domingo, 8 de outubro de 2017

MEUS VERSOS







Eu quero fazer meus versos
não como quem morre,
mas como quem ama a vida.

Eu quero fazer meus versos,
não para homenagens póstumas.

Eu quero fazer meus versos
mesmo que sejam a única arma de que disponha
para expor uma realidade
um ponto minúsculo da história
o momento do meu tempo

Eu quero fazer meus versos
mesmo que você não os leia
mas para que saiba que,
apesar:
da energia nuclear perigosa
da liquidação do ecossistema,
da cultura atrofiada do meu povo,
da fome, da doença, dos casebres,
dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem-emprego, 
dos sem escola, dos sem comida, 
do salário magro, dos políticos corruptos,
dos governantes poderosos e cruéis,
dessa horrenda realidade
que me envolve e me angustia,
eu parei um instante
e fiz estes versos.

Os poetas - dizem há séculos - são loucos.
Viva esta loucura!

A poetisa é a pessoa que pára, no meio da guerra,
para fazer anotações
ao lado da metralhadora, do míssil, do botão vermelho,
da chuva amarela caindo em sua cabeça.

É a mensagem da garrafa.
Alguém lerá.
E sorrirá, pois haverá compreensão
e comunhão de ideias.



Lorení Dalla Corte.
Abril 1987/1988.

(Imagem: http://www.canaanoticias.com.br/entretenimento/casal-encontra-a-mais-antiga-mensagem-em-garrafa-da-historia/)
 

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