domingo, 30 de agosto de 2020

REVISITANDO A HISTÓRIA DO BRASIL: O BRASIL DE JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA .










A pandemia propiciou-me, nos dois primeiros meses, a possibilidade de ler alguns livros.

Acontecimentos posteriores me impediram e estão bloqueando a minha leitura.
Seguimos pandêmicos, confinados, cuidando de nós e dos nossos, e esperando a cura dos que forem atingidos pelo covid-19, ou uma vacina que nos impeça de contrair a doença.
A seguir, um dos livros que consegui ler lá por março/abril deste ano:
O meu propósito de tentar entender meu país permanece.  Aos poucos vou lendo livros que encontrei e me contam um pouco do que aconteceu no Brasil, antes e depois do meu nascimento.
Nestes dias de confinamento vou aproveitando uma parte do meu tempo para ler, refletir e relacionar os acontecimentos políticos atuais aos que os antecederam.  Todos têm ligação.  E o modo de fazer política no Brasil não tem  tido uma forma diferente do que houve desde o tempo do império, da Primeira República às outras denominações que tivemos com o tempo. 
Concluí a leitura de uma biografia de JK e, logo em seguida, de Tancredo Neves. 
Já li e comentei sobre Getúlio Vargas e Jango, que podem ser encontrados aqui e aqui.  No segundo link há também um comentário sobre a queda de Dilma.  Vou e venho nos períodos da História do Brasil, à medida que vou encontrando livros, ou os acontecimentos vão desenrolando-se.  Também já li sobre D. Pedro II, sobre a princesa Isabel, assim como sobre os períodos do descobrimento do Brasil até à proclamação da república. Sobre estas leituras, veja aqui. E sobre a princesa Isabel aqui.

O ESSENCIAL DE JK - VISÃO E GRANDEZA, PAIXÃO E TRISTEZA. Ronaldo Costa Couto.- 1ª ed. Brasil:Planeta, 2013, 301p.

"Nunca deixei uma obra pela metade. O que projeto, faço"
"Deus poupou-me o sentimento do medo."
Estas são duas frases, das muitas relatada neste livro, que me chamaram a atenção, e, pelo descrito pelo autor, eram repetidas com frequência pelo ex-Presidente.
Ronaldo Costa Couto é historiador, economista, pesquisador, professor, jornalista. Foi político intimamente ligado ao poder central, tendo exercido diversas funções públicas em vários governos. Narra o que viu.
Este livro conta-nos a biografia de JK desde o nascimento, na cidade de Diamantina/MG, até sua morte, em um acidente que deixou muitas dúvidas.
O menino pobre das Minas Gerais, que foi criado pela mãe junto com uma irmã, sonhava em ser médico. Lutou muito para alcançar seus objetivos.
Antes de ser Presidente da República, foi telegrafista para pagar seus estudos na capital mineira. Depois de formado, foi Capitão-médico na guerra Paulista de 1932, onde atuou no front. Fez especialização em urologia em Paris.
Iniciou na política como Chefe da Casa Civil no Governo de Minas, no tempo da ditadura de Vargas. 
Mergulhou na carreira política como Deputado Federal. No golpe de Vargas em 1937, perdeu o cargo de Deputado Federal, e voltou à medicina. Posteriormente, foi nomeado Prefeito de Belo Horizonte pelo Interventor e amigo Benedito Valadares. Em 1945 elegeu-se novamente Deputado. 1950 elegeu-se Governador das Minas Gerais.
Em 1955, ano em que nasci, elegeu-se Presidente da República. 
Entre vários planos e metas, estava a construção de Brasília. Uma administração revolucionária. 
Em 21 de abril de 1960 foi inaugurada a novacap Brasília.
Após sair do governo, elegeu-se Senador.
Em 1964 foi cassado pelo regime militar, perdendo seus direitos políticos por 10 anos. E foi proibido pelos militares de pisar em Brasília novamente. Ele nunca mais voltou à cidade.  Ele, que considerava a cidade a sua terceira filha.
Exilou-se na Europa e Estados Unidos.
Em 1968 foi preso.
Morreu num acidente automobilístico em 1976. Muitos consideram o acidente forjado.
Sintetizando assim, parece uma biografia fria, só o alinhamento dos fatos. Mas sua vida foi eletrizante, os acontecimentos familiares e políticos intensos, sua história é bastante interessante.
Vale a pena a leitura.




sexta-feira, 1 de maio de 2020

NO RIO IJUHY




Rio Ijuhy (Ijuí)






Lolí rema no Rio Ijuhy.
O rio é vermelho
águas barrentas.

Lolí vê o pássaro:
é um rabo-de-palha;
ele canta um canto diferente.

Da barranca do rio,
desce uma cobrinha-cega,
verdinha,
que se perde na água escura.

Árvores, poucas,
ainda nativas,
cantam ao sopro da brisa matinal.

O sol aquece flora e água,
Faz reflexos mirabolantes.
Enquanto isso...
na ponte de ferro,
passam os carros modelo 70.
E Lolí rema no Rio Ijuhy.

A poeira da estrada levanta,
terra vermelha,
vermelha como a luz quente do sol,

Enquanto enormes pedras dormem
no leito do rio
ao lado dos poços dos afogados.

