quinta-feira, 30 de junho de 2011

A casa dos avós maternos.

          Como não sou uma pessoa importante, uma celebridade como se diz hoje, que os jornalistas ou escritores vão querer fazer minha biografia ou escrever minhas memórias, vou relatando, eu mesma, coisas que me recordo e que tiveram alguma importância para mim.  Se alguém lê meu blog, é por que gosta dos meus escritos.        
          
            Meus pais moravam na cidade de Santo Ângelo e minha mãe veio, com meu irmão mais velho, visitar os pais antes do meu nascimento, e eu me apressei, nascendo em outra cidade que não a da residência deles.  O dia era 10 de fevereiro, aniversário de meu avô, Bento.  Ele ficou muito feliz, conta minha mãe, e todos os anos, enquanto ele viveu, comemoramos juntos o aniversário, com um churrasco. 

           Fiquei dez dias sem nome, até que meu pai viesse me conhecer e decidir com a mãe que nome eu teria; o pai queria um, a mãe outro, no fim decidiram pelo segundo nome de minha madrinha.  Naquela época, as viagens entre Santo Ângelo e Ijuí demoravam muitas horas, embora distem em torno de 50km;  eram  feitas de ônibus, em estradas não asfaltadas – estradas de terra ou de chão, onde levantava muita poeira em dias secos, ou os ônibus atolavam se chovesse, devido ao barral; ou de trem Maria Fumaça, e também levava muitas horas para chegar ao destino.

            Na casa de meus avós sempre tinha muita gente; minha mãe tinha 7 irmãos, alguns já estavam casados.  Minha avó tinha muitas vizinhas, e estas também tinham muitos filhos.  Era uma quadra cheia de crianças e jovens de todas as idades; todos se conheciam, eram amigos, brincavam e faziam artes juntos.

            Depois de algum tempo, meus pais alugaram uma casa perto da minha avó e ficamos morando ali até mais ou menos meus 7 anos.

            Minha avó amava  fazer docinhos de leite – que eu adoro comer até hoje -, de abóbora e outros doces, além de “schmier”  (um doce pastoso, cujo nome é de origem alemã,  mais denso que a geléia, feito com a polpa de frutas)  para passar no pão, além de  geléias, bolos, cucas, bolachas coloridas e muitas outras delícias que enchiam os olhos dos netos e de outras crianças, e deixava todo mundo com água na boca.
 

            Meu irmão e eu somos os netos mais velhos na família materna.  Isto trouxe-nos um encargo muito grande em relação à primaiada mais nova.  Alguns primos nem chegaram a conviver conosco pois nasceram muito depois, uma vez que os tios mais novos, com idade próxima da nossa, tiveram os filhos mais tarde.

            Mas do que queria falar era da casa da vó.  Ela plantou muitas árvores frutíferas nos fundos do lote: tinha laranja, bergamota, pêra, pêssego, figo, limão, entre outras, além de uma horta com todo tipo de verduras e legumes, pois era agricultora  na sua juventude, além de professora primária.  Num lado tinha mais bergamotas , e na frente tinha a árvore “dos netos”, que era uma laranjeira de umbigo muito alta e que dava muitos frutos; ao seu lado, tinha um pé de romã, que nunca mais vi outro igual, e nunca mais vi romã, depois que o pé morreu.  Também tinha muitas flores na frente, margaridas, rosas, cravos, amores-perfeitos, hortência e muitas outras variedades, além de um pé de primavera que, na minha lembrança, evolava perfume o ano inteiro. Toda vez que a gente chegava na casa da vó, ao passar pelo portão, sentia o perfume delicioso da primavera; era embaixo dela, em sua sombra e aspirando seu perfume,   que meu avô sentava para tomar chimarrão toda tardinha, e ver o movimento; enquanto moramos perto deles, eu pegava minha cadeirinha, minha cuia e bomba minúsculas e sentava ao seu lado, também para ver o movimento. Era sua companheirinha.  Talvez por isto os primos mais novos não entendam o amor que sinto pelo local da casa de meus avós,  que era de madeira e não existe mais; creio que nem a primavera foi mantida pelos atuais moradores.

