domingo, 4 de junho de 2017

Conhecendo o mundo de um comunista declarado


 

 Meus professores sempre diziam: para poder criticar alguma coisa, você tem que conhecer; não pode dizer: não li e não gostei.
Agora, posso dizer: li, e continuo não gostando. Explico:
Já havia lido diversos artigos, relatos, comentários, livros a respeito de Luís Carlos Prestes. Já li o livro "Olga" de Fernando Morais, também vi o filme. Na biografia de Getúlio Vargas,  mencionada neste blog, igualmente há referências ao político, à sua primeira mulher e aos comunistas. 
Todos sabem meu posicionamento: conservadora. Já havia concluído que a Coluna Prestes não tinha sido um bom movimento, mencionando neste post o que ele e seus correligionários haviam feito com a família de minha avó.
Então, para poder falar de cadeira, como diz a linguagem popular, encontrei em uma feira do livro a biografia Luís Carlos Prestes um revolucionário entre dois mundos, de  Daniel Aarão Reis.  O autor é carioca, durante o regime militar esteve exilado na Argélia e na França, onde graduou-se e fez mestrado em História, doutorando-se em história social pela Universidade de São Paulo.

Óbvio que o historiador valeu-se de extensa bibliografia, documentos, reportagens e demais informações inerentes ao trabalho.

Luís Carlos Prestes

Gaúcho de Porto Alegre, Prestes nasceu em fins do século XIX, filho de uma família abastada, descendente de nobres. Seu pai era militar, homem de cultura, sua mãe falava francês, tocava piano e tinha grande formação cultural. Os livros de seu pai mostravam a cultura do materialismo e positivismo francês, de Comte, escola de Benjamin Constant.
Como militar, o pai de Prestes mudava de residência com frequência.  "Em 1901, o casal estava de volta ao Rio Grande do Sul com a designação de Antônio para trabalhar em Alegrete, no oeste do estado, a pouco mais de quinhentos quilômetros de Porto Alegre, Luís Carlos Prestes tem dessa época uma das mais antigas recordações, quando teria ido com o pai, numa carroça de colono, a Ijuí, onde se construía, sob sua supervisão, uma estrada de ferro entre Cruz Alta e Porto Lucena." 
 Depois da doença do pai e várias peripécias, aos 6 anos de idade Prestes chegou ao Rio de Janeiro. Em 1911, com 13 anos, ingressou no Colégio Militar, onde fez o ensino  médio, concluído em 1916, indo para a Escola Militar do Realengo, onde formou-se em 1919 engenheiro militar, sendo promovido a segundo-tenente de Arma e Engenharia. Suas notas sempre excelentes, aluno brilhante, estudioso; a titulação conquistada era bacharel em Ciências Físicas, Matemáticas e engenharia Militar. Pena que não soube aproveitar os estudos e todo o conhecimento que adquiriu.

