As primeiras lembranças que tenho do
Natal são da casa de meus avós maternos.
Morávamos em Santo Ângelo e viemos
passar o fim de ano com eles. Eu devia
ter uns quatro anos, alguns de meus tios ainda eram solteiros. A mais nova ainda era criança, pois é seis
anos mais velha que eu. Ela tinha uma
boneca que andava, virando a cabeça, e dizia: mamãe. Era a Marta. Ela não me deixava brincar com a
Marta...
Minha madrinha deu-me de presente uma
bonequinha de louça, linda, de olhos azuis e cabelos castanhos. Na caixa estava
escrito “Tiquinha”, pois era pequenina, assim como eu. Embora não caminhasse, ela chorava quando a
gente mexia nela. Mas, quem tem irmãos e
não irmãs, sofre! Um dia que brigaram comigo, meus irmãos atiraram a Tiquinha
dentro de uma bacia cheia d’água, e ela parou de chorar e parou de movimentar
os olhos; quem chorou fui eu! Estragaram
minha boneca! Tive que levá-la ao hospital de bonecas. Eles fixaram os olhos
dela para sempre! Mesmo sem chorar mais, tenho-a até hoje!
Como fazíamos parte do povo que dependia
das brizoletas para fazer o Natal, meus irmãos ganharam caminhões de madeira
feitos por meu pai.
Era tradição na minha família, e fui
aprendendo com o passar do tempo, na Noite de 25 de dezembro ir ao Culto de
Natal na Igreja Metodista. Eu ficava
emocionada ao ouvir os membros da igreja cantarem, bem alto, com harmonia a música
Noite Feliz e muitas outras. Todas as
mulheres dos pastores tocavam órgão, então ficava uma cerimônia linda. Sempre tinha, também, a representação de Natal,
sendo que os jovens e as crianças desempenhavam o papel de José, Maria, os reis
magos, pastorzinho, etc. Jesus era um boneco grande, mas uma vez puseram um
bebezinho na manjedoura. E tinha a música dos duendezinhos... eu fui duende,
Maria, narradora, etc...
Quando eu tinha 8 anos, e já morávamos
em Ijuí, ganhei um bebezão. Ô
felicidade! Gostei tanto dele, cuidei tanto para não estragar, que minha
primeira filha chegou a brincar com ele.
O tempo foi passando. Fui ganhando vários presentes de Natal, desde
brinquedos de todos os tipos para brincar de casinha, como era a tradição.
Quando estávamos na escola, meus pais
sempre davam para nós, além dos brinquedos, um livro para quem passasse de
ano. Lembro de alguns que ganhei: O
macaco trapaceiro; O califa cegonha; livros das princesas Cinderela, Branca de
Neve...; Histórias que ficaram na História, entre outros. Minha família é de leitores. Meus pais liam muito, minha avó materna
também, e muitos descendentes são leitores e alguns gostam, também, de escrever,
assim como eu.
Quando um pouco maior, ganhei um quadro
para escrever. Que alegria! Eu repassava toda a matéria estudada no dia
para meus alunos invisíveis... não sabia que assim agindo, eu estava reforçando
o aprendido, e treinando para ser professora, anos mais tarde.
O tempo foi passando, vieram os
namorados, os presentes variavam de chocolate a perfume, uma blusinha aqui, uma
sandália lá...
Depois que casei, vieram os filhos. Os primeiros presentes foram brinquedos,
livros de pano, livros de banho e assim por diante.
Lembro de três presentes, em especial
pedidos por meu filho: num Natal, o ponte-car, uma camionete que tinha um
mecanismo que fazia girar uma ponte que passava por cima de si mesmo e ia
adiante, quando o carro daí passava por cima. Não tinha pilha que chegasse!
Outro foi o pogobol, ou pula-pula. Uma
bola presa numa base, onde ele colocava os pés e pulava. Ficava pulando o tempo inteiro, até criou
músculos nas pernas de tanto pular... e o skate,
no qual ele subia e andava. Este fez com
que, numa arte, caísse e quebrasse um dente da frente.
Minha filha mais velha amava as bonecas,
lembro da barbie face, que vinha uma cabeça e material de maquiagem. Além do feijãozinho e outras bonecas
lindinhas que ela tinha uma coleção. Outro presente que lembro bem que demos a
ela foi um gravador colorido com microfone acoplado. Cantar e fazer apresentações passou a ser sua
diversão, gravando em fitas k7.
A filha mais nova, já muitos anos
depois, pois é temporã, também amava os bebezões, teve bonecas de todos os
tamanhos, coleção de barbies. Mas um ano
ela encasquetou que queria um relógio com pulseiras coloridas. Passou o ano inteiro buzinando nos meus
ouvidos. Como foi bem aprovada na
escola, ganhou o tal relógio.
Porém
o que eu mais gostava nos últimos natais em que minha família pôde reunir-se
eram os que passávamos com meus pais, enquanto estavam vivos. Reuníamo-nos na casa deles a minha família,
as dos meus irmãos, irmãos do meu pai e da minha mãe e fazíamos uma festa
maravilhosa todos juntos. Morávamos no
Paraná, meu irmão mais velho em Porto Alegre, mas sempre dávamos um jeito de
estarmos juntos, pelo menos uma vez por ano.
Meu pai, meu marido e meu irmão ficavam encarregados do churrasco. A mãe, eu e as cunhadas ficávamos encarregadas
dos complementos e da sobremesa deliciosa; cada uma fazia uma diferente e servíamos
depois da ceia.
A comida era a desculpa. Tinha jogo de dama, de xadrez, alguns
assistiam ao Roberto Carlos na tv, as crianças corriam e brincavam. Minha mãe colocava na eletrola seus elepês de
natal, e eu sempre me emocionava. O pinheirinho era armado na sala todos os
anos. Depois que ela aprendeu a tocar piano, fazia um pequeno concerto para
nós.
Depois da sobremesa, sempre aparecia o
papai Noel que entregava os brinquedos para a criançada, mas os adultos também
gostavam de receber as lembrancinhas.
O natal sempre nos traz lembranças
carinhosas das pessoas queridas que se foram.
Agora, a matriarca sou eu. A comemoração do aniversário de Jesus é na minha
casa, com meus filhos e meus netos.
A celebração continua, o amor permanece,
algumas tradições são mantidas. A família
encolheu, mas o amor não. Além dos meus pais, meu marido também partiu. Confraternizamos lembrando dos momentos de
alegria passados com nossos queridos cujas cadeiras estão vazias. Recordamos os muitos abraços, os beijos, as
brincadeiras, a maravilha que era estar juntos.
Entretanto, há os descendentes para ocupar essas cadeiras e manter
aquecidos os corações com amor, fé, carinho, fraternidade, esperança, muitas
brincadeiras e correrias, para não perder o jeito. Sempre tem alguém jogando damas ou cartas, um
bebê chorando, alguém assistindo tv... e as músicas natalinas que eu amo e
continuam me emocionando agora tocadas não na eletrola pelos elepês, mas
baixadas da internet direto para computadores ou celulares. As coisas mudam, mas as emoções não.
Lorení
Dezembro 2022.
Lindo texto. Muitas das tuas recordações são idênticas as minhas. Que saudades!
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