sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Mais leituras, meu único vício

 

Tenho lido vários colegas escritores e poetas que compõem as academias das quais participo. Além de lê-los através de trabalhos em Coletâneas nas quais somos vizinhos de páginas, alguns  comigo trocam livros, e lemos uns aos outros.  Também é uma forma de ajuda mútua, um comenta e expõe os livros dos outros, e vice-versa. Fraternidade e divulgação.

É o caso do confrade Carlos Frederico, Professor de Língua Portuguesa e Literatura no Rio de Janeiro, músico e compositor, colega da ALPAS-21.

 Dele, dois livros, lidos com muito prazer:




SENTIMENTOS SEMÂNTICOS, 1ªed.-SP, 2022, 96P. Ed.Versejar. Poemas

O autor utiliza-se de uma linguagem acessível, na maioria versos livres, expressando suas emoções, observações do quotidiano, aspirações e sonhos. Em alguns há métrica e rima, em outros os versos são livres ou brancos. É uma poética cheia de lirismo, algumas figuras de linguagem, carregados de emoções e sentimentos, tudo muito suave.  Alguns poemas têm uma linguagem hermética, deixando o leitor em dúvida se refere-se ao amor da amada, ao fraterno ou religioso.  Dúvida boa: leia mais para compreender melhor! Capa maravilhosa, com paisagem sugestiva.

Destaco:

"Encanto

No frescor da manhã, lembro-me do todo ocorrido

e mesmo antes do sol ter nascido,

creio ter te conhecido, talvez na suavidade da lã.

Percebo que a estrada é longa,

acabo por caminhar sem rumo

e no futuro penso, planejo.

Vejo clarear tudo a minha volta

É a tua presença que retorna.

Flui rapidamente o rio de paixões,

carrego a alegria de muitos corações,

sigo nos trilhos do Mestre, Senhor Deus,

embora também amplie a cultura através da Mitologia

Grega de Zeus.

No teu perfume surge a nuance das flores,

no céu lácteo vislumbra-se o arco-íris com suas cores.

É a comemoração de um bonito encontro

e a natureza confunde-se com o teu encanto.

No sideral espaço cósmico, o brilhar da estrela espelha,

o amor que o canto espalha,

emanando-se pelo vasto mundo."



O LAPIDAR DE SONHOS. Contos, Minicontos, Crônicas e Poemas. SP:Scortecci, 2014.

Num caleidoscópio literário, o autor delineia contos, crônicas e poesias cujos temas são abrangentes: A amizade; A sina sertaneja; animais, crianças, pássaros, a natureza,  eventos científicos e tecnológicos, Natal, a produção literária e a saga de uma família de retirantes nordestinos rumo ao Rio de Janeiro, que compreendi ser sua família.

Os temas são diversificados, interessantes, a escrita flui espontânea, de fácil e deliciosa leitura, o vocabulário é acessível, denotando o professor expert em Literatura e arte. Leitura que deleita, de boa essência literária,  com muito lirismo, prende o leitor desde a primeira linha, o que garante a qualidade do texto.  Vale a leitura, além de uma linda capa.

Excerto:

"Uma só alma.

    O sol carrega consigo o brilho do teu olhar que percebo na noite quando então a lua o torna ainda mais belo e singelo.  No seu caminhar, os pensamentos devem fluir na sua imaginação, na sua mansidão e no colorir do tempo com os brilhos originais terminando pelos sorrisos e gritos colegiais.  Assim, o dia-a-dia demonstra a lírica percorrendo o teu ser.  Sou um homem feliz porque amo-te e seremos eternamente namorados do tempo da felicidade e da harmonia sem importar-se com a época, nem mesmo com as mudanças em nossos semblantes e organismos com o passar dos anos.

    O cérebro resolve fazer parte do coração e pulsar esse sentimento.  Por fim, o amor cativa em situações diferentes, deixando com belo prazer as nossas mentes."


Os livros podem ser adquiridos com o Autor, nos endereços eletrônicos:

ferreira200776@gmail.com 

www.facebook.com/boletimiberico

ou twitter:@9cfrederico


sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

MINA DE AMOR

 



           Para Nicolle, Vittorio e Rafaello

 

Dois pares de olhos azuis

Um par de olhos castanhos.

Mãozinhas macias, irrequietas,

Agito no corpo.

Energia

Vitalidade

Curiosidade

Inteligência

Muito carinho

Muito amor

Muitos afagos!

Ternura sem fim!

Meus netos!

