Nunca fui filiada a partido político. Por enquanto, também não pretendo fazê-lo, pois ando amadurecendo algumas idéias.
Mas isto não impede que eu me interesse pelo assunto. Nas minhas variadas leituras, e totalmente descoordenadas, pois vou lendo ao sabor do vento, e a leitura que encontro; na última feira do livro havia adquirido o primeiro volume do livro "Getúlio- 1882-1930- Dos anos de formação à conquista do poder", do escritor e jornalista Lira Neto. Primeiro, gostei de saber que o escritor é nordestino, natural de Fortaleza/CE, e é um jovem (nasceu em 1963, para mim é jovem), o que o torna 'isento', pois se fosse um gaúcho o escritor correria o risco de tecer loas indevidas, o que muitas vezes ocorre.
A minha insaciável curiosidade por entender meu país - que já mencionei outras vezes - levou-me por simples curiosidade a encarar estas 630 páginas - que não li de um só fôlego por não me ser possível, tenho outras atividades. Mas vale dizer que a escrita de Lira flui, magnetiza, chama para o livro, não nos deixa largá-lo, só o fazendo quando extremamente necessário.
A começar por uma frase de Getúlio Vargas, já no início do livro: "Sou contra biografias". Lira Neto empreendeu um trabalho hercúleo de pesquisa; bebeu direto na fonte do diário de Getúlio Vargas; na Fundação Getúlio Vargas (FGV), organismo de extrema credibilidade; bibliotecas, museus, partidos políticos, bibliografia extensa, correspondência particular e pública do governo brasileiro e dos governos estaduais e estrangeiros, assim como de amigos e correligionários; documentos obtidos no Brasil e no exterior. Cortou fundo.
Narra a saga de Getúlio desde o nascimento até o início de seu primeiro governo de âmbito federal, no ano de 1930, após a famosa Revolução de 30.
Expõe a personalidade ambígua de Getúlio Vargas: o que concedia com a mão direita, tomava com a esquerda. Um político hábil, manhoso, subreptício, enganador, galante, sempre sorrindo e nunca decidindo.
Passei a compreender um pouco mais por que nosso país está como está, ou é como é: o próprio Getúlio comenta que as pessoas que o procuravam enquanto esteve no poder, nunca pediam coisas para o bem de todos, era sempre para o bem próprio. E o Getúlio concedia tudo o que ele considerava possível, para quem considerava possível e lhe fosse útil ou proveitoso.
Getúlio narra em seu diário que as eleições no Rio Grande do Sul, na época em que Borges de Medeiros foi Presidente do Estado - naquele tempo era Presidente, não era Governador- as eleições sempre eram fraudadas, tanto que Borges permaneceu no poder por mais de 30 anos. Sempre era 'reeleito', com votos de cabresto, urnas fraudadas, atas falsificadas, etc.
O ex-presidente foi admirador de Mussolini e de Hitler, e tentou impor ao Brasil um governo semelhante ao deles.
Ambíguo ao extremo, ao mesmo tempo em que foi ditador, fechou o Congresso Nacional várias vezes, também criou a legislação trabalhista, sendo sua cria a Consolidação das Leis do Trabalho/CLT, as férias; criou o sistema S - Senai, Senac, Sesc, Senat, Sesi. Era considerado pelo povo "pai dos pobres".
Narra o livro histórias sobre a família dos Vargas, a começar pelo pai, General Manuel Vargas, feito a facão, general de muitas guerras e brigas gaúchas; seus irmãos também eram de 'faca-na-bota', expressão gaúcha que significa pessoa braba, exaltada, que resolve tudo na briga e não leva desaforo pra casa. Eram os 'donos' de São Borja, cidade natal de Getúlio. E a família o acompanha em muitas lutas, políticas ou não, sendo que um de seus irmãos cometeu até assassinato. Mas não foi preso pois Getúlio, advogado que era, e amigo dos homens do poder de Porto Alegre, conseguiu fazer com que seu irmão se livrasse da pena. E era assim: qualquer coisa que dava perigo para a família, pulavam a ponte e iam rumo à Argentina, onde ficavam o tempo necessário para que chegasse o esquecimento.
Excelente leitura, impossível comentar ou narrar todo o acontecido. Quem se interessar pelo assunto, vale a leitura, inclusive do segundo volume, já publicado e que já li, mas que comentarei em outro post.
Excelente para quem se interessa por política para saber como agir. Ou não.
Getúlio: dos anos de formação à conquista do poder (1882-1930)/Lira Neto,- 1ªed. SP:Cia. das Letras, 2012.
Coinxidência! Estou lendo (da biblioteca da escola) uma biografia do Getúlio, outro autor, volume não tão alentado, mas altamente esclarecedor. Também ressalta esse pendor do político em ser dúbio/ladino/manhoso. Inegável o bem que fez aos trabalhadores do Brasil com a CLT e outras leis; leis estas que sub-reptíciamente os políticos de hoje vem pacientemetne desmontando em favor dos tubarões (patrões).
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