quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Assim falou Zaratustra.

     Após muito tempo, anos a fio, o resultado de uma maluquice minha; o certo seria perseverança, mas creio que é maluquice mesmo: meus blogtores, aguentem aí, se puderem; quem manda ler meu blog?


·        NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. Trad. De Alex Marins. São Paulo, SP. Martin Claret, 2002, 243p.

Aleluia! Finalmente consegui!
Após várias tentativas, inícios e reinícios,
pegadas duras e intensas, desistências, inconformismo – não, eu TENHO que ler, NÃO ADMITO que um livro me derrube -  , consegui terminar de lê-lo.  Foi um desafio a que me propus – não gosto de coisas fáceis  - tentar decifrar este livro de Nietzsche.  ‘O Anticristo’ não tinha sido muito fácil, mas tinha menos páginas – coisa que nunca olho, mas desta vez percebi – a linguagem e as reflexões não eram tão, como direi, profundas e, muitas vezes para mim, confusas.  Não sei se o entendi.  Creio que para compreender completamente a obra deste autor – se isto for possível a pobres mortais que não sejam filósofos – devo procurar justamente análises de filósofos sobre tal, e também não sei se estes, os filósofos, o entendem. Estarei eu a fim disto?  Talvez seja até prudente citar um comentário feito ao final do perfil biográfico por Scarlett Marton: “Quem julgou compreendê-lo equivocou-se a seu respeito; quem não o compreendeu, julgou-o equivocado”. Eu ainda não sei onde me encaixo...
Mas, leigamente falando, vou tentar expor o que consegui captar desta obra, que muitos comentam e poucos lêem; este é um dos livros que a gente tem que ler com o lápis na mão, sublinhando, pondo exclamações, interrogações, flechinhas, circulando...  EU CONSEGUI!
Para mim também era um duelo comigo mesma, pois como professora, mesmo que aposentada, e mãe de um filho que leu este livro aos 20 anos, não poderia me abater; pelo menos, para poder conversar com ele de igual para igual...

  Zaratustra  aos 30 anos se afastou de sua terra e foi viver numa montanha; lá ficou 10 anos, isolado, pensando, vendo o sol nascer todo o dia, conversando com sua águia e sua serpente domésticas;  refletiu sobre tudo e sobre todos, teve todo tipo de pensamento.  Nietzsche coloca na boca do ermitão toda a sua filosofia, toda a sua crítica ao pensamento alemão e ao ocidental; às religiões cristãs; às formas de vida dos seres humanos, seja no campo familiar, financeiro ou social; comportamentos, valores, tudo aquilo que já tinha sido pensado e refletido pelos filósofos anteriores a ele, e aos seus contemporâneos.
Enfastiado de sua sabedoria, resolve descer da montanha e voltar a viver junto aos homens, divulgando seu pensamento e angariando discípulos, como Jesus; inclusive a forma como o autor escreve  o livro, é uma imitação da Bíblia – a linguagem, a forma de tratamento, escrito em capítulos, a apresentação; e, ao final de cada capítulo, o bordão: “Assim falou  Zaratustra”. Ele menciona que o homem, como se apresenta, já está falido; que Deus não existe mais, já morreu, e que o céu não existe, entre outras reflexões.  Que seria necessário um novo homem, o ‘super-homem’, que não teria todos os valores caros aos ocidentais, que o que se diz crime não seria crime, que cada um é dono de seu nariz e faz o que quer, que as convenções só atrapalham a vida das pessoas, etc...
Vou citar alguns dos pensamentos expostos, pois uma análise mais acurada seria enfadonha, e não é este meu objetivo, e, também seria superficial, o que não gosto; quem se candidatar, leia o livro, e conversamos depois:

