domingo, 13 de maio de 2018

DIGNIDADE DE MULHER



Um dia eu me vi
Minha mãe ao piano.
do jeito que comecei a ser
e por esta vida vivi
durante todo o meu crescer.
Ao meu lado, apoiando
Vi uma mulher que,
sorrindo, às vezes chorando,
acompanha-me desde o nascer.

Esta mulher, pouco mais que uma criança,
ao encontrar seu amor, muito jovem,
assumiu obrigações
de uma casa cuidar;
com pouca idade ainda, começou a função
de muitas bundinhas lavar...

Com amor, muito carinho,
sofrimento, dificuldades,
as criaturas geradas foi ajudando
 a escolher seus caminhos.

Houve problemas - e quantos!
Houve angústias - aos montes!
Houve receios - inúmeros!
Inseguranças - às fartas! 

Aparentemente fraca e submissa,
profundamente humana, compreensiva
muitas vezes usou seu carisma
para, pelos filhos, interceder.

No fundo do seu ser,
no âmago da criatura,
apesar da falta de cultura
(dessa de faculdade)
um sentimento, uma necessidade
de um objetivo maior,
da realização ao lado
da maternidade.

Os rebentos cresceram,
desenvolveram suas capacidades
por ela e pelo companheiro
apoiados, estimulados.
E então, eles se espalharam.

Esta criatura,
com o dom e o fino sentido musical
aguçado, incentivado afinal,
começou a brotar, crescer,
florescer e desabrochar.

Na meia-idade,
já com alguns netos ao redor,
com muitas emoções vividas,
começou a frequentar aulas de música.

As mãos meio emperradas,
alguma lerdeza motora,
mas ela não desistiu;
e a música entrou em sua alma
através das mãos
e nunca mais saiu.

Mulher...minha mãe,
quanta emoção eu sinto
e orgulho de falar
que ela persistiu em seu sonho,
ao mesmo tempo em que
outros problemas da vida
vieram lhe perturbar.

Tenho certeza que a pessoa que tiver
muita força de vontade
a par da lutas incessantes
merece a dignidade
de ser chamada MULHER!


Fiz este poema para minha mãe em 04 de maio de 1986.  Era uma homenagem ao dia das mães e o publico hoje, também no dia das mães, em sua homenagem.
O mal de Alzheimer já não lhe permite mais tocar piano; mas colocando para ouvir músicas que ela ama, canta junto, relembra as letras, seus olhos brilham.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário