domingo, 8 de janeiro de 2023

AS PESSOAS TEMEM MULHERES INDEPENDENTES

 

            

Super vovó - assim meu neto me vê.

           Só fui entender esta frase depois de ficar viúva.

         Logo que meu amado esposo faleceu, todas as pessoas que vinham me abraçar, comentar o ocorrido, expressar seus sentimentos, seus pêsames, já vinham também, com as palavras: “agora tu tens que...” e seguiam-se as mais variadas afirmações, conselhos, sugestões, dicas.  Até o dia em que tive que ser clara: eu fiquei viúva, não incapaz.  Da minha vida cuido eu; tomo minhas decisões, faço o que tenho que fazer, assumo minhas responsabilidades e as consequências dos meus atos; aliás, o que fiz a vida inteira. Apenas, agora, tenho outro estado civil. E ninguém tem nada com isso!

            Entretanto, passei a perceber que toda vez que entro em um recinto em que há muitas pessoas, em que há casais, lugares que, antigamente, não era habitual uma mulher estar desacompanhada, havia olhares esquisitos, mulheres me olhando de soslaio, homens me inspecionando discreta ou descaradamente, observando se tinha aliança em minha mão esquerda: restaurantes, cinemas, clubes, postos de gasolina indo abastecer, eventos, viagens e consequentemente estações rodoviárias, aeroportos, etc.

     Conversando com outras mulheres viúvas, divorciadas, separadas ou solteiras, percebi que o mesmo ocorre com elas. Nós somos os perigos, as disponíveis, mesmo fechando a cara e não dando trela aos mais afoitos que são puxadores de conversa, palpiteiros, paqueradores, curiosos, etc.

         Quando fui a um evento há pouco tempo, na volta uma pessoa perguntou-me: e daí, achou um namorado? – Resposta na lata: - não estou procurando.

         Nossa sociedade tem dificuldades de ver uma mulher que trabalha ou trabalhou estar ou ficar sozinha, sem uma companhia masculina.  A mulher não pode conduzir sua vida de forma independente?  Pode e deve.

         Isso não quer dizer que fechou as portas do coração para um eventual amor que possa vir a ocorrer; mas não necessariamente.

         Falo por mim, e cada mulher que fale por si: fui tão feliz em meu casamento, meu marido e eu nos dávamos tão bem, a ponto de um completar o pensamento e a frase do outro.  Sintonia perfeita.  Sinto saudades? Obviamente! Choro ainda pela sua morte? Evidente que sim! Tivesse sido um casamento infeliz não teria lembranças, saudades, datas a comemorar, família, filhos, netos, recordações de passeios, viagens, músicas preferidas, acontecimentos.

         Em pleno século XXI ainda precisamos falar disso, pois a sociedade ainda não reconhece o direito de uma mulher ser independente, autônoma, senhora de si e do seu destino.

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