Lolí rema no rio Ijuhy.




20/08/1992

Imagem: Fotos: Paulo Martins in https://www.noroesteonline.com/rio-ijui-transborda-e-invade-propriedades-veja-imagens/

quarta-feira, 15 de abril de 2020

POESIA É TREPAR MESMO PELAS PAREDES




Imagem do livro do Mario Quintana que possuo, Editora Globo.





Em outros tempos comentei aqui que as pessoas que se pretendem escritoras ou poetas dificilmente trazem novidades.
As maiores novidades vemos diariamente saltar aos nossos olhos nas páginas de jornais, nas revistas - estes dois meios de comunicação em franco caminho de dissolução - em livros; na internet, nas redes sociais, na TV, nos rádios, nessa parafernália toda que nos cerca.
Não trazendo novidades, as quais deixo por conta dos tecnólogos, especialistas, repórteres, cientistas e outros quetais, trago o melhor de mim, ou seja: meus textos, minha paixão pela Literatura, meu amor pelos livros, pelas palavras; e estas, para aquinhoar, trocar ideias, ponderar.
Como Professora de Língua Portuguesa e Literatura que fui, mas cujo espírito em mim permanece, sei da grande dificuldade, da quase aversão que as pessoas sentem pelos livros.  Há trinta anos eu acreditava ser isto um mal que tinha cura.  Julgava, acompanhando os vários autores daquele momento e especialistas na área, que a leitura deve ser um hábito.  E entendia que esse hábito se formava desde bebê, desde a infância, com livros de pano, de banho, sonoros, montáveis e desmontáveis, e assim por diante.
Entretanto, minha experiência mostrou que, apesar de todo o esforço - e vi isto dentro da minha casa - algumas pessoas, mesmo com todo o estímulo, não se tornam pessoas afeitas à leitura, apaixonados pelos livros.   Leem, mas livros técnicos, revistas, notícias de interesse ou outras coisas mais.  Leitores inveterados, poucos.  O mesmo acontecia com meus alunos: um baixo percentual aderia ao amor pelos livros.
Dir-se-ia que o principal é a pessoa ler o que gosta, ter liberdade de escolha, confiança no que lê, descompromisso, alegria e um grande prazer.
Retire-se deste texto a obrigatoriedade de leituras para trabalhos de conclusão de curso, teses, ensaios, etc, que já fazem parte dos cursos.
É básico para a soberania de um povo que sua cultura seja preservada, que exista uma História, que exista uma memória.  Se falarmos em História, narrativa do desenvolvimento ou acontecimentos que formam um povo, estamos reconhecendo os fatos mais importantes do ponto de vista de quem o conta; do ponto de vista de quem está no poder, no comando das ações e exercendo o domínio sobre um povo.  Este domínio pode ser democrático ou não.  
Ao observarmos a Literatura de um determinado período histórico, vamos constatar o que poderia ter sido ou o que efetivamente aconteceu àquele povo.
Por exemplo: se estudarmos o período de Getúlio Vargas, constatamos toda a ação política de sua ditadura, as coisas consideradas boas que fez, os direitos que concedeu aos trabalhadores, seu governo populista.  No entanto, aos lermos "Olga" de Fernando Morais, vamos conhecer o lado da História dos calabouços, do aliado ao nazismo de Hitler, das torturas, das perseguições, do terrorismo aos seus opositores.  Da mesma forma, lendo as "Memórias do cárcere" de Graciliano Ramos; "Brasil nunca mais de D.Paulo Evaristo Arns; "As veias abertas da América Latina" de Eduardo Galeano e muitas outras obras que revelam realidades massacrantes, não só no Brasil mas também em outros países e em várias épocas, e verificamos que reside aí um dos fatores da importância da Literatura na vida das pessoas.
Escritores de todos os tempos nos revelam as mais cruas realidades:  Dante, Aristóteles, Platão, Goethe, Dostoiévski, Tolstói, Tchecov, Émile Zola, Gustave Flaubert, Machado de Assis, Alejo Carpentier, Jorge Luís Borges, Jorge Amado, Aluísio de Azevedo, José de Alencar, Hermann Hesse, Guimarães Rosa, Olavo Bilac, Fernando Pessoa, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Gabriel Garcia Márquez, Cecília Meirelles, Clarice Lispector, Lya Luft, Lygia Fagundes Telles, Deonísio da Silva e uma miríade de estrelas literárias que não vou relatar aqui. E tantos outros que não viraram estrelas conhecidas... Quem lê conhece-os. Ao lê-los, observamos como vivia ou vive o povo das mais diversas eras, lugares, culturas: tanto o povo-povo como o povo-poderoso.
