domingo, 26 de agosto de 2012

Educação - uma resposta à "O rombo da educação é o cabide de empregos de 46 bilhões de reais"

greve na educação

 

   Agora estou aposentada, nem faço mais parte das estatísticas.  Mas, uma vez professora, sempre professora.
        Este ano, como em anos anteriores, tivemos problemas com greves em escolas, de todos os níveis, em escala municipal, federal e estadual.  Os problemas da educação no Brasil são eternos e insolúveis, pelo que constato há 35 anos.
         Encontrei em meus arquivos um texto que eu tinha escrito sobre um comentário de um senhor, há mais de um ano, que escreveu em uma revista semanal brasileira, e fez meu sangue ferver  e tentar responder; mas eu estava me sentindo tão agredida na minha profissão, que acabei perdendo uma parte do texto.  Fiz, inclusive, algumas pesquisas, fugindo ao meu estilo de escrita.  Se este texto terá alguma repercussão, não sei; é quase o mesmo que comentar um assunto do jornal velho, que anda voando pelas ruas; entretanto, o assunto é sempre atual, visto que as autoridades competetentes só se lembram dos professores, dos alunos e das escolas, em ano de eleição, como este ano.  Ao texto, então:

     Semana passada, na Revista Veja, páginas 116 e 117, Gustavo Iochpe, economista que se diz conhecedor profundo da educação brasileira, desceu a lenha nos professores brasileiros; não só nos professores, mas também nos funcionários de escolas e, por tabela, nas direções, coordenações pedagógicas, coordenações de turnos, de professores e tudo o mais. Disse que são mais de 5 milhões de funcionários na área de educação no Brasil, pouco mais de 4 milhões na rede pública.  Que gasta-se demais na educação; que o salário mensal do professor na rede pública é de R$ 2.262,00. Ainda mandou ter "cuidado com os discursos do pessoal que fala do "salário de fome"".
     Não disponho de todos os dados que sua excelência dispõe, mas alguma coisa consegui pesquisando na internet:
- média nacional da remuneração dos professores R$ 1.777,86  -salário em início de carreira; ensino básico; rede pública\set.2009.  R$ 23,112,18\anual cada professor, já com 13º  salário. (fonte:http://www.apeoc.org.br/extra/pesquisa.salarial.apeoc.pdf). 
     Qualquer pessoa com conhecimento mediano, sabe que um salário destes dá condições mínimas de vida para uma família de 4 pessoas, o que sempre vejo nas estatísticas.  
     Há alguns anos, li nesta mesma revista,   reportagens de como os tigres asiáticos, Estados Unidos e outros países tornaram atrativa a profissão de professor:  remunerando bem estes profissionais, para angariar os melhores cérebros, que só viriam para este trabalho se  fosse compatível à das maiores empresas multinacionais, pois ninguém, de acordo com este pensamento, em sã consciência,  que tenha alta qualificação, conhecimento científico e ambição, vai para o magistério para ganhar salário de fome.  Por tabela, este pensamento coloca todos os professores num nível de interesse profissional, inteligência e anseio vivencial abaixo da média.
     Não sou estatístico, nem economista, detesto fazer cálculos; minha praia são as letras; então, vocês, curiosos blogtores, façam as contas se vale a pena ganhar o salário MÉDIO NACIONAL (seria até interessante acessar o link acima que faz um comparativo do salário do professor em todos os estados brasileiros), para trabalhar com:

alunos no 1º grau.......51,5 milhões (censo escolar 2010 - www.brasil.gov.br)
alunos no ensino médio: 8.357.675 alunos
alunos no 3º grau.......5,95 milhões
em 2010 os investimentos em educação foram de 5% do PIB;
Professores............1,97 milhão de professores em sala de aula (censo escolar 2009).
Dá pra encarar?
     Fala o autor do famigerado texto, que os professores têm padrinhos e são utilizados como instrumento político pelos mesmos.  Onde? Quando? Se para ter acesso, pelo menos nas escolas estaduais ou municipais, é necessário concurso público?  São acusações levianas. Fala em cabide de emprego - onde?  A impressão que tenho é que este senhor nunca esteve dentro de uma sala de aula, nunca acompanhou o cotidiano de uma escola; não sabe como se organiza um ano letivo, como se preparam as aulas, como se faz a distribuição de alunos por série\turno\idade\nível de conhecimento; não entende de reuniões pedagógicas, nem de currículo escolar, nem trabalho da secretaria, merenda escolar, biblioteca, educação física, reunião com pais e com a comunidade, manutenção do espaço físico, entre outras demandas.  Também, economistas só entendem de números...
     Compara aquele autor dados do Brasil com o de países desenvolvidos; qualquer pessoa de médio conhecimento sabe que, onde há excelência, não há desperdício;  se temos tantos funcionários por escola que não são professores, ou estão aposentados - o que também gera um gasto para os estados-, é por que as administrações estaduais, municipais ou federais não estão sabendo administrar.  Quem sabe, para reduzir os gastos com a educação, não se mate todos os professores e funcionários aposentados?  Não seria uma boa idéia?  Afinal, já não estão mais 'produzindo', e inflam as folhas de pagamentos dos órgãos públicos... Até fico com medo de dizer isto, pois temo que mandem me assassinar.
     Há alguns anos li que no Japão a única pessoa para quem o Imperador faz reverência é para o professor.  Também soube que D.Pedro II teria dito o seguinte: "Se eu não fosse Imperador, desejaria ser professor.  Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens do futuro."
     Para encerrar,  só uma idéia de quanto se gasta com os nossos ilustres parlamentares, que não dão aulas, não trabalham como merendeiros ou em secretarias de escolas, mas custam ao nosso bolso bem mais do que os poucos milhões de professores\funcionários de escolas, e roubam dinheiro que deveria ser investido na educação, na saúde, na segurança, e em outros destinos:

