Consegui, aleluia!
Apesar de minhas atuais dificuldades para ler devido aos olhos andarem cansados, consegui terminar a releitura deste livro - como diria? - curioso, reflexivo, meio doido, filosófico, hã?
Sei que há pessoas especializadas na obra de Clarice Lispector, assim como há especialistas de vários autores famosos.
Não me alço a essas alturas.
Sou, apenas, uma mulher que ama ler, simples, Professora aposentada do ensino fundamental e médio, que deu graças a Deus quando acabaram os compromissos.
Não quero saber das regras, das correntes, das linhas de pensamento, da defesa irrevogável de ideias e convicções.
Hoje, leio apenas pelo prazer de ler. Amor à leitura.
Não quero entrar em disputas.
E comento minhas leituras pois gosto de repartir. Quem não gostar, não me leia!
Voltando ao livro: já o havia lido na minha mocidade, quando cursava o Curso de Letras na então FIDENE, hoje Unijuí, na minha cidade natal, Ijuí/RS.
Mas lá já se vão mais de 40 anos...muita coisa a gente esquece! Nossas indicações de leitura eram feitas por nosso Professor Deonísio da Silva, que nos dava aulas de Literatura. Querido professor, meu amigo até hoje, e Editor do meu livro de Contos "A vida é assim", pela Almedina.
Clarice Lispector escreveu este livro entre 1974 e 1977, bem quando eu estava concluindo meu Curso de Letras, tinha conhecido meu marido e estávamos para nos casar.
Na mesma época, ela escreveu "A hora da Estrela", sua última obra publicada, antes de morrer.
Ela já nos desnorteia no começo: "Quero escrever movimento puro."
Assim começa:
"(...) Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos."
Ela vai nos desestruturando devagarinho, sem pressa. Assim é. Clarice dá rédeas à imaginação, deixa fluir livremente o fluxo do pensamento, sem ordem nenhuma. Ela nos calca fundo:
"O corpo é a sombra de minha alma".
"Há algo de dor e pungência em viver o hoje"
"Eu queria escrever um livro. Mas onde estão as palavras?"
Ela, Drummond, muitos outros e eu, procuramos as palavras. Eu mais ainda, por ser pequenininha perto destes monstros sagrados da Literatura Brasileira e Universal.
"A arte de abandonar não é ensinada a ninguém."
"Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente."
"Escrever é uma pedra lançada no poço fundo."
""Escrever " existe por si mesmo? Não. É apenas o reflexo de uma coisa que pergunta."
"Tento abrir as comportas, quero ver a água jorrar com ímpeto. Quero que cada frase deste livro seja um clímax."
"O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever. Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar."
Quem não?
Clarice coloca-se, neste livro, como um escritor. E vai desfiando seus pensamentos, suas ideias, suas reflexões, suas coisas bem chão que, às vezes, também nos assaltam, pobres mortais que somos.
Ela retrata-se muito humana, com suas fragilidades e eloquências.
"(...): a solidão, a mesma que existe em cada um, me faz inventar."
"Vida não tem adjetivo."
Ela, então, cria a personagem "Autor" e outra personagem, personagem esta criada pelo Autor, Ângela, a quem dá vida, pensamento, ações, e ambos dialogam o resto do livro. Eles falam de Literatura, do ato de escrever e de todos os demais assuntos que podem ser escritos e comentados.
Muito doido!
Não vou citar todo o livro. Apenas algumas passagens que achei interessantes:
"Autor: (...) Faço o possível para escrever por acaso. Eu quero que a frase aconteça. "
"O que sinto não é traduzível."
"Ângela : Viver me deixa trêmula."
"Tenho que viver aos poucos, não dá para viver tudo de uma vez. Nos braços de alguém eu morro toda. Eu me transfiguro em energia que tem dentro dela o atômico nuclear. Sou o resultado de ter ouvido uma voz quente no passado e de ter descido do trem quase antes dele parar."
"O mais engraçado é que nunca aprendi a viver. Eu não sei nada. Só sei ir vivendo. Como o meu cachorro. Eu tenho medo do ótimo e do superlativo. Quando começa a ficar muito bom eu ou desconfio ou dou um passo para trás."
"Eu mal entrei em mim e assustada já quero sair. Eu descubro que estou além da voracidade. Sou um ímpeto partido no meio."
"Ao pensar verdadeiramente eu me esvazio."
Arrematando:
"A prova de que estou recuperando a saúde mental, é que estou cada minuto mais permissiva: eu me permito mais liberdade e mais experiência. E aceito o acaso. Anseio pelo que ainda não experimentei.(...)"
"Se eu não me amar estarei perdida - porque ninguém me ama a ponto de ser eu, de me ser. Tenho que me querer para dar alguma coisa a mim. Tenho que valer alguma coisa? (...)"
"Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem."
"Eu sou essencialmente uma contraditória."
"Pensar é tão imaterial que nem palavras tem."
"Não se morre eternamente. É só uma vez, e dura um instante."
"Fui feita para ninguém precisar de mim."
PRONTO!
Aberto para reflexões, comentários, análises, comparações, etc...
Lembra Fernando Pessoa, Lya Luft, Lygia Fagundes Telles, Virgínia Woolf, ...
Amei!
Amo Clarice Lispector desde o primeiro livro que li.
Achei-me nela.
Espero que tu também te aches.
Leitura nota dez!
LISPECTOR, Clarice. , 1920-1977. Um sopro de vida. 1ªed.- RJ:Rocco, 2020, 190p.
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