elite, infelizmente.  A elite são os banqueiros.  É a eles que deve ser dirigido todo e qualquer protesto pelas greves anuais.  Qualquer coisa em contrário, revela a ignorância da pessoa, que desconhece como as coisas funcionam.
    
 (Imagem:https://www.google.com.br/search?q=banc%C3%A1rio&client=firefox-b-ab&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjRhYewyJzPAhWKjJAKHREtDKcQ_AUICSgC&biw=1138&bih=503&dpr=1.2#tbm=isch&q=banc%C3%A1rio+charge&imgrc=DMrtcrppMpxoTM%3A)   
     

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