 

Joinville, 28/9/22.

 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

O LIVRO ME SALVOU



 Com o livro aprendi

Com o livro me informei

Com o livro sonhei

...sofri

...sobrevivi

...lutei

...abri minha mente

 

Vislumbrei um futuro

...esperança

...fé

...possibilidades

...conhecimento

...erudição

...multiplicidade

...variedade

 

Na dúvida, na depressão, no medo

O livro me salvou!

...me curou

...me esclareceu

...me elevou

...abriu meus olhos

...abriu meu coração

...abriu meu id, ego e superego

...manteve permanente a curiosidade

...me instruiu.

O livro é tudo!

 

 

Dia do livro

29/10/21

Lorení.

A cidade das viúvas

 









Em uma cidade na região meridional da América Latina, perto de onde foram as   Missões Jesuíticas, no lado argentino,  descobriu uma repórter de revista feminina de grande circulação que, em um de seus distritos de nome Nhú-Porã, havia trinta e nove viúvas.

É um número elevado considerando-se a população local, de baixa densidade demográfica.

Curiosa, tentou de diversas formas entrevistar essas viúvas, para descobrir a razão da morte de seus maridos, por qual razão nunca mais se casaram, como viviam, e sobre suas famílias.  Suas tentativas eram infrutíferas.

Conversando com uma senhora que tinha em torno de setenta anos, professora aposentada e agricultora nas horas vagas, de nome Elizabeth,  descobriu que ninguém queria falar nada por questões de segurança, pois havia muitos malandros que se aproximavam das mulheres para tentar levar vantagens, tanto pessoalmente, quanto pela internet ou outras formas de comunicação. E, também, para evitar assaltos.

A repórter não se deu por vencida.

Devagarinho, conversando, demonstrando que não identificaria o lugar, não daria o nome das pessoas, que manteria o sigilo das fontes,  que elas não correriam risco nenhum, foi amolecendo a resistência da mulher, até que obteve uma pequena vitória:

- Tudo bem.  Vamos fazer o seguinte: dia 23 é meu aniversário.  És minha convidada, vou te apresentar como minha amiga.  Mas não dirás para ninguém que o teu objetivo é entrevistar a turma, vais conversando normal, como quem quer fazer amizade e conhecer as pessoas.

- Combinadíssimo!

- Mas sem gravadores, microfones, nem computador, nem anotações.  Vais te fiar na tua memória.  Senão ninguém abre a boca.

- Certo, farei como dizes.

No dia marcado, a casa de Elizabeth começou a encher-se das amigas e vizinhas em torno das 17 horas. Abraços, beijos,  presentes, apresentação da nova amiga, conversas, música animada, algumas dançando, tagarelice, alvoroço, como são as reuniões de mulheres.  Algumas trouxeram as crianças, filhos e netos, a bagunça tomou conta.

Num canto, a repórter conversava animadamente com um grupinho, contando a todas como era a vida na cidade grande, o movimento, os grandes shoppings centers, as tentativas de assaltos, o trabalho, as grandes lojas, as livrarias, a vida dinâmica que levava. E, principalmente, o stress.

Muitas viajavam uma vez por ano para um canto do Brasil ou do exterior, a passeio, e conheciam o que ela descrevia.  Outras, não.  Tudo era novidade.

Perguntaram se era casada, ela disse que sim, que tinha uma filha de 15 anos que ficava com o pai quando ela viajava a trabalho.  E que estava no local por conta de uma palestra que daria na área de comunicação da Universidade local. Ela perguntou se eram solteiras ou não, se tinham filhos.  Algumas se retraíram.  Outras, já mais leves depois de algumas taças de vinho, disseram que eram viúvas. Mas que ela não espalhasse a notícia por questão de segurança delas e das famílias.

Ela disse que não abriria o bico.  Daí perguntou se eram muitas pessoas com este estado civil, uma disse que não, outra disse que trinta e nove, outra poucas, outra muitas... E ninguém mais quis  se casar de novo?

 Disse Maria, uma loira de 30 anos, muito bonita:

- Não.  A grande maioria das viúvas daqui perdeu seus maridos para doenças severas, como o câncer.  Eram trabalhadores rurais, empregavam venenos em suas lavouras de soja e trigo. Câncer no cérebro, no pâncreas, intestino... terrível!  Algumas, como eu, ficaram sozinhas em torno dos trinta anos.  Outras mais tarde, outras mais cedo.  Quase todas tiveram que assumir o trabalho na lavoura, além de suas profissões.  E terminar de criar os filhos sozinhas.