A Literatura acompanha a evolução histórica da humanidade, das línguas, das comunicações, da tecnologia.  E conhecemos o mundo, viajamos por ele sem sair do lugar. Muitas pessoas conheceram o mundo através da descrição de muitos autores.
Lendo contatamos com a arte, a música, os hábitos e costumes dos povos. 
Se quisermos saber como era a Lisboa do começo do século XX, busquemos Fernando Pessoa e seus heterônimos; o Rio de Janeiro dos 1900, Machado de Assis com seus contos, crônicas poesias e romances. A vida na corte latino-americana do século XIX, as narrações costumbristas de Tomás Carrila (colombiano); Manuel Payno (mexicano); Luiz Inclán (mexicano); Cirilo Villaverde (cubano); o período de 1930/40 em diante, na França, Simone de Beauvoir e Sartre, entre tantos outros, com seus livros tanto na linha do romance, como na filosófica e histórica.
A Literatura brasileira, desde a literatura de informação aos dias de hoje, mostra-nos como ocorreu a ação contínua e prolongada que resultou num arcabouço literário que acompanhou o desenvolvimento urbano, agrícola, industrial e social do país.
Hoje temos liberdade total na criação literária: somos deuses que registramos a literatura histórica, intimista, urbana, regionalista; o conto, a crônica, o romance, a novela, a literatura especializada para crianças e adolescentes, a literatura clássica, revisitada, reanalisada, reescrita muitas vezes, e a poesia.
Muitos dizem: o que se quer com poesia, hoje?
Poesia, para mim, e para os demais  poetas e poetisas, se não fosse algo bom, não sobreviveria.  Não resistiria através dos séculos.  Se analisarmos o surgimento da língua e da memória escrita, vamos encontrar o primeiro gênero literário surgido na Grécia Antiga, com Homero e sua "Odisséia": a POESIA.
A poesia sobrepuja.  Como alguns gêneros literários, a poesia denuncia, mata ou morre, voa pelos altos, claros e brilhantes céus do amor e do prazer, do lúdico e do sugestivo, do sonho e da amarga realidade.  Voa em palavras, caminha, tropeça, rasteja e cai em palavras.  É uma arte, na qual encontro-me como eterna principiante, "aprendiz de feiticeira".
Há toda uma técnica a dominar, uma habilidade a ser desenvolvida no caldeirão da bruxa ou no laboratório misterioso onde as formas/fórmulas poéticas, a possível rima, o ritmo e a sonoridade se escondem, furtivamente, aguardando que os desencantemos para que, hoje não mais pela caneta e papel, mas pelo computador, os transformemos no mais tenro, no mais primitivo modo de manifestação artística e também no mais atual: a química da palavra refeita, atualizada, transposta, vibrante, amorosa e prazerosa: A POESIA.
Quando publico meus poemas, seja aqui no blog ou em livro, estou tentando ser aquela que narra ao lado dos acontecimentos: a vivência de meu tempo, a minha ética, o meu chão, espelhando o meu momento histórico, e resumindo  o momento de várias outras mulheres e homens.  De gente que trabalha, que vive o dia a dia na luta pela sobrevivência.  Que tem momentos de esfuziante alegria ou de amarga tristeza.  Que sofre, chora, se alegra, entusiasma, vibra ou arrefece.
A minha paixão é a vida. E dentro dessa paixão estão a leitura, os livros, e a escrita.
As minhas pretensões espelham-se no que disse Osman Lins em" Do ideal e da glória - Problemas inculturais brasileiros", que aqui relato: "O escritor quer ser, com seu livro, uma voz entre muitas, não a voz definitiva, não a palavra final, a única.  Seja como for, ele, se consciente de sua condição, não ambiciona sufocar com a sua voz o rumor das outras vozes.  Quer ser apenas uma voz a mais".
Sobre poesia, especificamente, cito Décio Pignatari, no livro Comunicação poética, ele que é poeta e professor: " A maior parte das pessoas lê poesia como se fosse prosa.  A maior parte quer "conteúdos" - mas não percebe formas.  Em arte, forma e conteúdo não podem ser separados. (...) Mostrar um sentimento e não dizer o que ele é - isto é poesia".
E para não dizer que não falei dos gaúchos, de Mário Quintana: "As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas... Nada lhes ficou.  Nada lhes sobrou.  Uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada" .  E nos deixa uma "Ressalva: Poesia não é a gente tentar em vão trepar pelas paredes, como se vê em tanto louco por aí: poesia é trepar mesmo pelas paredes."
E quanto às "Interpretações: Mas para que interpretarem um poema? Um poema já é uma interpretação." (Primavera cruza o rio).







