domingo, 19 de março de 2023

NOBEL DE LITERATURA 2022: ANNIE ERNAUX – O ACONTECIMENTO





         Sempre que possível, procuro ler pelo menos um livro dos ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura. Isto se torna uma tarefa um pouco difícil para mim, pois moro longe dos grandes centros, e, a maioria dos livros, tenho que encomendar pela internet.
         Mas, desta vez, não só no interior não consegui encontrar algum livro desta autora. Em Joinville/SC, uma cidade de porte médio, considerada a maior de Santa Catarina, também estava difícil. Eu passeava por lá. Precisei passar por duas ou três livrarias, e o único exemplar que encontrei foi este: O acontecimento.
    
         Quem é Annie Ernaux?
    
         De acordo com as orelhas do livro, “Annie Ernaux nasceu em 1940, em Lillebone, na França. Estudou na universidade de Rouen e foi professora do Centre National d’Enseignement par Correspondance por mais de trinta anos. Seus livros são considerados clássicos modernos na França. Em 2022, Ernaux recebeu o prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto de sua obra.” 

O ACONTECIMENTO 

        Neste livro a autora relata o que aconteceu com ela quando tinha 23 anos e era estudante universitária, e acontece com muitas moças na juventude: engravidou do namorado, no meio do curso que fazia. Obviamente, como uma grande maioria de homens faz ao redor do mundo, ele não assumiu o filho e disse para ela se virar. 
         Na época, 1963, era proibido abortar na França, como na grande maioria dos países. A lei era severa com mulheres que “cometiam” o aborto, e os médicos também eram penalizados. 
        Annie relata todo o seu sofrimento, toda a peregrinação em busca de uma solução para o seu problema. Não podia contar para sua família, o que causaria um escândalo. 
        Numa linguagem compreensível facilmente, direta e uma narrativa dinâmica, expõe suas peripécias em busca de médicos, farmácias, conversas com amigos e amigas, até encontrar uma fazedora de anjos que a ajuda.
         Traumatizada com a situação a que foi lançada por seu comportamento e do namorado – inconsequente, porém, numa época que os anticoncepcionais ainda não eram largamente usados – enfrentou sozinha a situação, o aborto, a hemorragia e o atendimento que teve que receber num hospital. 
        Como ela, milhões de mulheres, no mundo inteiro, enfrentam sozinhas um aborto clandestino, uma gestação não planejada e a condenação da sociedade. A mesma sociedade que não lembra que uma criança não se faz sozinha, nem a mulher não consegue autogestação: precisa da participação de um homem. Seja pessoalmente ou, atualmente, com doação de esperma para inseminação artificial. Mas, aí, já é uma outra situação. 
        Elas são condenadas sempre, eles absolvidos eternamente. Pela omissão, descompromisso, vaidade, pela não assunção de responsabilidades ou pela sociedade.
         Vale a leitura. 


 ERNAUX, ANNIE. O acontecimento; tradução Isadora de Araújo Pontes.-1ª ed- São Paulo: Fósforo, 2022.74 p.

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