quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Atualizando as leituras.

   

Luft, Lya. A riqueza do mundo.-RJ:Record, 2011, 270p.      Há meses li o último livro da Lya Luft a que tive acesso, "A riqueza do mundo".  São crônicas contemporâneas, com a já tradicional linguagem acessível, mas com textos excelentes que nos inspiram à reflexão dos nossos valores, anseios, desejos, controvérsias, alegrias, tristezas, surpresas e demais sentimentos que o nosso mundo, hoje, nos desperta.

     Outro, que terminei a semana passada, também já queria ter lido há mais de 30 anos, mas não tinha acesso. "Poemas escolhidos", de  Gregório de Matos Guerra, nosso famoso "Boca do Inferno".  Para quem não o conhece, é o maior poeta seiscentista do Brasil, da época Literária denominada Barroco.  Tomei conhecimento dele no curso de Letras, mas, como já falei várias vezes, conseguir alguma obra era o difícil; aliás, somente versos esparsos em antologias, comentários dos estudiosos da Literatura Brasileira.
     Mas por que Boca  do Inferno? Porque ele fazia versos satíricos, criticando a tudo e a todos, em sua época: políticos, padres, freiras, amigos, inimigos, etc.  Mas não eram só versos satíricos, também escreveu poemas religiosos e amorosos.
     Abaixo, só para tirar um tempo, os mais famosos versos satíricos deste gênio brasileiro, bahiano, advogado, juiz, padre, e mais um monte de outras funções:


"Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da República, em todos os membros, e inteira definição do que em todos os tempos é a Bahia" (este é o título)
EPÍLOGOS
1.Que falta nesta cidade?...Verdade
Que mais por sua desonra?...Honra
Falta mais que se lhe ponha?...Vergonha
   O demo a viver se exponha,
   Por mais que a fama a exalta,
   Numa cidade onde falta
   Verdade, honra, vergonha.

2. Quem a pôs neste socrócio?...Negócio
    Quem causa tal perdição?...Ambição
   E o maior desta loucura?...Usura
      Notável desaventura
      De um povo néscio, e sandeu
      Que não sabe que o perdeu
      Negócio, ambição, usura.
hehe

3...4....5.E que justiça a resguarda?...Bastarda
              É grátis distribuída?...Vendida.
              Que tem, que a todos assusta?...Injusta.
                     Valha-nos Deus, o que custa
                      O que El-Rei nos dá de graça,
                      Que anda a justiça na praça
                      Bastarda, vendida, injusta.

6...7. E nos Frades há manqueiras?...Freiras.
         Em que ocupam os serões?...Sermões.
         Não se ocupam em disputas?...Putas.
hehe
               Com palavras dissolutas
               Me concluís, na verdade
               Que as lidas todas de um Frade
               São freiras, sermões e putas.
8...9..."

Os versos são muito longos, os assuntos diversos.  Para quem gosta de poesia, cultura/literatura brasileira, e conhecer a opinião e visão de um crítico mordaz do Brasil entre 1600/1700, vale a pena ler.
Matos, Gregório de. Poemas escolhidos; seleção e organização José Miguel Wisnik.-SP:Cia das Letras, 2010, 357p.

Um comentário:

  1. gostei. parece escrito para os dias de hoje. vê-se que não mudamos muito em alguns séculos

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