domingo, 27 de agosto de 2017

À espera de setembro







Lembro de um título de filme que creio não ter assistido,  pois era criança: Quando setembro vier.  Vou pesquisar e ver se ainda existe. Lembrei-me dele pelo título deste post.
Mas neste 27 de agosto, vamos vivendo em um clima completamente maluco em nossa região: hoje estava quente pela manhã, choveu, esfriou ao meio-dia e agora está calor de novo. Haja saúde.
E esperamos por setembro, pois a coisa regulariza um pouco, só um pouco... e daí começam as alergias da primavera, compensadas pelo bálsamo das flores, eternas inspiradoras de românticos e apaixonados, bem como de muitas outras pessoas que as apreciam. 
Antevendo este clima, leituras não muito amenas.  Acompanhando o clima atual, não o futuro. A elas: 


 Quem, eu? de Fernando Aguzzoli, um tomo de 190 páginas, com fotos, diálogos, comentários e a história verídica de um rapaz que conviveu, dentro de sua casa e com sua família, com a avó materna que teve o mal de Alzheimer.  Descreve, com amor e humor (a forma que ele e a família resolveram encarar um problema de saúde tão grave), um grande toque de humanidade, carinho e respeito, do início da doença da avó até o seu falecimento.  Os trechos distintivos das várias etapas da doença contêm explicações remissivas de médicos e os diversos técnicos em saúde que os auxiliaram durante a doença, ou ele pesquisou.  
Chamou-me a atenção o livro pois minha mãe sofre deste mal, e muitas vezes pensamos que somente nós, os familiares, passamos por diversas situações-limite; entretanto, com esse relato, verificamos que não estamos sós, e que podemos divulgar e repartir com outras pessoas informações que possam ser valiosas.  Excelente. Humano.

Aguzzoli, Fernando. Quem, eu?: Uma avó. Um neto. Uma lição de vida. -2ªed.rev.ampl.-São Paulo:Paralela, 2015, 190p.




Shakespeare foi meu outro companheiro por estes dias. O rei Lear, numa edição de bolso, mostrou-me essa peça teatral escrita pelo "bardo" em 1605. Em cinco atos e múltiplas cenas, vemos o império do Rei Lear ruir ante uma incompreensão sua em relação à filha Cordélia que não quis ser puxa-saco com ele, dizendo-lhe que o amava, mas não ia ficar rasgando seda, o que suas irmãs Goneril e Regane fizeram; então o rei distribuiu seu reino entre as filhas mais velhas, deserdando Cordélia.  Essa, então, casa com o Rei de França e vai embora.  Após muitos acontecimentos e entraves, quase todos morrem, mas o pai fica conhecendo a personalidade de cada filha e o que as mais velhas nunca fariam por ele - defendê-lo, protegê-lo e cuidar dele na velhice- e a mais nova tentou fazer, mas não deu tempo.  Excelente, como não poderia deixar de ser.

Shakespeare, William. O Rei Lear.-São Paulo:Martin Claret, 2010, 190p.



Voltando aos conhecimentos históricos e políticos brasileiros, em texto do professor, escritor e jornalista Juremir Machado da Silva, conheci o Presidente da República que governou o meu país na época em que eu era criança - de 1961 a 1964, tendo sido vice-presidente da república no governo anterior, de
Juscelino Kubitschek. O livro Jango a vida e a morte no exílio,  ajudou-me, mais um pouco, a entender meu país.
Numa narrativa em flashback, Juremir vai e volta nos acontecimentos brasileiros desde 1961 ao golpe militar de 1964, tanto na política como na vida nacional e, também, vai montando a personagem João Goulart.  Passamos, pela ótica desse autor, a ver quem era o ex-presidente, como vivia, quem eram seus familiares, seus principais assessores, as pessoas que o influenciaram tanto na vida como na política, até a sua morte na Argentina, em 1976.
Apresenta os ditadores militares que governaram o Brasil de 1964 a 1985, suas formas de atuação e repressão, bem como o permanente cerco ao
Jango no exílio, para ter certeza de que ele não voltaria ao Brasil.  Não o deixaram nem vir à sua cidade natal, São Borja.  Mantinham, ininterruptamente, espiões em sua casa, suas empresas, em seu trabalho, junto a ele, à mulher e aos filhos, amigos, vizinhos, sócios, etc; não lhe deram sossego até a sua morte. Não lhe permitiram retornar, muito menos pensar em voltar à vida pública e, segundo algumas pessoas descritas no livro, foi morto por envenenamento a mando do ditador da época.
Muito bom o livro, embora cansativo, pois desvenda uma página da nossa História que muitos não querem abrir.

Silva, Juremir Machado da. Jango: a vida e a morte no exílio.- 3ªed.- Porto Alegre,RS: L&PM, 2013, 372p.



Ainda na política, acontecimentos mais recentes narrados por Ricardo Westin, jornalista, em A queda de Dilma.
Comparando o governo de Dilma Roussef ao livro O Príncipe, de Maquiavel, o autor descortina o que ele entende por razões pelas quais a Presidente caiu: por não seguir as orientações maquiavélicas.  Ela decidiu, segundo ele, governar pela própria cabeça, não aceitar conselhos, ignorar o povo, mas, também, ignorar os políticos que poderiam auxiliá-la.  Num governo de coalizão como tende a ser o nosso, ela tinha enormes dificuldades de conversar com os demais políticos e partidos, fazer concessões e negociações, o que levou-a à solidão e ao impeachment. E,  também, suas decisões descabidas.
Somente duas partes vou lembrar do Príncipe: "O medo constante é um poderoso instrumento capaz de manter a lealdade".
"Faz as maldades de uma só vez e as bondades a conta-gotas". 
Comentário no meio do livro: manda um assessor dar as notícias ruins, e dá tu mesmo as notícias boas.
Bom o livro para saber o que poderia ter sido mas não foi.  Para o bem, ou para o mal, seja lá o que isso signifique nesse caso.

Westin, Ricardo. A queda de Dilma.- São Paulo: Universo dos Livros, 2017, 192p.