                                                                         Romã

                    

                                     Creio ser parecida com esta a primavera perfumada.
                                                             Imagem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://lua.weblog.com.



                                                                     Jardim
                                        Imagem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://toaquiemcasa.files.wordpress.com

           Eu adorava passar na frente e ficar olhando para o jardim da vó, que ela cuidava com muito carinho, preparando a terra, plantando as árvores  e flores, tirando os matos e mantendo o terreno limpo e agradável aos olhos e ao olfato.

Era uma casa simples, mas que cheirava a coisas gostosas, ao carinho dos avós, ao amor da família, às árvores perfumadas e às frutas gostosas que comíamos com prazer até ficar satisfeitos. É com saudade que recordo dos meus avós, pessoas muito queridas e importantes na minha vida, que me acompanharam em uma parte da minha infância:  meu avô, até eu completar 8 anos, quando ele faleceu, o que me deixou muito triste; minha avó teve vida mais longa, e fomos muito amigas até seus 85 anos, quando, então, ela nos deixou.  Antes disso, ela escreveu suas memórias, as quais  revisei, e foram publicadas pela Livraria Unijuí Editora: “Memórias da Vó Deza”, nas quais ela relata sua vida e muitos acontecimentos históricos ocorridos na Região desde o começo do século XX.





           

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Menininha na pré-escola

                               Dedico estes versinhos à minha filhinha Heloísa.

De manhã, bem cedinho
Ainda caindo de soninho,
Vou contente pra escola
aprender, brincar, jogar bola.

Alegremente, vou todos os dias
Descobrir o mundo da escrita,
dos sonhos, das fantasias,
do teatro, mundo que me agita,

e que deixa meus olhos brilhantes,
meu coração palpitando
minha alma feliz, cantando,
ao desvendar tantas coisas interessantes.

Com os amigos corro, brinco,
salto, pulo corda, jogo amarelinha,
deslizo no escorregador, e sinto
muita felicidade ao brincar de casinha.

Como é bom ser criança!
E guardar na lembrança
tantos momentos gostosos
em dias tão radiosos!

13.09.2007.

                                   

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Mais um pouco de leitura.

          Cultivando meu modesto vício, eis mais um comentário sobre leitura que a alguns vai agradar, e a outros vai chatear.  Cada um com seu cada qual.  Meus e minhas blogtores, neologismo que inventei para leitores de blog, mais literatura, agora sonetos:
        Ao deparar-me com este livro numa banca, senti-me como se tivesse retornado aos meus 20 anos, ao Curso de Letras, às aulas do Mestre, Dr. Deonísio da Silva, no auge da ditadura militar.  Hoje relembrando, e após ter-me informado do que realmente aconteceu naquele período, penso que deve ter sido muito difícil a ele dar aulas de literatura brasileira e portuguesa às alunas cabeças-de-vento, num período em que só o fato de ser professor universitário deixava-o em risco de vida.  Devo desculpas ao mestre pela minha incompreensão e ignorância do momento, vivendo nos recônditos rincões do noroeste do Rio Grande do Sul, num período em que o que eu mais gostava de fazer era ler, namorar, dançar e ir ao cinema.  Política não me interessava, e a tal da repressão acontecia nos grandes centros.

        Mas o nome da poetisa portuguesa ficou grudado em minha alma, por estranho o sobrenome: Espanca.  Por algum tempo tentei localizar algum livro dela, mas nem em biblioteca, nem em livrarias de grandes centros os encontrava, visto que, em minha pequena cidade, livraria era contrabando , e nem a biblioteca da faculdade  tinha os livros que precisávamos –  naquela época, eram objetos raros e tínhamos a maior dificuldade do mundo em lê-los para entender as disciplinas e concluir o curso.

        Pois estes dias, andando numa banca em Londrina,  dei de cara com a dita cuja, e lembrei-me do mestre e das aulas.  Graças ao projeto da editora que publica a obra prima de cada autor, pude então contatar tão antiga poetisa portuguesa, mencionada e nunca encontrada.

