quarta-feira, 15 de março de 2017

Despedida do verão


 
Outono em minha terra

 
Eis que os últimos dias de calor intenso desta região meridional brasileira se aproximam. À noite já começou-se a sentir o frescor do outono se aproximando; o abafamento noturno e o mormaço diurno dão seus últimos suspiros, manifestam seus estertores. Consegue-se dormir de forma mais tranquila, sem precisar acionar o aparelho condicionador de ar.
A vegetação começa a mudar sua roupagem, retirando-se o verde reverberante do verão, dando entrada aos tons de amarelo, cor de laranja e vermelho característicos da estação entrante. Brindemos, pois, ao amenizar das sensações ambientais, mais favoráveis a quem não ama o verão, e a quem detesta o inverno, como esta que vos escreve.

Apesar do famoso "efeito cebola", de todos conhecido, a par dos afazeres que nos achacam todos os dias, e de outros que nos dão prazer, aproximamo-nos cada vez mais daquele período menor da nossa existência, do qual só nos damos conta quando já tenhamos, teoricamente, percorrido mais de dois terços de nossa provável totalidade da existência, e estejamos a dobrar o famoso cabo da boa esperança.  A leitura faz parte da segunda parte, ou seja, do prazer.
Quem me acompanhou nos últimos dias:

1. Luis Fernando Veríssimo, "As mentiras que as Mulheres contam", Objetiva, 2015.
No meu modesto entendimento, os primeiros textos são os melhores do livro.  Textos que comecei a ler ainda no local em que comprei o livro, e tive que conter-me para não rir em voz alta.  A veia do LFV esteve intacta, seu humor característico, suas sacadas geniais, sua ironia ferina. Sempre é bom lê-lo.





2. Eça de Queirós, "A Relíquia",  Ediouro, 1997,  254p.
Redescobri o Eça há pouco tempo.  Em outro post já me manifestei pela grandeza de seu vocabulário, pelo rigor de sua escrita, pelo elevado conhecimento que expõe, pela sua cultura.
Este livro relata a vida de um órfão criado pela tia beata, no Portugal dos 1800.  Embora tenha se formado em Direito, nunca exerceu a profissão; aliás, trabalhar nunca foi o objetivo do personagem central, Teodorico Raposo, que submeteu-se durante toda a infância e juventude às ações, rezas, comportamento, mesmo que disfarçado, de beato, com o fito único de convencer a tia de que era um rapaz de comportamento ilibado, e receber, depois da morte dela, a herança.  Para tanto, sujeitou-se a uma viagem a Jerusalém, paga por ela,  e a locais sagrados para o catolicismo, com o objetivo de trazer uma relíquia santa para a tia.  O livro trata dessa viagem, descreve os locais, várias personagens que o acompanham, e o desfecho final é inesperado.  Deveras interessante, embora descrições cansativas, muito minuciosas e vocabulário bastante elevado.  Eça é Eça.




 3. Moacyr Scliar, "Um sonho no caroço do abacate". Ed. Global, 2000, Literatura infanto-juvenil.
Há muito não lia o Moacyr.  Este livro, dedicado aos adolescentes, relata, de uma forma criativa, direta, linguagem acessível, os problemas de racismo nas escolas e na sociedade, em relação a judeus e negros, o famoso bullying.  Uma história comovente que, se todos os adolescentes lessem, seria ótimo para ajudá-los a entender que só existe a raça humana, e que a cor da pele ou a religião não são marcadores do caráter e da personalidade de uma pessoa.  Direto na veia, como falam os jovens.

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