domingo, 12 de abril de 2020

EOWYN IVEY, MACHADO DE ASSIS E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - LEITURAS DE PESO.




Imagem de Anchorage, Canadá. Créditos abaixo.


Drummond e Machado de Assis não necessitam de apresentação. São conhecidos de quem lê. Mas Eowyn Ivey creio ser necessário ser apresentada. Pelo menos eu não a conhecia.




Nestes últimos dias, em que ando realizando organizações em casa, peguei o quarto de minha filha adolescente.  Como eu, ela ama ler; mas manter os livros no quarto não é adequado para quem tem problemas respiratórios habitualmente - e muito menos no momento em que vivemos.  Comecei a organização e limpeza dos livros e, quando fui colocá-los em outro armário, na sala, fiquei curiosa com alguns títulos.  A coleção de livros para crianças e adolescentes não me chama muito a atenção, mas esse livro chamou:



A MENINA DA NEVE, de Eowyn Ivey. Tradução Paulo Polzonoff Jr, Ed. Novo Conceito,2015, 350p.



Antes de comentar sobre o livro, apresento a autora: Eowyn é jornalista formada pela Universidade de Western em Washington. Vive no Alasca desde pequena e continua vivendo lá com o marido e as filhas.  Fez Pós-graduação em Escrita Criativa pela Alasca Anchorage.  A menina da neve é seu livro de estreia e foi finalista na categoria ficção do Prêmio Pulitzer, em 2013.   Tem 47 anos.



Eu nunca tinha ouvido falar dessa escritora.  No meio dos livros de minha filha estava este, que narra uma história fantástica vivenciada por um casal do Alasca, que morava em uma pequena comunidade perto de florestas e montanhas nevadas.  O casal era de agricultores idosos, tinham tido um filho que morreu no parto e não conseguiram mais engravidar.  Decidem viver no Alasca, longe da família, dos amigos e das cobranças sobre crianças, sobre a impossibilidade de ter filhos.  São descritas paisagens encantadoras e gélidas, com neve, mato, animais que nós, aqui do lado meridional do mundo, desconhecemos.  Frio temos todos os anos, neve já tivemos esporadicamente.  E não queremos mais...

É uma narrativa que magnetiza o leitor, tanto que li o livro em dois dias, nas horas de folga.  A autora entende da arte de escrever, faz descrições da paisagem, dos sentimentos das personagens, dos acontecimentos, dos costumes, da cultura.
O casal faz um boneco de neve em formato de menina, coloca luvas, cachecol e gorro.  E o boneco cria vida...uma história emocionante que instiga e mantém a curiosidade até o fim.  Excelente leitura. Recomendo.



50 Contos de Machado de Assis, selecionados por John Gledson. São Paulo:Cia das Letras, 2007, 487p.



Já li muitos livros de Machado de Assis.  Mas não li todos.

Muitos desses contos eu já conhecia de outras seleções, já havia discutido e analisado em aula, já havia me deleitado.
Aprendemos todos os dias quando lemos O Bruxo do Cosme Velho.
Conforme o organizador da seleção de contos, John Gledson, Professor de Literatura Brasileira na Inglaterra, "Machado caminhava no fio da navalha..." ao escrever sua obra.
Desnecessário falar do vocabulário oitocentista de Machado, das descrições, das narrativas e tudo o mais.  O que percebemos é o sentido agudo da vida, das palavras certas no momento devido.  Conhecemos suas personagens que visitam desde o mais alto escalão da República até o mais humilde ser que possa ter existido em sua cabeça ou em nosso país, mais precisamente no Rio de Janeiro.  Dos salões da nobreza brasileira dos fins dos anos 1800, do início dos 1900, apresentando todas as categorias da sociedade, Machado enleva-nos com a sua prosa mágica.
Sobressai em muitos contos a questão de pessoas casadas que namoravam outras pessoas, tanto homens quanto mulheres.  A traição é um assunto ao qual retorna com frequência.  
Os bailes, os jantares, a fofoca, os saraus; uma grande quantidade de personagens formava-se em Direito, evidenciando o valor que era dado ao advogado naquela época.  A frivolidade das mulheres, dos homens, da sociedade em geral, sempre preocupadas com vestidos, jóias, chapéus, toilettes,..., apresentações teatrais, peças, óperas...
A citação de autores e obras, demonstrando a grande cultura do velho Machado...desnecessário comentar tudo.  A leitura se impõe.
A seguir coloco algumas pitadas machadianas de que gostei muito, tiradas de alguns contos; quem ficar curioso, leia o livro:
"...o melhor drama está no espectador e não no palco. (A chinela turca)".
"Rigorosamente, todas estas notícias são desnecessárias para a compreensão da minha aventura; mas é um modo de ir dizendo alguma coisa, antes de entrar em matéria, para a qual não acho porta grande nem pequena; o melhor é afrouxar a rédea à pena, e ela que vá andando, até achar entrada.  Há de haver alguma; tudo depende das circunstâncias, regras que tanto serve para o estilo como para a vida; palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução; alguns dizem mesmo que assim é que a natureza compôs a suas espécies. (Primas de Sapucaia)".
"O ponto cresceu, fez-se sol.  Fui por ali dentro, sem arder, porque as almas são incombustíveis.  A sua pegou fogo alguma vez? (A segunda vida)".
Leitura obrigatória e recomendada.


