domingo, 9 de junho de 2019

ENVELHECER



                        Dedicado a quem já envelheceu,
                        A quem está envelhecendo
                        E a quem envelhecerá.









Minha mãe, pegando um pouco de sol. Proibida a reprodução desta foto. Direitos reservados.

Perguntei a uma jovem: o que é envelhecer?
- É falar de dores, de remédios, de médicos,
Dos filhos, dos netos,
“no meu tempo”....
“não esqueça o casaco e o guarda-chuva...”
“está frio...”

Sob a ótica da juventude,
E de acordo com as vivências observadas,
Talvez seja este um ponto de vista válido.

Mas...reflitamos:
O passear pela vida,
Quando não se parte mais cedo,
Pode ser entendido
Como algo sem medo.

Ao invés da pressa, a calma;
Ao invés da arrogância, a afabilidade;
Ao invés de decisões irrefletidas, a ponderação;
Ao invés de instigar, pacificar;
Ao invés da parcialidade, a imparcialidade;
Ao invés do desperdício, a parcimônia;
Ao invés do sofrimento, o contentamento;
Ao invés da vingança, o perdão;
Ao invés da temeridade, a prudência.

Tiremos a audácia, substituindo pela pusilanimidade;
A quimera, pela realidade;
A insensatez, pela razão;
A afoiteza, pela moderação;
A crueldade, pela misericórdia...

Envelhecer nos deixa mais leves
Nos leva a reconhecer as faltas cometidas
E a aprendermos a nos absolver
E a relevar os erros que cometeram contra nós.

Nos deixa mais cuidadosos
Conosco e com os outros.
Vamos nos purificando lentamente,
Nos despindo do desnecessário,
Da tralha toda que carregamos, pesadamente,
E alimentamos durante nossas vidas.



Lorení/14/10/2018.

CONTEMPLAÇÃO








Resultado de imagem para estrelas no céu cruzeiro do sul
Imagem da internet; crédito do endereço eletrônico abaixo.
  





        Após o jantar reuníamo-nos ao pé da escada, do lado de fora da velha casa de madeira.
        Ignorávamos os pernilongos, que zumbiam em nossos ouvidos e nos picavam incessantemente.
         Perscrutávamos o céu, encontrando as Três Marias, o Cruzeiro do Sul, e todas as outras que lá permaneciam penduradas.
      Ficávamos horas conversando, fazendo planos, admirando também a lua, que escondia-se, por vezes, atrás das nuvens: meu pai, minha mãe, meus irmãos e eu; o pai e a mãe em cadeiras, nós quatro nos degraus da escada.
         O lugar onde morávamos, no lado sul da cidade, era alto em relação ao resto da cidade.
         Víamos cintilar, além das estrelas celestes, o pisca-pisca das luzes da cidade, abaixo e ao longe.
         Imaginávamos o futuro. Imaginávamos histórias de vida para cada luz de cada casa; ignorávamos as luzes de eventuais postes.
         Às vezes, uma estrela cadente riscava o céu; ficávamos alvorotados, e fazíamos um pedido.  Não recordo se algum deles foi atendido.
        Outras vezes, víamos luzes se movimentando no céu; ficávamos na dúvida: seriam aviões ou seriam as naves que circundavam a Terra, pois era no período das viagens de exploração, disputas de russos e americanos?
         Mantínhamos o cuidado frente à recomendação de não apontar o dedo para as estrelas, pois poderia criar verrugas – acreditávamos piamente nisso.
           Nesse mister passávamos um longo tempo, enlevados, distraídos, unidos num só olhar, até que o sono batesse ou começasse a doer o pescoço.
          Porém, o bom de tudo, é que estávamos reunidos, trocávamos ideias, nossos pais nos ensinavam, e aproveitávamos que o céu era limpo, não havia poluição, nem outras diversões com as quais pudéssemos nos entreter.


Ijuí, 13/3/2019.


(Imagem: https://images.app.goo.gl/EVJVPbLWwcPC2SKj7  )