quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Getúlio Vargas II e III





Continuando  minhas aventuras literárias, concluí o volume 3 da biografia do Getúlio Vargas, escrita por Lira Neto.
Foi ótimo ter lido neste período que precede a eleição que se aproxima, pois me deixou mais alerta e mais enojada da política, dos políticos, dos partidos e dos militantes fanáticos xiitas.
O segundo volume, que abrange o período de tempo que vai de 1930 a 1945, pega do governo provisório de Getúlio à ditadura do Estado Novo.
Então fui entender o que já tinha lido alhures, por que o Brasil sempre teve muito presente os militares das três armas.
O Getúlio teve que estar sempre aliado a eles para poder governar, seja quando eleito ou quando ditador.  Como eles têm e tinham uma sensibilidade muito grande, qualquer coisinha que não gostassem já ameaçavam com motim e levante, querendo tomar o governo.
Quero ressaltar que o fato de eu estar lendo, ou me informando sobre a história do meu país, não significa que eu aceite ou concorde com as coisas que estas pessoas, como Getúlio Vargas, fizeram, em termos ditatoriais e de abuso de poder.  Mas sabemos que as pessoas são contraditórias, paradoxais: ao mesmo tempo que foi um ditador, fechando o Congresso Nacional com todas as suas consequências, criou a Consolidação das Leis do Trabalho, válida até os dias atuais, concedendo vários direitos aos trabalhadores que não tinham nem horário determinado para o trabalho, férias e outros benefícios.
Getúlio governou com os militares do seu lado e foi deposto por eles.
No segundo volume, são narrados todos os fatos de seu primeiro governo.
No terceiro e último volume, que compreende o período entre 1945 e 1954, o subtítulo diz: Da volta pela consagração popular ao suicídio.
Há algum tempo assisti a um filme produzido no Brasil que narra este período; foi bastante fiel, e confere com o livro.
Abaixo, alguns excertos que julguei interessantes:
Getúlio, que sempre cassou os socialistas e comunistas, ao realizar a sua campanha política para voltar ao poder pelas eleições, para substituir Dutra, pronunciou:

"A velha democracia liberal e capitalista está em franco declínio porque tem como fundamento a desigualdade. A ela pertencem vários partidos com o rótulo diferente e a mesma substância.  Não é de se estranhar que venham a se reunir. São os expoentes da democracia burguesa, a velha democracia liberal que afirma a liberdade política e nega a igualdade social. (...) A outra é a democracia socialista, a democracia dos trabalhadores. A esta eu me filio."
É o que se vê ainda nos dias de hoje, de dizer ao povo o que ele quer ouvir.

"Precisamos colocar as empresas de serviços públicos a serviço do povo. Não podemos permitir que o povo seja apenas a fonte de receita garantida para os seus exploradores, que contam com todos os benefícios do monopólio."

Havia, à época, a grande controvérsia sobre o petróleo, e a campanha "O petróleo é nosso". "De um lado os liberais, defensores da participação do capital privado estrangeiro na exploração do produto. Do outro, os partidários do monopólio estatal." Carlos Lacerda, jornalista, que surgia como político influente, era a favor dos estrangeiros, e publicou vários artigos manifestando sua opinião. Seu patrão, não gostou, e mandou-o parar de expressá-la; Chateaubriand, outro dono de jornal famoso, dizia a seus repórteres e articulistas: "se um jornalista quisesse ter opinião própria, então deveria montar o próprio jornal."

Getúlio tinha mandado prender Luís Carlos Prestes em outros tempos; mas agora, na campanha política, subia ao palanque ao seu lado, para ganhar votos.  Qualquer semelhança com nossos políticos de hoje não é mera coincidência.Já naquele tempo, as alianças espúrias eram feitas pois o que interessava era o poder. Lula e o PT que foram adversários figadais de Collor, Sarney e Malluf, hoje comem do mesmo prato.

"Fingir-se de morto era uma das habilidades de Getúlio."
"Não sou oportunista: sou homem de oportunidades.", dizia Getúlio.

"Eu voltarei, mas não como líder de partidos, e sim como líder de massas".
"Em vez de representar um anúncio de que ele entrara de vez na disputa sucessória, as respostas de Getúlio ao repórter foram, na verdade, uma aula política de como não se comprometer com nada e com ninguém, inclusive com a própria candidatura, deixando assim uma margem enorme para futuras manobras, como lhe era peculiar."
E, o mais importante, que, creio, tem sido o mantra de todos os políticos brasileiros, de todos os tempos, declaração feita por Ademar de Barros, aliado de Getúlio:

"Política é negócio - toma lá dá cá - e até hoje não levei nada nesse negócio."

Não vou citar o livro inteiro, vale a pena a leitura. Todos sabemos que Getúlio foi eleito e voltou nos braços do povo, mas foi derrotado, segundo este autor e suas pesquisas, pelos militares e pela imprensa, que ainda mantém um grande poder no Brasil até hoje. E que se suicidou em 1954.

Boa leitura.

Getúlio. Do governo provisório  à ditadura do Estado Novo.- 1930-1945. Lira Neto. 1ª ed.-SP: Cia das Letras, 2013.

Getúlio. Da volta pela consagração popular ao suicídio.-1945-1954. Lira Neto, 1ªed. SP:Cia. das Letras.





Um comentário:

  1. Li e gostei, também li duas biografias dele, não era santo, nem demônio, apenas um ser humano e um gênio político.

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