Finalmente consegui tirar este livro de Drummond da pilha! pudera: adquiri-o em Joinville em janeiro de 2017; com minhas tantas atividades, e outros tantos livros atravessando-se no seu caminho, fui degustando-o lentamente, sem pressa, nos momentos de sossego e paz.
Carlos Drummond de Andrade Nova reunião 23 livros de poesia, com 924 páginas finalmente foi concluído!
É a reunião de 23 livros do autor feitos pelos Editores da Companhia das Letras em 2015.
Drummond dispensa comentários, análises, explicações.
É para senti-lo. Sentir suas palavras, emoções, observações aguçadas, denúncias, posições.
Li-o com prazer, mas, também, com alguma surpresa.  Como no poema em que ele fala que a mucama limpa seu cocô, quando guri.
Creio que mesmo os monstros sagrados da literatura, eventualmente, ficam sem assunto, e qualquer assunto serve.  Ou quem sabe é para debochar, assustar, ver a reação?  Ele não está mais aqui para nos dizer.  E, se questionado, provavelmente nada diria. Quem foi mesmo que disse que a Literatura, a poesia, não é para ser explicada,  é para ser lida e sentida?
Nesta reunião de livros do poeta de Itabira, entendi melhor suas linhas de pensamento, seu posicionamento político frente as acontecimentos no Brasil e no mundo, suas denúncias do avanço do poder econômico sobre Minas Gerais e sobre o Brasil, nunca pensando no povo e nas consequências financeiras e sociais sobre a população; a invasão das grandes mineradoras, derrubando as montanhas mineiras atrás dos minérios...um grande amor do poeta pelo seu Estado e pelo Brasil.
Gostei demais do livro que encerrou a reunião, em que encontramos um Drummond sensual, romântico, olhos apaixonados e reveladores sobre as mulheres, que ainda não tinha percebido em nenhuma outra obra sua.  Um mistério sendo decifrado aos poucos.
Outro de nossos grandes escritores com um vocabulário riquíssimo que fez-me, várias vezes, recorrer ao dicionário para poder compreender seus versos.  Agradeço por mais esta experiência compensadora.
Destaco alguns trechos que me chamaram a atenção:

"Canto ao homem do povo Charlie Chaplin
(...)
Não há muitos jantares no mundo, já sabias,
e os mais belos frangos
são protegidos em pratos chineses por vidros espessos.
Há sempre o vidro, e não se quebra,
há o aço, o amianto, a lei,
há milícias inteiras protegendo o frango,
e há uma fome que vem do Canadá, um vento,
uma voz glacial, um sopro de inverno, uma folha
baila indecisa e pousa em teu ombro: mensagem pálida
que mal decifras.  Entre o frango e a fome,
o cristal infrangível. Entre a mão e a fome,
os valos da lei, as léguas.  Então te transformas
tu mesmo no grande frango assado que flutua
sobre todas as fomes, no ar; frango de ouro
e chama, comida geral
para o dia geral que tarda. (...)" (p. 201)

"VERSOS À BOCA DA NOITE
(...) 
E depois das memórias vem o tempo
trazer novo sortimento de memórias,
até que, fatigado, te recuses
e não saibas se a vida é ou foi. (...) (p. 174)

"ALIANÇA
(...)
...Enquanto prossigo
tecendo fios de nada,
moldando potes de pura
água, loucas estruturas
do vago mais vago, vago.
Oh que duro, duro, duro
ofício de se exprimir!
Já desisto de lavrar
este país inconcluso,
de rios informulados
e geografia perplexa.(...) (p.214)

Análise mais profunda das obras seria necessária, e um espaço maior e menos cansativo. Cada um que faça sua leitura e interpretação.












Créditos da imagem:
http://www.qualviagem.com.br/anchorage-e-uma-das-principais-cidades-do-alasca/

sábado, 11 de abril de 2020

EM TEMPOS DE RECOLHIMENTO





Estrutura do coronavírus, que tem esse nome por causa dos picos de suas membranas que lembram uma coroa
Imagem do coronavírus. Crédito da imagem ao pé do texto.


No último post referi-me à entrada em recolhimento forçado por causa do Covid-19. Segunda-feira completaremos quatro semanas em que encontramo-nos resguardados.
Tenho acompanhado inúmeros comentários, posts, memes, piadas sobre a situação no Brasil, assim como em outros países.
Alguns são hilários e nos descontraem um pouco da situação confusa em que encontra-se o mundo.
Outros são de preocupação extrema, chegando ao excesso, desespero, clima de apocalipse.
Outros tantos dizem ser um exagero impor à população mundial uma reclusão, o fechamento das cidades, as pessoas saírem o mínimo de casa, e quem puder, não trabalhar.  Isso inclui os aposentados, as crianças, pessoas com doenças pré-existentes, e quem puder trabalhar de casa.  E que, mais dia menos dia, todos seremos atingidos pelo vírus, então quanto antes, melhor, pois livra-se logo do problema, e vida que segue.  Além do que, "é uma gripezinha".
Ao observar o noticiário, a quantidade de mortos nos países da Europa, nos Estados Unidos e na Ásia, acredito não ser algo irrelevante.
Outros dizem que as estatísticas são favoráveis ao Brasil e ao seu povo, uma vez que aqui o inverno ainda não chegou, e a curva que mostra a evolução de pessoas infectadas e mortas não ter sido tão agressiva por aqui.  Por enquanto. O inverno baterá às nossas portas em julho.
Conversando com um médico que eventualmente me atende, e que é pneumologista, este disse-me que, infelizmente, a medicina mundial anda no escuro, tateando vários tipos de tratamento, na busca pela cura e pelo mínimo de pessoas infectadas ou mortas.  Estamos atrás de pesquisas, tentativas de erro/acerto com medicamentos, tratamentos, forma de ação.  Na dúvida, FIQUE EM CASA.  Vai diminuir a quantidade de pessoas infectadas e que possam vir a necessitar de internação hospitalar, UTIs, respiradores, etc.  Parece-me que este é o ponto principal.  Entendi que é provável que todos nós venhamos a nos contaminar.  Mas, quanto mais tarde, melhor; e quanto menos pessoas ao mesmo tempo, mais chance de sobrevivência em maior quantidade de pessoas, por não necessitarem usar o aparato hospitalar ao mesmo tempo.  Infelizmente, em todos os países, a quantidade de hospitais, leitos de UTI são regulados para um percentual fixo da população.  Numa epidemia, ou pandemia, não terá suficiente para todos ao mesmo tempo.  Como leiga na área da saúde, minha compreensão da doença, até este momento, é esta.
Entretanto, sabemos que nem todos os dados são informados à população.  Que alguns são escondidos, que há uso político da situação, que há várias posturas tanto de responsáveis pela área médica pública quanto pelos governos.
Como comentei há alguns dias com minha tia, só saberemos a verdade, ou parte dela, daqui a algum tempo.  Ou, talvez, nunca saibamos.  Só o tempo dirá.
Enquanto isso, fico em casa, estou faxinando, cozinhando, selecionando roupas, calçados, coisas inúteis dentro de casa, e lendo.  Quando posso, escrevo.  Mas...louca para dar uma saída, caminhar ao sol, chegar na livraria que serve cafezinho (o de lá é diferente!), voltar ao pilates e tantas outras atividades que faço habitualmente.
E esperando, com fé, não ser atingida pelo vírus, nem ninguém da minha família. Assim como espero que os cientistas, pesquisadores, médicos, encontrem rapidamente o medicamento que resolverá a pandemia, ou uma vacina que nos previna quanto à doença.  Que Deus nos proteja.

