quinta-feira, 5 de junho de 2014

Viagens IV - 1ª parte

Quando completamos 20 anos de casados, meu marido e eu decidimos comemorar de forma diferente.  
Como nunca tínhamos ido para o exterior, optamos por conhecer um pedaço da Europa: procuramos uma empresa de pacotes de viagens, preparamos a documentação (achei que fiquei bonita no antigo passaporte), com cara de gente "bem", que naquele tempo, 1998, eram pessoas da classe alta que faziam estas viagens e não nós, reles trabalhadores do meu Brasil, como dizia o Getúlio Vargas.  Desnecessário dizer que o pagamento do pacote de viagem foi feito no modo brasileiro, em 'suaves prestações mensais', que trabalhadores não são de ferro e não têm as burras cheias.
Entusiasmados, fizemos o roteiro: entraríamos por Roma, iríamos para Florença, Veneza, na Itália,  Lucerna, na Suíça, Paris e Londres, de onde retornaríamos.
Viajante de primeira viagem, informei-me sobre a forma de comportamento no exterior, para não cometer gafes; detesto que digam que brasileiros são mal-educados.  De tudo que li, vi que a forma como sempre me comportei estava adequada ao velho mundo, uma vez que meus pais souberam bem me educar em casa, e a escola que freqüentei na adolescência tinha origem na Alemanha (rede sinodal de ensino, da Igreja Luterana), o que nos ensinou sobre disciplina, organização, hierarquia, respeito, visão de mundo, geografia e história,  e tantas outras coisas.
Também informei-me como me vestir - esquecendo-me, ó ingenuidade- que a moda ditada pelo exterior vem parar aqui no Brasil, um pouco tarde, é verdade, mas sempre.  Então, estava adequada.
Iríamos em maio, que não é tão frio - por mais que ache lindas as paisagens de neve, já passei por ela aqui no sul do Brasil, e detesto frio.  Então, fomos na entrada do verão europeu.
Partimos de São Paulo numa tarde chuvosa, passamos por um túnel que ligou o aeroporto ao avião, e, por muito tempo, só tive a certeza de que viajei mesmo por ter chegado lá, pois não senti e não vi a saída do avião.
Se alguém recordar meu outro post, em que comento a primeira viagem de avião, deve lembrar do meu pânico, agora estendido por 12 horas.  Nem recordar que ficaria 12 horas sobre o Oceano Atlântico; nem pensar na eventualidade do avião cair e sermos devorados por peixes enormes, fora o pânico de morrer afogada.  Adotei vários subterfúgios para expelir para longe de minha mente tais pensamentos: levei 2 livros com mais de 500 páginas; assisti o filme disponibilizado pela antiga Varig, que ainda atuava; escutei música nos fones de ouvido, olhei as revistas de bordo, além de, é claro, ter tomado um calmantezinho antes de partir, o que me permitiu cochilar alguns minutos. Além , é óbvio, de me alimentar com as delícias que ainda serviam naquele tempo.  Como não tenho viajado de avião, mas leio sobre, parece-me que reduziram a alimentação a lanchinhos prosaicos.  Novos tempos.
Sempre tive dificuldades, nas aulas de geografia ginasial, de entender o fuso horário, os meridianos, etc; então, saímos às 16 horas de São Paulo, e chegamos às 7 da manhã em Roma, horário local.
Para começar, as pessoas que deveriam estar nos esperando, com aquelas plaquinhas com nossos nomes, lá não se encontravam.  Segurei meu pânico, só olhei para meu marido: cadê o povo?  Pagamos um pacote e nos abandonam num aeroporto internacional, sem saber falar italiano - meu marido fala um italiano castiço, um dialeto do norte da Itália trazido pela família do nonno no século XIX. E agora?



Fontana di Trevi,  Roma, que visitamos nos primeiros dias. Foto da autora, proibida reprodução.






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