(Repórter) - E nunca nenhuma voltou a pensar em casar de novo?

(Maria) - A Fulana, assim que ficou viúva, vendeu suas terras e foi morar na cidade, não quis saber de ficar sofrendo com o trabalho árduo da lavoura.  Mas a grande maioria ficou por aqui. Parece que ela tem um namorado.

Entre uma rodada de salgadinhos e docinhos, taças de vinho, cerveja e refrigerante, a conversa foi ficando solta:

(Repórter) -  E vocês, que estão morando aqui, não se sentem sozinhas, não acham que é muito compromisso e responsabilidade para encararem sozinhas?  Não sentem solidão, não têm falta de um aconchego, carinho, companheirismo, sexo?

(Marta, 68 anos) - A Beltrana conheceu um ciclano num evento na cidade.  Ele veio aqui algumas vezes.  Até ela descobrir que ele era casado, e que queria passar a mão nas terras e no dinheiro dela... Mandou ele passear.

(Joice, 55 anos) - Eu me sinto muito sozinha, já que meus filhos são crescidos e estão estudando fora.  Até a gente se sente muito carente, em todos os sentidos...Mas a liberdade que a gente aprende a ter, depois que conseguimos vencer o luto, não tem preço que pague.  Fazemos o que queremos, sem prestar contas a ninguém.  Temos grupos de viagens, de passeios, de estudos, coral na igreja....a gente se vira... 

Elizabeth, que circulava entre as convidadas, e verificava se não estava faltando nada, perguntou:

 - Como está a conversa aqui?

- Está ótima!

Mais uma rodada de vinho e cerveja.

(Berta, 45 anos) - A Beltrana conheceu um rapaz muito bonito pelos sites de relacionamento.  Pesquisou na internet sobre ele, depois de assistir a uma reportagem na tv, em que os delegados de polícia aconselhavam as mulheres solteiras, separadas ou viúvas, que ficassem alertas aos relacionamentos através destes sites.  Sugeriam que pesquisassem na polícia antes, para ver se não era nenhum malandro.  Ela tem uma amiga  que é Delegada na Delegacia de mulheres. Pediu para ela verificar.  Minha nossa... o cara não mentiu o nome nem estado civil, mas mentiu a profissão, que era nenhuma.  Era acostumado a dar golpes em mulheres desavisadas, começava na manha, na fala mansa ao pé do ouvido, ia conquistando, depois pedia dinheiro emprestado e assim por diante.  Ela deu um pé na bunda e mandou ver as estrelas.

(Repórter) - Nossa!  Vocês moram no interior do interior, mas estão bem alertas.  E sabem se virar sozinhas.  E o sustento de vocês, como fazem?

(Elizabeth) -  Aprendemos a administrar nossas terras.  Temos alguns funcionários para a hora da planta e da colheita, fazemos mutirões, umas ajudam as outras.  As que têm filhos, estes ajudam administrar. E algumas, mais velhas, têm aposentadorias.  Não é muito, mas ajuda.

(Repórter) - E o estudo dos filhos e netos, como fica?

(Dandara, 50 anos) - Aqui no distrito temos escolas municipais e estaduais de ensino fundamental e médio.  Quando querem ir para a faculdade, damos um jeito de mandar para a cidade; às vezes conseguimos bolsa de estudos, alguns passam em universidades públicas em outras cidades, então vão trabalhar e estudar.  Todo mundo se vira.

Pasteizinhos recém fritos fizeram outra rodada. Os famosos docinhos giravam nas bandejas.  E a encarregada da bebida não deixava faltar nem vinho, nem cerveja, nem água, cada uma conforme seu gosto.

O papo foi rolando cada vez mais solto.  Foi uma noite memorável.

A repórter ficou conversando com a mulherada, dançando, beliscando salgadinhos e docinhos até às 2 horas da manhã. 

Matou a curiosidade.  Ficou deslumbrada com a capacidade das mulheres de se virarem, cuidarem umas das outras, viverem em comunidade, e conduzirem suas vidas sozinhas. Lembrou-se do matriarcado de tempos de outrora.

Mas, o que muitas disseram: que não são contra os homens, muito antes pelo contrário.   Algumas disseram: lavar cuecas, nunca mais!  Entretanto, se conhecessem algum companheiro que valesse a pena, poderiam pensar no assunto.  Afinal, eram todas muito normais,  tinham sonhos e desejos como qualquer mulher, independente da idade. Apenas não queriam mais compromissos, responsabilidades e um patriarca a querer mandar em suas casas.