        Tal poetisa nasceu em 1894 em Vila Viçosa, Alentejo-Portugal e suicidou-se em 8 de dezembro de 1930. Este livro contém sonetos publicados em Livro de Mágoas, Livro de Soror Saudade, Charneca em Flor e Reliquiae. Transparece por todos os sonetos, um sentimento de tristeza, deslocamento, morte, depressão parece, desalento com o mundo, a vida e o amor.  Mas alguns raros versos contêm alegria, luminosidade, exuberância e cor.  Apesar de muito tristes, gostei do livro pelo fato do conhecimento de uma autora de língua portuguesa que foi, pelo que diz na biografia rápida junto ao livro, uma feminista precoce e uma poetisa de rara sensibilidade e de alto valor em sua terra natal.

        Abaixo, um dos sonetos alegres da autora, já que de tristezas e desgraças estamos todos cansados:

                        HORAS RUBRAS

Horas profundas, lentas e caladas,

Feitas de beijos sensuais e ardentes,

De noites de volúpia, noites quentes

Onde há risos de virgens desmaiadas.



Oiço as olaias rindo desgrenhadas...

Tombam astros em fogo, astros dementes,

E do luar os beijos languescentes

São pedaços de prata p’las estradas...



Os meus lábios são brancos como lagos...

Os meus braços são leves como afagos.

Vestiu-os o luar de sedas puras...



Sou chama e neve branca e misteriosa...

E sou, talvez, na noite voluptuosa,

Ó meu Poeta, o beijo que procuras!




ESPANCA, Florbela. Sonetos. SP: Martin Claret, 2002, 121p.

domingo, 19 de junho de 2011

Vamos dar uma volta no tacho?

      Tem uma coisa que sempre me perseguiu na infância, que era a dificuldade da compreensão de palavras ou expressões desconhecidas.  Não só na infância, mas pela vida afora.
     Minha querida avó materna, dona Maria Augusta, apelidada Dêza, portanto, vó Dêza, brincava comigo e com meus irmãos, quando ia sair por qualquer razão, dizia que ia dar “uma volta no tacho”, expressão usual no Rio Grande do sul da década de 60.  Na minha inocência, um dia que tinha ido junto com a vó a algum lugar, que não recordo mais onde era,  perguntei pra ela quando chegamos: - vó, aqui que é o tacho?... eu não entendia que era só uma expressão, achava que tacho era algum lugar.
       Naquela época, ainda não existia televisão, pelo menos na nossa região...é, sou antiguinha...devia haver em casa de famílias ricas, mas na nossa só chegou quando eu tinha 15 anos.  Então, ouvia-se rádio o tempo inteiro, da manhã à noite.  Ouvíamos as rádios locais, ouvíamos a Guaíba e Gaúcha de Porto Alegre (ondas médias e curtas, e freqüência modulada....nunca vou esquecer, embora não soubesse o que era isto...), ouvíamos a rádio El Mondo de Buenos Ayres, que tocava tango o tempo inteiro, e tinha umas propagandas engraçadas. Ah, a BBC de Londres e A Voz da América, não sei exatamente de onde, mas sei que era americana em língua portuguesa.

            Ouvíamos música, noticiário, futebol, muita propaganda, e...novelas!  Ouvíamos  novelas... e a imaginação fluía e viajava, na interpretação de atores que, posteriormente, se transformaram, muitos deles,  em atores televisivos e  cinematográficos.

            O direito de nascer, Redenção, A dama branca, entre muitas outras, são alguns dos títulos que recordo, da minha infância de ouvinte de novelas, por incrível que possa parecer.  E aprendia muitas palavras com isto; quando não conhecia, perguntava pra minha mãe o que que era. Tem uma que nunca vou esquecer, pois causou, fiquei sabendo depois, um trauma em uma pessoa: bastardo. Em alguma novela devo ter ouvido esta palavra, e perguntei pra mãe, que me disse ser o nome que se dava a crianças que nasciam fora do casamento, seja por a mãe ser solteira, ou se fosse, suponhamos, amante de um homem casado, este filho seria bastardo.  E mais disse minha mãe, que um filho bastardo não tinha direito a herança do pai.  Eu fiquei impressionada; conhecia uma pessoa muito próxima de mim, cuja mãe era solteira e, na minha inocência, sem malícia, achando que estava empregando bem uma palavra recém aprendida, quando a vi, disse: tu sabia que tu és bastarda?

