sábado, 7 de outubro de 2017

Do fundo do baú




 Quem tem a pretensão de escrever, sempre tem seu baú escondido. Nele, está o seu tesouro, seus escritos secretos, suas mais brilhantes ideias. 
Também tenho o meu, mas não é um baú; é uma caixa de mudança, na qual, na última que fiz, coloquei o saldo do livro que publiquei (tenho alguns exemplares ainda para vender); rascunhos, crônicas, contos, poemas, recortes de jornais, revistas,...
Como quero livrar-me da caixa, e, consequentemente dos escritos, os que, hoje, considero passíveis de serem lidos, trarei para cá. Os demais serão sumariamente eliminados,      pois não merecedores de atenção.
A eles, pois, todos devidamente datados, como incumbe a uma preciosista como eu.

Em setembro de 1990, pelo que vejo, li "O retrato de  Dorian Gray", de Oscar Wilde. E já naquele tempo, tinha a mania de  fazer comentários às minhas leituras. Ei-los:

Oscar Wilde, em uma linguagem rebuscada, descritiva, nos detalha de forma mordaz a sociedade inglesa do século XIX. Sir, Lady e demais termos, criados, nobreza, orgulho do sangue britânico são evidenciados. Luxo, ostentação, desperdício saltam aos olhos. E, também, o menosprezo pelas classes baixas - o povo-, pois a nobreza não admitia que tivessem o "mesmo sangue".
Mortes por suicídio, indução ao suicídio, assassinatos transparecem na obra.
Dorian Gray é o símbolo do Narciso, do Apolo e de outras entidades representativas da beleza, do egoísmo, do orgulho. Era um homem muito belo. Ele se amava muito e, como não pretendia envelhecer, vendeu sua alma ao diabo. Na negociação, o retrato envelheceria em seu lugar, e ele permaneceria belo e sensual para sempre.
Lord Henry é o símbolo da consciência irônica, cruel,  mordaz; influi sobre Dorian - um fraco,  transformando-o num pérfido.
Outras personagens - vários duques, lordes, etc, surgem em jantares, óperas, clubes...a ociosidade e a futilidade em pessoas. Mulheres que seduz, pessoas que ele mata.  Até chegar à conclusão que é uma pessoa má; então, mata o retrato...mas quem morre é ele mesmo, transformado em um velho, enquanto o retrato volta a representá-lo como jovem.

Excertos:
"Os camponeses deitam cedo, levantam cedo pois têm  tanta coisa a fazer...não sabem o sabor do 'pecado', da luxúria, dos prazeres mundanos. Não sabem viver a noite. São completamente sem graça, sem escândalos".
"Um  livro não é, de modo algum, moral ou imoral.  Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo." (Oscar Wilde, no prefácio). Mais:
"Pensamento e linguagem são para o artista instrumentos de uma arte"
"Na realidade, a arte reflete o espectador e não a vida".
"Toda arte é completamente inútil".

Inspirada pelo livro, escrevi  um 

                                      HAI-KAI DA BELEZA

                                     Que belo trato:
                                      permaneço bonita
                                      envelhece o retrato.
            
                                      (Para Dorian Gray, belo personagem). (26/09/1990)

Wilde, Oscar. O retrato de Dorian Gray. Abril Cultural, 1972, 1ªed., trad. Oscar Mendes, 270p.









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