A repórter voltou para sua cidade. Fez a reportagem, como combinado, sem identificar nada nem ninguém.  Recebeu um prêmio pela reportagem e continuou tocando sua vida.






(os nomes foram trocados para preservar as pessoas).

(Imagem: https://www.facebook.com/reisman.aliancas/photos/modelo-santo-amaro-compre-aqui-httpswwwreismancombraliancas-de-casamento-ouropar/581780215280527/?paipv=0&eav=AfYYHSeM5l2OyMmnnm5ONbzs6N19yXvfSYcjoa2egVFKpqNfXRZnzm4OPCfyubcinnQ&_rdr )



Pretinho básico

 




Neguinho, te amo!

Logo ao amanhecer, sinto falta de ti

bem como no decorrer do dia;

teu cheiro te precede

estimula meus sentidos

impulsiona meus neurônios

através das sinapses

deixa-me alerta

uma mulher de fé:

não vivo sem ti, café!

A morte não deveria existir






Foto da autora. Itapema/SC, 2018


 A luz da aurora surge...

Descerro os olhos

Só vejo a saudade

Que invade meu coração

Minh'alma está repleta

 de ti

Incompleta

Clama por teu amor

Só dor!...

Sobrou a réstia

da luz da manhã

a invadir meu quarto

a minha vida

dolorida

sem teu amor...

meu pranto é de dor

Essa dor intensa

que persiste em me preencher

A morte não deveria existir

para os amantes...

a saudade dói tanto

que machuca

pesa como chumbo

e nos derruba!


domingo, 8 de janeiro de 2023

AS PESSOAS TEMEM MULHERES INDEPENDENTES

 

            

Super vovó - assim meu neto me vê.

           Só fui entender esta frase depois de ficar viúva.

         Logo que meu amado esposo faleceu, todas as pessoas que vinham me abraçar, comentar o ocorrido, expressar seus sentimentos, seus pêsames, já vinham também, com as palavras: “agora tu tens que...” e seguiam-se as mais variadas afirmações, conselhos, sugestões, dicas.  Até o dia em que tive que ser clara: eu fiquei viúva, não incapaz.  Da minha vida cuido eu; tomo minhas decisões, faço o que tenho que fazer, assumo minhas responsabilidades e as consequências dos meus atos; aliás, o que fiz a vida inteira. Apenas, agora, tenho outro estado civil. E ninguém tem nada com isso!

            Entretanto, passei a perceber que toda vez que entro em um recinto em que há muitas pessoas, em que há casais, lugares que, antigamente, não era habitual uma mulher estar desacompanhada, havia olhares esquisitos, mulheres me olhando de soslaio, homens me inspecionando discreta ou descaradamente, observando se tinha aliança em minha mão esquerda: restaurantes, cinemas, clubes, postos de gasolina indo abastecer, eventos, viagens e consequentemente estações rodoviárias, aeroportos, etc.

     Conversando com outras mulheres viúvas, divorciadas, separadas ou solteiras, percebi que o mesmo ocorre com elas. Nós somos os perigos, as disponíveis, mesmo fechando a cara e não dando trela aos mais afoitos que são puxadores de conversa, palpiteiros, paqueradores, curiosos, etc.

         Quando fui a um evento há pouco tempo, na volta uma pessoa perguntou-me: e daí, achou um namorado? – Resposta na lata: - não estou procurando.

         Nossa sociedade tem dificuldades de ver uma mulher que trabalha ou trabalhou estar ou ficar sozinha, sem uma companhia masculina.  A mulher não pode conduzir sua vida de forma independente?  Pode e deve.

         Isso não quer dizer que fechou as portas do coração para um eventual amor que possa vir a ocorrer; mas não necessariamente.

         Falo por mim, e cada mulher que fale por si: fui tão feliz em meu casamento, meu marido e eu nos dávamos tão bem, a ponto de um completar o pensamento e a frase do outro.  Sintonia perfeita.  Sinto saudades? Obviamente! Choro ainda pela sua morte? Evidente que sim! Tivesse sido um casamento infeliz não teria lembranças, saudades, datas a comemorar, família, filhos, netos, recordações de passeios, viagens, músicas preferidas, acontecimentos.

         Em pleno século XXI ainda precisamos falar disso, pois a sociedade ainda não reconhece o direito de uma mulher ser independente, autônoma, senhora de si e do seu destino.