       Continuei na minha vida de brincadeiras, e, muitos anos depois, fiquei sabendo que aquela pessoa me odiava pois a tinha chamado de bastarda. Eu não tinha, naquela época, a compreensão da extensão do que estava dizendo, nem sabia que podia magoar alguém com isto.

        Havia umas propagandas que diziam: - encontre tal coisa nas boas casas do ramo.  Lá vou eu perguntar pra mãe: - mãe, onde ficam as boas casas do ramo?...eu era ‘inotchente!’ como dizem os italianos.

         E os homenzinhos do rádio? Eu virei muitas vezes o rádio de ponta cabeça, tentei abrir, espiar pra dentro pra descobrir como eram e como viviam os homenzinhos que falavam dentro do rádio....estes tempos descobri que algum escritor, não lembro mais quem, também procurou estes homenzinhos...não tô sozinha no páreo...


               E o cinema...ah, o cinema! A primeira vez que fui ao cinema devia ter uns sete anos; fui com a minha querida tia, seis anos mais velha que eu, e que tinha uma paciência de Jó comigo.  Lá pelas tantas começou a chover no meio do filme...raios, trovoadas...e eu fiquei com medo e queria ir embora! Comecei a chorar e estraguei o filme dela, que teve que me levar embora.  Quando saí lá fora, vi que continuava uma linda tarde de sol, daí que fui entender que era só o filme...  então queria voltar¸ mas daí já não dava mais.  Depois acostumei, assistia aos filmes do Jocelito,  os desenhos da Disney, morria de medo da bruxa e do dragão da Bela Adormecida...aprendi a amar o cinema.


(Imagem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.laboratoriopop.com.br/imagensUpload/bruxa-da-bela-adormecida-a5719.jpg&imgrefurl=http://www.laboratoriopop.com.br/temporeal/malefica-bruxa-de-a-bela-adormecida-
     
       Eu adorava subir em árvores, nas ‘grimpas’, muito moleca, irmã única de três irmãos; brincávamos de avião, eu adorava sentir a brisa balançar meus cabelos nos galhos mais altos das árvores, geralmente os pessegueiros.  Eu subia com uma faquinha na cintura do short, sentava num galho grosso, escolhia os melhores pêssegos, que estavam maduros mas não bichados , primeiro aspirava aquele cheirinho gostoso de pêssego maduro, e depois comia até ficar satisfeita.  Quando a mãe via, lá vinha – menina, desce daí, que perigo!  A única coisa que eu não conseguia fazer era virar cambota no galho.  Me lembro que os guris faziam isto, mas..disso eu tinha medo!



             Quando os amigos não estavam por perto, meus irmãos me deixavam jogar bolita com eles, me emprestavam a joga, me ensinaram a nicar, acertar no tejo;  a gente jogava às brincas, por que eu era guria, eles não iam jogar as devas comigo...

Imagem do google


            Aa gente brincava de roda com a vizinhança, jogava caçador no meio da rua, eu adorava!  Pulava corda, brincava de ‘letz’, que para muitos hoje se chama ‘pega’. Diabo rengo, brincar de abóbora, de passar anel... nem lembro de tudo...bons tempos, embora pobres, não houvesse calçamento na rua, saneamento e outras coisas.  Mas isto é assunto pra outro dia.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Nós, brasileiros, não somos racistas.

     Este é um tema que me é muito caro.  Antes de tudo, evidencio que, lá trás, não consegui descobrir ainda onde  nem quando, devo ter tido algum ascendente negro, pois meus cabelos são crespos, altos e grossos.  Na adolescência era muito infeliz por este fato, pois alguns colegas de origem alemã, da cidade onde nasci e vivi até a juventude, me chamavam de " bombril".  Para uma adolescente, isto era o fim.  Fiz de tudo na época para resolver o "problema" dos cabelos; a famosa touca, tentando alisá-los.  Mais tarde fiz as pazes com meus cabelos, e hoje convivo bem com eles, sabendo que têm o seu charme e que não há outro jeito, tenho que viver com eles até o fim da minha vida. Mas a cor da minha tez é branca.  Descendente de portugueses, pelo sobrenome.