quarta-feira, 25 de março de 2020

TEMPOS SOMBRIOS OU OPORTUNIDADE?

Imagem de gripe espanhola, 1918. Crédito abaixo do texto.







"Em fins de 1918 começou grassar a epidemia terrível "influenza espanhola"; dava medo na gente, morria dois ou três  numa casa.  Em casa, só eu e o papai fomos atingidos; estivemos mal, mas graças a Deus vencemos.  E no fim de 1918 terminou a guerra que tanto afligia as nações."  (Maria Augusta dos Santos Carvalho.  Memórias da Vó Deza. Ijuí:Unijuí, 1987, p. 32.

Em tempos de comunicação no ciberespaço, estamos todos conectados e medrosos, alguns em pânico, outros debochando, dizendo que é manipulação da informação, sobre o Covid-19.

Há quem diga, e são os responsáveis pelos Ministérios da Saúde ao redor do mundo, assim como a OMS,  seguido por médicos locais em todos os países, que esse vírus é perigoso, mata mesmo, que é necessário recolher-mo-nos às nossas residências, deixando as ruas livres para o vírus circular e não encontrar ninguém onde inocular-se.

Há os incrédulos, falam em teorias da conspiração, que não vão deixar de trabalhar, que não vão ficar em casa, que a pandemia é um instrumento de poder e manipulação sobre os povos.

Há tempos adotei a seguinte posição: espero o tempo passar, as notícias consolidarem-se para posicionar-me.

Entretanto, quando os noticiários de todos os canais televisivos, das rádios, dos meios de comunicação através da internet, os médicos próximos da gente, o Prefeito da nossa cidade, o nosso Governador tomam medidas enérgicas de prevenção e cuidado, eu prefiro cuidar-me a arriscar a pele que meus pais me deram.  Vou verificar a veracidade dos fatos recolhida em minha casa, onde também estão minha filha e meu marido.

Meu marido e eu fazemos parte do que se convencionou chamar grupo de risco para coronavírus: ambos somos diabéticos, ele ainda carrega o Mal de Parkinson.  Pelas informações dos meios comunicativos, eu sou ainda mais frágil: hipertensão, doença celíaca (que é uma doença autoimune), intolerância à lactose e hipercolesterolemia.  

No dia 16 de março, segunda-feira passada, antes que o governo municipal, estadual e federal ditassem a regra do recolhimento - FIQUE EM CASA! - aqui no Brasil, eu já tinha me auto-recolhido, junto com meu esposo.  Estava assustada.
No dia seguinte, minha filha, que tem alergias respiratórias, espirrou.  Decretei que não iria mais à escola.  Dois dias depois a escola mandou todo mundo ficar em casa.

Comecei a raciocinar, ao mesmo tempo que desenvolvia uma estratégia para manter-me em casa em segurança, em paz, sem crises, sem pânico: um dia faço limpezas, cozinho todos os dias, noutro dia leio, noutro dia escrevo, vejo minha mãe duas vezes por semana (85 anos, grupo de risco máximo).  Tirei meu esposo de frente da TV, senão passaria o dia inteiro, cada vez mais apavorado, e tirando a temperatura mesmo sem qualquer indício de gripe.  Também eu estou tentando (às vezes sem sucesso, reconheço) acessar menos as mídias digitais, o whatsapp, o facebook, os e-mails.
Também acredito que a nossa geração, e a de nossos filhos e netos, que costumamos não ter tempo para nada, além de nossos inúmeros compromissos, podemos aproveitar este tempo de recolhimento compulsório, para fazer aquilo que estamos protelando há tempos, e está sempre no fim da lista de afazeres diários, mensais, anuais: temos, agora, a oportunidade de limpar um armário cheio de coisas inúteis que não temos coragem de pôr fora;  derrubar aquela pilha de livros que nunca temos tempo de ler; ver aqueles filmes maravilhosos para os quais nunca sobra tempo; aprender a pintar, escrever, cantar, fazer exercícios, cuidar das plantas, cozinhar aquela receita difícil e demorada, e tantas coisas mais que cada um de nós sabe o que é. Quem sabe estivéssemos esperando por essa oportunidade e nem sabíamos?  Quando a gente se der por conta, o período de quarentena passou e nem sobrou tempo para fazer tudo que queríamos.

