terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

ENQUANTO A AREIA DO TEMPO ESCORRE...


A ampulheta é uma imagem que, frequentemente, vem-me à cabeça.
É o tempo que escorre por entre os dedos e, uma vez passado, não volta mais, a não ser em nossa mente.
Vejo que não tenho escrito com frequência, o que não quer dizer que não tenha tido ideias ou assuntos.  Estive é muito ocupada e preocupada.  Nos últimos meses de dezembro e janeiro minha mãe esteve hospitalizada por 25 dias.  Agora está razoavelmente bem, recuperando-se.
Neste meio-tempo, li oito livros que abaixo comento.
E venho lendo outros dois que são compêndios das obras de Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. Leio enquanto respiro.


Aos livros, pois:



1. Tempos extremos, de Míriam Leitão.

É um romance com tons políticos, memórias e realismo fantástico.  A jornalista narra uma história um tanto confusa, que mistura a ditadura militar, tortura, tempos atuais e escravidão, contato com fantasmas de escravos. Descreve as paisagens mineiras, de onde provém, e relata acontecimentos durante o regime militar, nas décadas de 60/70.


2. Minha história, de Michele Obama.

Livro de memórias da mulher do ex-Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Narra desde a sua infância, suas dificuldades para estudar, trabalhar.  Relata quando conheceu o marido, suas dificuldades financeiras do começo da vida, o preconceito por ser pobre e negra, as profissões que desempenha, as campanhas políticas, a vitória, a vida na Casa Branca, e a despedida da mesma.
Um livro excelente, que aproxima o leitor de uma celebridade que, segundo ela mesma, sempre lutou e defendeu a possibilidade de as mulheres, de qualquer cor e status social, estudar, trabalhar, ser quem quiser ser.
Vale a leitura.


3. Elis e Eu, de João Marcello Bôscoli.

O filho de Elis Regina, nossa cantora muito amada e admirada, relembra seus 11 anos, 6 meses e 19 dias junto da mãe.
Uma história comovente, do ponto de vista do filho da maior cantora brasileira, morta ainda jovem, no auge da carreira, de uma forma assustadora.
Descobrimos que era uma mãe severa, exigente na educação dos filhos, com um grande coração não só em relação à família, mas também em relação às demais pessoas, ao povo, sempre preocupada com as questões sociais do seu tempo.
Muitas vezes enche os olhos de lágrima, durante a leitura, que vale a pena.


4. Cenas Londrinas, de Virginia Woolf.



Neste livro fazemos um passeio detalhado pela cidade de Londres, do ponto de vista de uma moradora. Casas de poetas, docas, Abadia de Westminster, ruas e muitos outros locais são descritos pela autora, que nos leva a belos passeios.

Muito boa leitura, dessa escritora inglesa.


5. Vozes do deserto, de Nélida Piñon.



Li este romance nas minhas férias deste ano, deitada em uma rede de um  hotel de águas termais no norte do Rio Grande do Sul.

Nossa grande escritora brasileira reconta a história das mil e uma noites de Scherezade e do Califa que matava suas noivas após a noite de núpcias.  Tudo por ter sido traído pela sultana, sua primeira esposa, com um magnífico escravo negro nos jardins do palácio. 
Uma história sensual, de persistência, de tensão, de exercício da memória e da contação de histórias, fato que vem sendo mantido pela humanidade através da ampulheta.
Excelente leitura.


6. Um remanescente da II Guerra Mundial, de Marli Sikierski.



Um breve relato, em forma de diálogo familiar, traz aos nossos dias o que foi a segunda guerra mundial, do ponto de vista de um pracinha brasileiro, Ceslau Meiger Filho.

Desde a chamada de voluntários para  aderirem à guerra, a concentração, o treinamento, o despreparo e preparo das tropas da FEB, e sua formação.
Narra a ida de navio americano para a Itália, a vida no front, os tiroteios, as bombas, as dificuldades, a morte de amigos e colegas a poucos passos dos sobreviventes, as minas, Cruz Vermelha, Marinha e FEB e o retorno, são e salvo.
Leitura dinâmica, rápida, envolvente, além de esclarecedora.
Marli é minha colega no Círculo de Escritores de Ijuí Letra Fora da Gaveta,  e nesse livro relata a história verdadeira vivida por seu pai.
Ótima leitura.