 
                                          
Tem sido motivo de muita discussão nos últimos tempos, aqui no Brasil, a questão das cotas raciais.  Os  movimentos negros "criminalizam" a forma de chamar as pessoas de negros, como se fosse uma agressão.  Então chamar um descendente de japonês no Brasil de japonês ou "japa" também é crime; "alemoa", para as alemãs,  "gringo" para os italianos, "polaco" para os poloneses, enfim, todos os vocábulos que se criaram com a recepção, no Brasil, de quem quis mudar-se para cá, seja por motivos de fuga das guerras, fuga da pobreza, escravidão ou simplesmente aqueles que quiseram vir para cá pois    gostaram do Brasil.                                                                                               (Foto acima de Athena.)
    Cotas raciais:  não sou a favor.  Sou a favor, se necessário, às cotas de pobreza, ou cotas sociais.  A educação é um bem que deve estar acessível a todos, independente de raça, cor, sexo, religião, preferência sexual, etc.
     Estes dias encontrei um livro que trata disto.  E é um comentário sobre ele que você, meu blogtor, vai ler agora.  Aguenta aí:

·        Kamel, Ali. Não somos racistas: uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor. RJ: Pocket Ouro, 2009, 165p.
O autor, descendente de sírios, é jornalista /repórter da Rede Globo, que inclui jornais, revistas e tv.
Percebendo o direcionamento errôneo de alguns movimentos afirmativos, principalmente dos que querem instituir oficialmente o racismo no Brasil, fez muitas pesquisas, entrevistas, diversos trabalhos, que resultaram neste livro..
Nele o autor coloca que, originalmente, não somos racistas visto que, já na colonização do Brasil, não tiveram os europeus – portugueses, holandeses, franceses e outros que aqui aportaram – preconceitos em manter relacionamentos com as índias e, posteriormente, com as negras.  Houve o ‘branqueamento’ da raça negra, na medida em que esta miscigenação aconteceu.
Querem os atuais detentores do poder, ancorados na precedência de Fernando Henrique e seu governo, instituir o racismo para “compensar” os negros pela escravidão.  Esquecem que à margem da sociedade estão também os muitos descendentes de indígenas e os milhões de brancos, descendentes de todas as etnias que foram acolhidas no Brasil, e que se encontram na miséria.  O maior problema não é o racismo, é a pobreza.  A pobreza de brancos de toda a cartela de variantes de cores, os negros, que incluem os pardos de todos os tons; os amarelos, pois aqui  também temos japoneses, chineses e outros orientais, os indígenas, entre outros.
Sabemos que, cientificamente, não existe raça, como comprova “o geneticista  Craig Venter, o primeiro a descrever a sequência do genoma humano, “raça é um conceito social, não um conceito científico”. E quem estimula estes conceitos está retroagindo a crenças de antropólogos do século XVIII.
Analisando estatísticas do IBGE, o autor verifica que sumiram com os pardos.  Do meio branco ao meio negro, todo mundo virou negro, para fins de cotas sociais, em vantagens que retiram o princípio da igualdade insculpido na Constituição Federal Brasileira.  Chega a ser ridículo, por exemplo, recordando acontecimento de alguns anos atrás, que, para conseguirem ingressar na Universidade de Brasília, dois irmãos gêmeos inscreveram-se  através das cotas raciais; como os critérios para definição de quem é negro e quem não é não são claros e muito menos objetivos, e como cada pessoa que analisa os currículos e fotografias tem uma visão diferente das coisas, um passou como negro e o outro foi rejeitado.  Um verdadeiro absurdo, surrealismo, que acontece nestes nossos tristes trópicos.
O autor enfatiza outros programas sociais que têm erro de foco.  Ao invés de drenar recursos para os “bolsas”, se o poder público investisse em educação não haveria necessidade de tudo isto.  Os recursos que são  dragados para estes programas, e para as ditas cotas, se empregados na educação tudo estaria resolvido.  Educação de nível, de categoria para todos os brasileiros, independente da cor da tez.  Para pobres de todos os níveis e rincões do país.  Só a educação salva, resume o autor.
Um excelente livro para instigar uma reflexão sobre no que estão transformando o Brasil.
É um livro que não se baseia em opinião; se baseia em análise de estatísticas oficiais do próprio governo e em obras de vários cientistas e estudiosos de renome.  Não é achismo, é tudo comprovado.  Vale a pena ler, pelo menos para se discutir com conhecimento de causa.
 

sábado, 4 de junho de 2011

CHAMA

 


                        Teu olhar se perdeu por este tempo afora
Não vejo nele o que via outrora
Foste tu quem foi embora
Ou fui eu que fiquei cega agora?