Lembrei-me de minha avó, da citação acima, que morreu aos 85 anos, bem depois da gripe espanhola, que a acometera e a seu pai.  Eram outros tempos, quando não havia geladeira, tv, fogão a gás, SUS, um médico em cada esquina, grandes órgãos governamentais cuidando da saúde, entre outros.

Ela vivia na colônia, a forma de vida era precária, os recursos inexistentes, e só a fé em Deus, os cuidados familiares e a higiene faziam com que as pessoas sobrevivessem. Penso, também, que alguns genes mais fortes e generosos, tenham cuidado dela.  E ela sobreviveu, assim como sua família.  Tanto sobreviveu que aqui estamos nós, seus descendentes, enfrentando outra epidemia terrível.  

A minha esperança é que sobrevivamos, com fé, recolhimento, cuidados e prevenção.  E acreditando na medicina, que evoluiu muito nos últimos tempos.

Também julgo necessário mencionar que para que nós, do grupo de risco, possamos ficar em casa, em segurança, muitas pessoas que escolheram profissões consideradas essenciais à sobrevivência humana estão expostas ao vírus, exercendo suas funções com honra, galhardia, respeito à sua profissão e aos seres humanos, verdadeiros anjos escolhidos por Deus: cuidadoras de idosos, como Nair, Mari, Iloni, Alda e Clair, que se revezam cuidando de minha mãe acamada; farmacêuticos, médicos, laboratoristas, todos os funcionários de supermercados, gás, postos de gasolina, caminhoneiros, agricultores, enfermeiros, pessoas da limpeza tanto em residências como em empresas, e todas as demais pessoas que estão correndo riscos para que sobrevivamos: A TODOS, MUITO OBRIGADA!

Imagem:https://www.grupoescolar.com/a/b/gripe-espanhola-foi-provocada-por-um-virus-das-aves-2E.jpg


terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

ENQUANTO A AREIA DO TEMPO ESCORRE...


A ampulheta é uma imagem que, frequentemente, vem-me à cabeça.
É o tempo que escorre por entre os dedos e, uma vez passado, não volta mais, a não ser em nossa mente.
Vejo que não tenho escrito com frequência, o que não quer dizer que não tenha tido ideias ou assuntos.  Estive é muito ocupada e preocupada.  Nos últimos meses de dezembro e janeiro minha mãe esteve hospitalizada por 25 dias.  Agora está razoavelmente bem, recuperando-se.
Neste meio-tempo, li oito livros que abaixo comento.
E venho lendo outros dois que são compêndios das obras de Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. Leio enquanto respiro.


Aos livros, pois:



1. Tempos extremos, de Míriam Leitão.

É um romance com tons políticos, memórias e realismo fantástico.  A jornalista narra uma história um tanto confusa, que mistura a ditadura militar, tortura, tempos atuais e escravidão, contato com fantasmas de escravos. Descreve as paisagens mineiras, de onde provém, e relata acontecimentos durante o regime militar, nas décadas de 60/70.


2. Minha história, de Michele Obama.

Livro de memórias da mulher do ex-Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Narra desde a sua infância, suas dificuldades para estudar, trabalhar.  Relata quando conheceu o marido, suas dificuldades financeiras do começo da vida, o preconceito por ser pobre e negra, as profissões que desempenha, as campanhas políticas, a vitória, a vida na Casa Branca, e a despedida da mesma.
Um livro excelente, que aproxima o leitor de uma celebridade que, segundo ela mesma, sempre lutou e defendeu a possibilidade de as mulheres, de qualquer cor e status social, estudar, trabalhar, ser quem quiser ser.
Vale a leitura.


3. Elis e Eu, de João Marcello Bôscoli.

O filho de Elis Regina, nossa cantora muito amada e admirada, relembra seus 11 anos, 6 meses e 19 dias junto da mãe.
Uma história comovente, do ponto de vista do filho da maior cantora brasileira, morta ainda jovem, no auge da carreira, de uma forma assustadora.
Descobrimos que era uma mãe severa, exigente na educação dos filhos, com um grande coração não só em relação à família, mas também em relação às demais pessoas, ao povo, sempre preocupada com as questões sociais do seu tempo.
Muitas vezes enche os olhos de lágrima, durante a leitura, que vale a pena.


4. Cenas Londrinas, de Virginia Woolf.



Neste livro fazemos um passeio detalhado pela cidade de Londres, do ponto de vista de uma moradora. Casas de poetas, docas, Abadia de Westminster, ruas e muitos outros locais são descritos pela autora, que nos leva a belos passeios.

Muito boa leitura, dessa escritora inglesa.


5. Vozes do deserto, de Nélida Piñon.



Li este romance nas minhas férias deste ano, deitada em uma rede de um  hotel de águas termais no norte do Rio Grande do Sul.

