sábado, 16 de maio de 2015

Sexagenária


   











 Quando eu era criança considerava que as pessoas que tivessem em torno de 50/60 anos eram velhas.  Quando eu nasci, minha avó materna tinha 51 anos, e foi a avó com quem mais convivemos; ela nunca pintou  o cabelo, então de grisalhos a brancos não demorou muito tempo. Ainda vivia minha bisavó, com 78 anos, a quem chamávamos "vó velhinha", para distinguir da que era mais nova, sua filha. Vó velhinha já era bem judiada, como se diz, cabelinho branquinho, sempre de coque, roupas compridas, um cachecol ao redor do pescoço.
     À medida que o tempo foi passando, e com a evolução ocorrida na vida, nos costumes, na medicina, na educação, na moda, minha mentalidade foi acompanhando. Também meus estudos fizeram minha cabeça.
     Hoje, logo após ter completado sessenta anos, não me considero velha.  Não que os achaques da idade não tenham começado a chegar: dor aqui, dor ali, um desgaste aqui, outro acolá, a geada queimando meus cabelos outrora pretos, alguma dificuldade para andar, dançar, fazer exercícios...
     Todavia, a cabeça julgo boa, aliás, ótima.  Continuo amando a leitura, o estudo - até penso em fazer um doutorado -, as viagens, gosto de caminhar e fazer exercícios, embora de forma um pouco limitada.
     E achei o meu estilo.  Não saberia me definir - alguém sabe?  Sem rótulos, como já pedi em outra postagem. Em síntese, a moda não me pega mais.  Na juventude, a ditadura da moda me pegou direitinho - eu queria acompanhar meu tempo, seguir as tendências e, segundo uma famosa revista, ser "antenada".  Embora sempre com olho crítico, fiel ao espelho,  não usando o que considerasse ridículo em mim, durante muito tempo fui escrava das revistas/jornais/conselhos sobre moda. Mesmo com condições financeiras precárias, tinha uma costureira perto de minha casa que copiava os modelos das famosas para mim; os tecidos eram baratos, a mão de obra também, então me sentia feliz.  Creio que consegui libertar-me, e hoje só uso o que gosto, que seja confortável, e com o que me sinta bem. Sapatos muito altos, jamais; de bico fino, só mandados fazer de acordo com meus pés.
     Minhas avós, tanto materna quanto paterna, não tiveram condições de estudar; nem minha mãe. Nem meus avós, nem meu pai.  Já para mim, o estudo é algo orgânico, inerente a minha pessoa.  Tanto meus pais repetiram a nós, seus quatro filhos, que sem estudo não seria ninguém, que esta afirmação calou fundo em minha mente.  Amo estudar, dou o maior valor às pessoas que estudam, e fiz tudo que pude para meus filhos mais velhos chegarem, pelo menos, ao curso de pós-graduação que eu e meu marido alcançamos.  Eu tenho três graduações e um pós.  E pretendo encaminhar a mais nova até o doutorado, se ela quiser.
     Ser avó.  Este era, também, um dos meus sonhos.  Meus filhos mais velhos já me permitiram realizar este sonho.  São três meninos e uma menina, um mais lindo que o outro, todos muito inteligentes, queridos, carinhosos, educados.  Fazem a minha alegria e de meu marido. Embora não morem na mesma cidade que eu, quando nos encontramos sempre é motivo de festa, e ocasião especial para um "churrasquito", como diz um deles.
     E para registrar  o fato de chegar à idade em que as leis brasileiras nos consideram pessoa idosa, fiz uma festa, com tudo a que achava que tinha direito.  Chamei a família, as pessoas amigas mais chegadas, e fizemos um jantar, com direito a cardápio especial (sou celíaca e havia muitos diabéticos na festa), música com dj e dança, com músicas escolhidas a dedo por mim.  Afinal, a festa era minha;  quando vou na festa dos outros, tenho que aguentar até as músicas que não gosto.
     E continuo amando as flores, principalmente as rosas vermelhas, como também continuo gostando da cor vermelha; não é por que o tempo passou que deixei de gostar de algumas coisas das quais gosto desde criança.  A minha menina continua viva dentro de mim.
     Afinal, como disse meu irmão, agora somos 'sexigenários', os sexagenários sexis (e sempre que vejo esta palavra, me lembro da princesa Isabel, que sancionou a lei dos sexagenários escravos.  Creio que me libertou também). Nem que seja só na cabeça...


                                         




     
     


     

5 comentários:

  1. Lindo o teu texto, assim como foi a tua festa, impecável! Estava tudo lindo, e tu, além de excelente anfitriã, estavas linda!! E agora és idosa também (lembras??? kkkk)! Só resta agradecer pelos momentos maravilhosos e divertidos que passamos (pena que meu joelho não colaborou muito).

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  2. Nunca esquecerei, mas fui perdoada, né, tia Nara?

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