(Julho/1988) (foto de Athena)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Não esqueça do casaco e do guarda-chuva!

      Há alguns anos, quando me aproximava da época de dobrar o cabo da boa esperança, comecei a ler alguns livros, artigos, textos, revistas, que tratassem de como reagir e como voltar a ter uma vida normal após os filhos saírem de casa, ou chegar na idade da menopausa, aposentadoria, etc.
     Um livro que li, "Quarenta A idade da Loba", de Regina Lemos, comentava sobre tudo que acontece com as mulheres neste período.  É uma segunda adolescência: transformações corpóreas, mentais,psicológicas, financeiras, trabalhistas, relacionais, entre outras.  Muita coisa que descrevia esta e outras\os autores eu já observava.  A reação de algumas mulheres neste período é diversa: umas se fecham, ficam mais em casa, curtem o recolhimento; outras mudam de profissão, vão procurar outras atividades fazer talvez algo que sempre quiseram e não puderam antes; outras resolvem ter mais um\a filha\o, para que não fique um vácuo com a saída dos filhos para estudar, trabalhar, viajar e, quem sabe, casar. Outras voltam a estudar, enfim, cada mulher reage de uma forma a este período.
    A par das transformações físicas, que para algumas mulheres são muito dolorosas ou causam grandes perturbações, há a sensação de vazio de quando os filhos dizem:  mãe, tô indo tomar as rédeas da minha vida. É a tal "Síndrome do ninho vazio".
                                     



     A gente sabe que um dia isto vai acontecer; a gente educa os filhos, espera tê-los preparado para enfrentar as vicissitudes da vida; tê-los munido de valores que os capacitem a serem cidadãs e cidadãos plenos, responsáveis, íntegros, honrados, alegres, felizes, divertidos, bem-humorados... mas no dia em que eles dizem - tô indo...- dá um choque.
     Sempre procurei brincar com meus filhos, manter um relacionamento  leve - apesar de ser um pouco exigente... mas uma brincadeira sempre digo, para qualquer deles, quando estão saindo para ir a qualquer lugar: - Não esqueça do casaco e do guarda-chuva!
     Esta brincadeira permanece entre nós, e, refletindo sobre isto, percebo que tanto o casaco quanto o guarda-chuva representam uma proteção para a pessoa;  as mães têm consciência de que não são onipresentes, mas falando isto têm a ilusão de que os filhos as estarão levando junto - as mães sempre querem o melhor para os filhos, e, se pudessem, sempre estariam com os mesmos debaixo de sua asa.  Mas não é uma coisa doentia, simplesmente sentimento de mãe.
     Quando cheguei a uma parte desta fase, resolvemos, meu marido e eu, ter mais uma filha, e foi o que fizemos.  Hoje temos nossa companheirinha que já anda falando em ir morar aqui, acolá ou adiante, pois a irmã mais velha já saiu do ninho faz tempo - o primeiro choque, os primeiros nervosismos, noites sem dormir, preocupações mil com uma moça sozinha no mundo- e o irmão está saindo agora, depois de morar por mais de dois anos na Europa.  É o segundo baque, a sensação de impotência, de receio de que algo vá acontecer aos filhos longe da gente, é terrível. 
     São as fases da vida. Sabendo que isto um dia ia acontecer, procurei voltar a estudar, diversificar minhas atividades, fazer ginástica, ler os livros que não pude ler antes, escutar muita música e, na medida do possível, viajar.  Até já renovei meu passaporte.
    Entretanto, o ninho tem dois vazios.  Um já está sendo preenchido com os netos.  O outro ainda tem o calorzinho do segundo que está levantando vôo. E o terceiro ainda vai demorar um tempo para esvaziar.
     Ainda bem que eles levaram o casaco e o guarda-chuva!