Nossa grande escritora brasileira reconta a história das mil e uma noites de Scherezade e do Califa que matava suas noivas após a noite de núpcias.  Tudo por ter sido traído pela sultana, sua primeira esposa, com um magnífico escravo negro nos jardins do palácio. 
Uma história sensual, de persistência, de tensão, de exercício da memória e da contação de histórias, fato que vem sendo mantido pela humanidade através da ampulheta.
Excelente leitura.


6. Um remanescente da II Guerra Mundial, de Marli Sikierski.



Um breve relato, em forma de diálogo familiar, traz aos nossos dias o que foi a segunda guerra mundial, do ponto de vista de um pracinha brasileiro, Ceslau Meiger Filho.

Desde a chamada de voluntários para  aderirem à guerra, a concentração, o treinamento, o despreparo e preparo das tropas da FEB, e sua formação.
Narra a ida de navio americano para a Itália, a vida no front, os tiroteios, as bombas, as dificuldades, a morte de amigos e colegas a poucos passos dos sobreviventes, as minas, Cruz Vermelha, Marinha e FEB e o retorno, são e salvo.
Leitura dinâmica, rápida, envolvente, além de esclarecedora.
Marli é minha colega no Círculo de Escritores de Ijuí Letra Fora da Gaveta,  e nesse livro relata a história verdadeira vivida por seu pai.
Ótima leitura.


7. Prólogo, ato, epílogo, de Fernanda Montenegro.



Embora seja um livro de 342 páginas, devorei-o em dois dias.

Todos nós temos curiosidade de saber a biografia de pessoas ilustres, que estão na mídia, artistas importantes e admirados não só por nós, brasileiros, mas também por estrangeiros.
Fernanda Montenegro é uma dessas pessoas que nos fazem sentir orgulho de ser brasileiros.
Conhecida do grande público por sua atuação em novelas de televisão - o que é o meu caso -, mas sabendo que é a grande dama do teatro brasileiro, de filmes maravilhosos de grande qualidade.
O relato de Fernanda/Arlette é dinâmico, a escrita flui naturalmente, um vocabulário acessível e erudito, ao mesmo tempo, remetendo-nos às grandes obras nacionais e internacionais do teatro e do cinema.
Têm-se a ilusão, observando-se os artistas de longe, de que são todos milionários, e que suas vidas são um mar de rosas.  Ledo engano, pelo que descreve nossa querida atriz carioca.  Enfrentou, junto com o marido e os colegas de teatro, grandes dificuldades financeiras para, durante sua longa jornada, conseguir montar seus espetáculos.
Nesse livro consigo entender por qual razão os grandes espetáculos dos melhores autores e maiores atores não chegam até nós, no interiorzão do Brasil: por causa das dificuldades de transportar os cenários, as roupas, custear as viagens, alimentação e o sustento de toda a equipe que compõe o espetáculo.  Infelizmente.  Não sei se algum dia irei vê-la atuar pessoalmente; só se eu for para uma das grandes capitais brasileiras em que se apresente.
Fernanda também nos confidencia sua ascendência italiana e portuguesa, conta a história de sua família, dos avós aos filhos.
Excelente relato, vale a leitura.


8. Todas as mulheres dos presidentes, de Ciça Guedes & Murilo Fiuza de Melo.



"A história pouco conhecida das primeiras-damas do Brasil desde o início da república" é um relato da biografia das mulheres dos nossos presidentes desde a proclamação da república.

Tenho tido interesse por biografias, nos últimos tempos, o que, penso, aproxima nós, leitores, das pessoas públicas, tornando-as mais palpáveis, humanas, menos esfinges inalcançáveis.
Bastante interessante o conhecimento dessas mulheres, a grande maioria sombras de seus maridos, silenciosas por detrás deles, muitas vezes subjugadas e todas traídas pelos maridos, com todo o tipo de amante.
Muitas delas escolhidas por eles ainda crianças, algumas primas dos maridos, algumas escolhidas pela beleza - facilitando a exibição - a maioria escolhida pela educação e situação de submissão.
Exceção a Doutora Ruth Vilaça Corrêa Leite, esposa de Fernando Henrique Cardoso, que era colega de faculdade do marido, e que não exerceu a função de primeira-dama nos moldes das antecessoras e sucessoras.
Interessante conhecer Nair de Teffé Von Hoonholtz, uma mulher adiante de seu tempo, segunda esposa de Hermes da Fonseca. Poliglota, educada na Europa como uma princesa, era da aristocracia: neta do conde prussiano Frederico Guilherme Von Hoonholtz e filha do Barão de Teffé, herói da batalha do Riachuelo. Sua mãe também provinha da aristocracia.  Essa não foi submissa, assim como a Dra. Ruth Cardoso.
A grande maioria das primeiras-damas limitava-se ao curso normal, formadas professoras primárias; estudo até o quarto ano primário Marisa Silva, mulher do Lula.
Muito poucas com curso superior, mas todas muito inteligentes, educadas, perspicazes, influentes junto aos maridos.
Excelente leitura, faz-nos ficar com ainda mais raiva dos presidentes, pela subjugação de suas mulheres.