domingo, 22 de fevereiro de 2015

Verão, praia, férias, a vida se recompõe, se refaz: a chegada de um novo neto.

Ser avó

Quando soube que seria avó novamente, exultei de felicidade.  A nossa descendência  se multiplica, a vida se refaz: um bebê é sempre um motivo de muita alegria, realização, concretização das razões de sermos humanos, demasiado humanos, como diria Nietzsche. Meu filho e sua mulher tiveram seu segundo bebê, um menino lindo e saudável que chegou em meio ao verão.  Calmo como o pai, quando bebê, exerce à altura do que esperávamos suas funções: mama bem, dorme bem e está crescendo saudável.  Meu coração está cheio de ternura, como ficou desde meu primeiro neto, em 2008. Ser avó é de uma emoção indizível.  Ao ouvir seu primeiro choro, chorei também, emocionada com todo o esforço de minha nora e meu neto, e com a força, responsabilidade e coragem de meu filho, que acompanhou o parto desde o seu início até receber nos braços seu filho, chorando de emoção e gratidão à sua mulher.  Isto é vida...

Um pequeno parêntese

Após o tempo necessário ao acompanhamento do nascimento do bebê, fomos descansar.  Voltamos a São Francisco do Sul, Praia da Enseada, que visitáramos há três anos atrás.  Desta vez a vimos de outro ângulo.  Não deixou de ser bela, convidativa e nos proporcionou raros minutos de descanso. Revigorante.



Com uma pequena colônia de pescadores, os barquinhos
fazem parte diária da paisagem.

Mais uma vez comemorei meu aniversário na praia, com um
prato à altura.  Delicious.



Um brinde a mais um ano de vida.

Paisagem bonita e relaxante.

Prazer da vida: leituras.

José Saramago voltou aos meus olhos: "Memorial do Convento", romance publicado originalmente em 1982, em Portugal, de 2011 é esta publicação brasileira.  É o relato da construção de um convento em Mafra, Portugal, no século XVIII; desenrola-se de uma forma envolvente; tem a família do Sete-Sóis e da Sete-Luas, que, junto a um padre, constróem, naquela época uma espécie de aeronave, e voam.  O relato de um rei, sua família, suas idiossincrasias, seus desejos; dos padres, que sempre o rodeiam, e praticamente o obrigam a construir tal convento, para assegurar-lhe um lugar no céu e redimir seus pecados.
Assim falando, não parece interessante; mas é.  A linguagem de Saramago, a sua forma peculiar de escrever, seu vocabulário, a descrição de locais, de pensamentos, de atos, de formas de trabalhar, de materiais, indica um conhecimento elevado, uma erudição que poucos têm; mas que é apresentada de forma simples, sem ser simplista; terei que relê-lo com um dicionário de português de Portugal, se quiser saber alguns significados específicos de vocábulos; caso não o faça, o contexto já explica.  É que sou preciosista...
Vale a pena a leitura. Saramago, sempre magnífico.

Domenico de Masi, "O ócio criativo". Há tempos queria lê-lo, e não tinha acesso.  Tinha lido comentários sobre esta obra, e tinha assistido a uma entrevista do autor no Programa "Roda Viva", da TV Cultura. Quando o ouvi, achei-o fantástico, inteligente, criativo, vivo. Publicado originalmente em 2000, este italiano foi publicado aqui no Brasil, nesta edição, também em 2000.  Mas eu cheguei a tê-lo em minhas mãos somente agora, em 2015.  Por esta razão, muitas de suas colocações ficam um pouco descontextualizadas, em virtude da evolução frenética das formas de comunicação, dos meios eletrônicos e que tais.
Li este livro nas semanas que antecederam ao nascimento de meu neto, na casa de meu filho; o livro é dele, então não pude ler sublinhando, como gosto de fazer.  Então encomendei um exemplar para mim, que chegou-me esta semana.  Vou relê-lo com a calma que ele exige e merece, pois é uma leitura fundamental para todos nós, cidadãos do mundo.
Trata do trabalho, do conhecimento, do capitalismo, do lucro, das formas de trabalho, da escravização de todo ser humano ocidental, que, por sua cultura, incutida em sua mente desde a Reforma Protestante, acredita que deve trabalhar de 10 a 12 horas por dia, e que estar parado, seja descansando, lendo, ouvindo música, refletindo, passeando, é considerado ócio, um tempo desperdiçado em que poder-se-ia estar "produzindo".  Analisa a sociedade industrial e nos localiza na era pós-industrial.  Gostei de suas idéias, pois pensava mais ou menos isto: que o horário de trabalho deveria ser flexível, que deveríamos ter tempo livre para ler, estudar, passear, viajar, conhecer; que tudo isto poderia ser feito de forma interligada, o que é mais ou menos o que ele diz.  Conclui o livro dizendo que o povo da Bahia, no Brasil, seria o mais próximo que ele encontrou, no mundo, dos seus pensamentos sobre vida e trabalho.  Eu diria que há controvérsias.
Para mim, esta é uma leitura obrigatória para pessoas que se importam com a vida, de uma forma integral.

Andrew Morton, "Diana, sua verdadeira história em suas próprias palavras."
Publicado originalmente em 1992, quando lady Di ainda era viva, esta tradução, de 2014, já traz os acontecimentos sobre sua morte trágica, que a todos nós chocou.  Sendo uma contemporânea da "Princesa do povo", acompanhei suas manchetes e sua vida, apesar de morar, à época, em um país da América Latina, em uma cidadezinha de 30 mil habitantes.  Que interesse eu poderia ter na vida de uma nobre, que vivia no outro lado do mundo, que nem sabia da minha existência, rica, poderosa, etc, etc?  O que a vida dela alterava na minha?  Nada. Apenas que, como ela era tudo isto, e manchete de jornais e noticiários televisivos, como continua sendo a Monarquia Britânica, o mundo inteiro gosta de saber o que acontece por lá.  E faço parte de uma parte do mundo.
Como dizia minha avó materna, devemos acompanhar o noticiário e saber o que acontece neste velho e louco mundo.
Na realidade, nós, velhos colonizados do velho e do novo mundo, gostávamos de saber o que por lá acontecia; as roupas que ela usava, as modas que ela lançava, os tapetes pelos quais andava, as óperas, shows, apresentações, viagens, tudo, que está minuciosamente relatado no livro, interessava ao mundo.  Apenas  nós, curiosos, queríamos saber a verdade sobre sua vida e sua chocante morte.  E a tristeza que víamos em suas fotos, confirmou-se em seu relato no livro: casou-se muito cedo, com um príncipe indeciso e dependente (palavras dela e do jornalista que escreveu o livro), teve os filhos que a monarquia exigiu; foi ultrajada o tempo todo pelo marido infiel e pela "bruxa" da Camilla; lutou contra a bulimia, depressão, insegurança; tentou o tempo todo agradar à "Firma" ou "Sistema" como chamava o círculo de cortesãos, e, quando conseguiu libertar-se, morreu em um acidente idiota.
Ótimo relato, põe-nos dentro da família real; faz-nos entender como funciona e confirma que os casamentos de reis e rainhas continuam sendo negócios. Ela era uma pessoa que tinha sentimentos.  Não servia para ser rainha.
Para quem gosta, ótima leitura.



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