A grande marcha

"A saga da Grande Marcha chefiada por Miguel Costa e Luís Carlos Prestes, que atravessou o país durante dois anos, teve origem numa rebelião desfechada na cidade de São Paulo, em 5 de julho de 1924." (p.43) O objetivo era derrubar Artur Bernardes da Presidência  da República, "os governos de nepotismo, de advocacia administrativa e de incompetência técnica" (p.46), e "se apresentavam como patrocinadores dos direitos do povo."
 E o povo fora consultado sobre o assunto?
Prestes tinha sido designado para atuar em Santo Ângelo, e por lá começou a maldita marcha, que iniciou-se 29 de outubro.
O autor da biografia descreve todos os movimentos pelos quais passaram os revoltosos.  E conclamavam o povo:
"É chegada a hora solene de contribuirmos com o nosso valoroso auxílio para a grande causa nacional", dirigidas ao povo gaúcho. 
"Não queremos perturbar a vida da população , porque amamos e queremos a ordem como base do progresso. Podem estar todos calmos que nada acontecerá de anormal.""Mas a situação estava longe da "normalidade", pois todos os proprietários de automóveis, carroças e cavalos deveriam imediatamente pô-los à disposição do 1º Batalhão Ferroviário. Por outro lado, que adiantava asseverar: "Todas as requisições serão documentadas e assinadas sob a responsabilidade do Ministério da Guerra?" É mais do que provável que aquelas garantias soassem como promessas vãs. Assinava o manifesto, "pelo governo revolucionário do Brasil", o capitão Luís Carlos Prestes". (p.52/53).
E a narrativa do autor dessa biografia revela e confirma o que minha avó havia narrado em seu livro "Memórias da Vó Deza", mencionados acima em post publicado neste blog:
"O problema é que a revolta não conseguira empolgar todo o estado, e mesmo na Região das Missões havia muita resistência - e ativa. Tentativas de ampliar o raio de ação do processo iniciado falharam em sequência: não foi possível tomar Itaqui, onde morreu o tenente Aníbal Benévolo, grave baixa, pois se tratava de um dos principais cérebros da insurreição; mais reveses seriam registrados em Ijuí e Alegrete. Além disso, numerosas tropas de insurretos, incluindo unidades militares, comandada pelo caudilho Honório Lemes, sofreria outra derrota desastrosa em Guaçu-Boi.  Os governistas, civis e militares, estavam bem armados, municiados e com disposição de luta. O levante, a princípio promissor, enfrentava desafios inesperados." (p.53)
"Dias depois, Prestes comemorou o 27º aniversário comandando as tropas no violento combate da Ramada, em campo aberto, de oito da manhã às quatro da tarde, quando os rebeldes perderam cerca de 150 homens(...) Entre os dias 25 e 31 de janeiro, a coluna guerrilheira atravessou, em Porto Feliz, o rio Uruguai, entrando em Santa Catarina." Rumo ao norte, como falou minha avó.  Rumo ao desconhecido, rumo a uma revolta que ceifou milhões de vidas, assaltou cidades, casas, famílias, gastou um dinheiro inutilmente, e não chegou a resultado algum.
O autor descreve em 536 páginas a marcha de Prestes e seus loucos devaneios político/militares. Até este ponto, ele ainda não era comunista.  Ele foi ler e informar-se sobre o comunismo quando de seu primeiro exílio, na Bolívia.

Prestes nunca desistiu de sua revolução.  Sucintamente: teve vários exílios; viveu, sozinho ou com seus filhos, na Europa e, principalmente, na Rússia.  Depois de ser expulso do exército, nunca teve emprego formal. Sempre foi sustentado pelo "movimento revolucionário", com verbas obtidas de amigos políticos, ou seja, do bolso do povo.  Foi durante os vários anos em que viveu na Rússia, sustentado pelo Partido Comunista russo.  Assim é fácil viver e "fazer a revolução".
Esteve preso por vários períodos; teve um relacionamento e uma filha com Olga Benário, Anita Prestes, que também morou na Rússia e em vários outros países, e é Doutora em História.
Teve um relacionamento com outra mulher, Maria, com quem teve 6 filhos.  Essa mulher, também revolucionária e comunista, teve que virar-se sozinha para criar os filhos na maior pobreza, sempre longe do pai, que sempre manteve-se distante, solto ou preso,  por estar permanentemente envolvido em política e querendo revolucionar e tornar nosso país comunista.
Foi amigo de Fidel Castro e de outros grandes líderes do comunismo mundial.  Ajudou a fundar o partido comunista brasileiro.
Morreu em 1990, em meio à desunião da própria família, e longe do partido que ajudou a formar e que esteve, por diversas vezes, como ele, fora do mundo político, nas trevas e subterrâneos.

Vale a pena a leitura.  Ótimo livro, para conhecer e poder criticar à vontade um homem que não acrescentou nada de bom ao povo brasileiro.


 






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