7. Prólogo, ato, epílogo, de Fernanda Montenegro.



Embora seja um livro de 342 páginas, devorei-o em dois dias.

Todos nós temos curiosidade de saber a biografia de pessoas ilustres, que estão na mídia, artistas importantes e admirados não só por nós, brasileiros, mas também por estrangeiros.
Fernanda Montenegro é uma dessas pessoas que nos fazem sentir orgulho de ser brasileiros.
Conhecida do grande público por sua atuação em novelas de televisão - o que é o meu caso -, mas sabendo que é a grande dama do teatro brasileiro, de filmes maravilhosos de grande qualidade.
O relato de Fernanda/Arlette é dinâmico, a escrita flui naturalmente, um vocabulário acessível e erudito, ao mesmo tempo, remetendo-nos às grandes obras nacionais e internacionais do teatro e do cinema.
Têm-se a ilusão, observando-se os artistas de longe, de que são todos milionários, e que suas vidas são um mar de rosas.  Ledo engano, pelo que descreve nossa querida atriz carioca.  Enfrentou, junto com o marido e os colegas de teatro, grandes dificuldades financeiras para, durante sua longa jornada, conseguir montar seus espetáculos.
Nesse livro consigo entender por qual razão os grandes espetáculos dos melhores autores e maiores atores não chegam até nós, no interiorzão do Brasil: por causa das dificuldades de transportar os cenários, as roupas, custear as viagens, alimentação e o sustento de toda a equipe que compõe o espetáculo.  Infelizmente.  Não sei se algum dia irei vê-la atuar pessoalmente; só se eu for para uma das grandes capitais brasileiras em que se apresente.
Fernanda também nos confidencia sua ascendência italiana e portuguesa, conta a história de sua família, dos avós aos filhos.
Excelente relato, vale a leitura.


8. Todas as mulheres dos presidentes, de Ciça Guedes & Murilo Fiuza de Melo.



"A história pouco conhecida das primeiras-damas do Brasil desde o início da república" é um relato da biografia das mulheres dos nossos presidentes desde a proclamação da república.

Tenho tido interesse por biografias, nos últimos tempos, o que, penso, aproxima nós, leitores, das pessoas públicas, tornando-as mais palpáveis, humanas, menos esfinges inalcançáveis.
Bastante interessante o conhecimento dessas mulheres, a grande maioria sombras de seus maridos, silenciosas por detrás deles, muitas vezes subjugadas e todas traídas pelos maridos, com todo o tipo de amante.
Muitas delas escolhidas por eles ainda crianças, algumas primas dos maridos, algumas escolhidas pela beleza - facilitando a exibição - a maioria escolhida pela educação e situação de submissão.
Exceção a Doutora Ruth Vilaça Corrêa Leite, esposa de Fernando Henrique Cardoso, que era colega de faculdade do marido, e que não exerceu a função de primeira-dama nos moldes das antecessoras e sucessoras.
Interessante conhecer Nair de Teffé Von Hoonholtz, uma mulher adiante de seu tempo, segunda esposa de Hermes da Fonseca. Poliglota, educada na Europa como uma princesa, era da aristocracia: neta do conde prussiano Frederico Guilherme Von Hoonholtz e filha do Barão de Teffé, herói da batalha do Riachuelo. Sua mãe também provinha da aristocracia.  Essa não foi submissa, assim como a Dra. Ruth Cardoso.
A grande maioria das primeiras-damas limitava-se ao curso normal, formadas professoras primárias; estudo até o quarto ano primário Marisa Silva, mulher do Lula.
Muito poucas com curso superior, mas todas muito inteligentes, educadas, perspicazes, influentes junto aos maridos.
Excelente leitura, faz-nos ficar com ainda mais raiva dos presidentes, pela subjugação de suas mulheres.