- Temos 513 deputados (wikipédia)- custo médio anual: por parlamentar - R$10.200.000,00
(fonte org transparência brasil);
cada parlamentar, R$ 11.545,00\minuto.
- Temos 81 senadores -  R$ 33 milhões\ano.
     FORA O QUE PEGAM POR FORA, EM PROPINAS, DESVIOS DE VERBAS, CORRUPÇÃO....
     Nada mais a declarar, por agora.













Mais uma do Luis Fernando Veríssimo


 Os Espiões



 O livro que menciono abaixo li em maio do ano passado; fiz o comentário, e  esqueci o arquivo em meu netbook, pois estava por demais atarefada para publicá-lo. É mais um livro do LFVeríssimo, nosso autor gaúcho mais importante entre os vivos; comentei estes tempos sobre um outro livro dele; creio que, pelos seus escritos, deve estar, mesmo que inconscientemente, pensando em se aposentar, ou está ficando doente da cabeça, pois a qualidade está decaindo. Entretanto, ainda está valendo a pena lê-lo. Ao livro, pois.
·     
   VERÍSSIMO, Luís Fernando. Os Espiões.

Neste romance, Veríssimo destila seu humor magnificamente.  Relata a vida e a história de um editor em uma Editora que sempre está em dificuldades financeiras, por isto seu maior cliente é uma Revenda de adubos, com seus informativos e calendários.  Este editor recebe obras literárias para publicações de vários pretendentes a escritor ou escritora.  Tece críticas contundentes aos pretensos escritores, ridiculariza os moradores do interior do Brasil que, segundo ele, não teriam condições de escrever; achei muito ácida esta parte, de um preconceito sem fim; é o bairrismo daqueles que moram nas capitais, achando que não existe vida inteligente longe das metrópoles.  Veríssimo se esquece que seu pai, o grande Érico Veríssimo, saiu de Cruz Alta, no interior do Rio grande do Sul, (aqui pertinho) e isto não o impediu de ser um grande escritor.  Também transparece uma crítica enorme às mulheres que escrevem, no mesmo estilo de Nietzsche e outros autores idiotas, que acham que não existe vida inteligente no interior de uma mulher.  Minha admiração por Veríssimo caiu por terra, mesmo que estas palavras tenham sido colocadas na boca de um personagem.
       O romance trata de uma mulher do interior que quer publicar um livro e o envia em capítulos.  Apensar dos senões, é ótimo, como tudo que Veríssimo escreve.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Cartas a um jovem poeta




As primeiras referências que tive de Rainer Maria Rilke foram em um livro do nosso amado Mário Quintana, que  o mencionou em um seu poema; se não me falha a memória, era também seu tradutor.
Como muitos outros autores, este era um que eu tinha curiosidade de ler.  Passando em um caixa de supermercado, agradeci mais uma vez às editoras que estão facilitando a nossa vida para que tenhamos um pouco mais de cultura através dos "pocket" livros.
"Cartas a um jovem poeta" relata a correspondência entre um jovem poeta que escreve ao famoso autor pedindo conselhos e opiniões sobre seus escritos.  Pelo que captei, a primeira reação do Rilke foi tentar 'cair fora', dizendo ao autor que não deveria ir pela cabeça dos outros, que cada um tem seu estilo, etc, e aquelas coisas todas que os famosos dizem para os iniciantes.  Mas o rapaz insistiu, ele acabou gostando da obra e mantiveram correspondência durante um bom tempo, as quais estão publicadas neste livrinho.
Gostoso, fácil de ler, os conselhos vigoram para todos os pretensos escritores até hoje (universais).  Apesar de ter sido escritor do fim do séxulo XIX e início do XX, este  austríaco permanece atual.  Segundo as notas de apresentação do livro, feitas por  seu tradutor Pedro Süssekind, é um dos poetas europeus que mais influenciou os intelectuais brasileiros do século XX.
Para quem gosta de leitura e literatura, um prato cheio, bem servido e saboroso.

Rilke, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. trad. Pedro Süssekind.-Porto Alegre:L&PM pocket plus, 2010.