“O homem é corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.
O que é de grande valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim; o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um acabamento.
Eu só amo aqueles que sabem viver como que se extinguindo, porque são esses os que atravessam de um para outro lado.
Amo aqueles de grande desprezo, porque são os grandes adoradores, as setas do desejo ansiosas pela outra margem. (...) amo o que vive para conhecer, e que quer conhecer, para que um dia viva o Super-homem, porque assim quer ele sucumbir.”
“Coisa para nos preocupar é a vida humana, e sempre vazia de sentido: um trovão lhe pode ser fatal!”
“Ter toda a gente o direito de aprender a ler é coisa que estropia, não só a letra mas o pensamento.
Noutro tempo o espírito era Deus; depois fez-se homem; agora fez-se populaça.”
“Quanto mais se quer erguer para o alto e para a luz, mais vigorosamente enterra as suas raízes para baixo, para o tenebroso e profundo: para o mal. (...)Quando chego em cima, sempre me encontro só.”
“Vós todos que amais o trabalho furioso e tudo o que é rápido, novo, singular, suportai-vos mal a vós mesmos: a vossa atividade é fuga e desejo de vos esquecerdes de vós mesmos.” (isto em 1883!)
“Por toda parte ressoa a voz dos que pregam a morte, e a terra está cheia de seres a que é mister pregar a morte.
Ou  “a vida eterna” – que para mim é o mesmo – contanto que se vão depressa.”
“A guerra e o valor têm feito mais coisas grandes do que o amor do próximo.  Não foi  a vossa piedade mas a vossa bravura que até hoje salvou os náufragos.”
“Estado chama-se o mais frio de todos os monstros.  Mente também friamente, e eis que mentira rasteira sai da sua boca. “Eu, o Estado, sou o Povo!”
É uma mentira!
(...) Os que armam ciladas ao maior número e chamam a isso um Estado são destruidores; suspendem sobre si uma espada e mil apetites.”
“Onde cessa a solidão principia a praça pública, onde principia a praça pública começa também o ruído dos grandes cômicos e o zumbido das moscas venenosas.(...) O mundo gira em torno dos inventores de valores novos; gira invisivelmente;  mas em torno do mundo giram o povo e a glória: assim “anda o mundo””.
“Os covardes são astutos.”
Sobre a castidade:
“Não vale mais cair nas mãos de um assassino do que nos sonhos de uma mulher ardente?
Se não, olhai para esses homens; os seus olhos o dizem; nada melhor conhecem na terra do que deitar-se com uma mulher.”
“Há demasiado tempo que se ocultavam na mulher um escravo e um tirano.  Por isso a mulher ainda não é capaz de amizade; apenas conhece o amor. (...) A mulher ainda não é capaz de  amizade: as mulheres continuam sendo gatas e pássaros. Ou, melhor, vacas.” (!!!!)
“A mudança de valores é de quem cria. Sempre aquele que cria destrói.”
“O prazer do rebanho é mais antigo que o prazer do Eu. E enquanto a boa consciência se chama rebanho, só a má diz: Eu.”
“Mas eu vos digo: o vosso amor ao próximo é vosso meu amor a vós mesmos.  Fugis de vós em busca do próximo, e quereis converter isso numa virtude; mas eu compreendo o vosso “desinteresse”.  O Tu é mais velho do que Eu; o Tu acha-se santificado, mas o Eu ainda não.  Por isso o homem anda diligente atrás do próximo.”
“O que  procura, facilmente se perde a si mesmo.
Todo o isolamento é um erro.” Assim fala o rebanho.”
“Na mulher tudo é um enigma e tudo tem uma só solução: a prenhez.  O homem é para a mulher um meio; o fim é sempre o filho.  Que é, porém, a mulher para o homem?
O verdadeiro homem quer duas coisas: o perigo e o divertimento. Por isso, quer a mulher, que é o brinquedo mais perigoso . (...) Seja a mulher um brinquedo puro e fino como o diamante, abrilhantado pelas virtudes de um mundo que ainda não existe.”
E, absurdo dos absurdos, o pensamento mais machista que já vi:
“E é preciso que a mulher obedeça e que encontre uma profundidade  para a sua superfície.  A alma da mulher é superfície: móvel e tumultuosa película de águas superficiais.” (!!!!!) E ainda incute a idéia de que se deve bater na mulher! Louco!
Depois Zaratustra volta novamente para o isolamento de sua caverna e suas meditações.
“Deus é uma conjectura.”
“Desde que há homens, o homem tem-se divertido muito pouco: é esse, meus irmãos, o único pecado original.  E, quando aprendemos melhor a divertir-nos, esquecemo-nos melhor de fazer mal aos outros e de inventar dores.”
“Assim me disse um dia o diabo:”Deus também tem o seu inferno: é o seu amor pelos homens.” “Deus morreu: foi  a sua piedade pelos homens que o matou.”
“Nós solitários, construímos o nosso ninho na árvore do futuro; as águias nos trarão no bico o sustento.”
“Todos vós, ó sábios célebres, tendes servido o povo e a superstição do povo, e não a verdade!”
“Há algo invulnerável em mim, qualquer coisa que se não pode enterrar e que faz saltar os rochedos; chama-se a minha vontade.”
“Mas onde quer que encontrasse o ser vivo, ouvi a palavra obediência.  Todo o vivente é obediente.  Eis aqui a segunda coisa; manda-se ao que não sabe obedecer a si mesmo.”
“Onde quer que encontrasse o que é vivo, encontrei a vontade de domínio, até na vontade do que obedece encontrei a vontade de ser senhor.”
“Quando olhei em torno de mim reparei que o tempo era o meu único contemporâneo”.
“Que os homens não são iguais: assim fala a justiça.”

Menciona várias vezes sobre o eterno retorno, que tudo é um círculo vicioso, que vai e volta. Que os homens são humanos, demasiado humanos.
Ao final do livro, Zaratustra encontra os homens que lhe pediam socorro, e enviou-os à sua caverna no cimo da montanha: os homens superiores, que o admiravam e queriam sua proteção e sua sabedoria : o rei da direita e o da esquerda, o papa, o sinistro feiticeiro, o mendigo voluntário, o viandante e a sombra, o velho adivinho, o consciencioso e o homem mais feio que, ao descobrirem que não tinham mais um deus para adorar, pois que tinha morrido, resolveram adorar o jumento!
Transparece: racismo, machismo, idéia de raça superior, entre outros pensamentos.



                                      Friedrich Nietzsche
(Imagens: http://www.google.com.br/search?q=assim+falou+zaratustra&oe=utf-8&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a&um=1&ie=UTF-8&tbm=isch&source=og&sa=N&hl=pt-BR&tab=wi&biw=1245&bih=534)







5 comentários:

  1. Racismo nao vi. Machismo sim, visto que em 1800 e cacetada todos eram machistas, inclusive as mulheres e à época isso era normal.

    Já a idéia de raça superior vem de um equívoco histórico. Hitler interpretou desta forma e usou Nietzsche para defender suas ideias que, morto, não podia se defender. Virou senso comum que Nietzsche defendia isso.

    O super homem (ou além-do-homem em outra tradução) refere-se à superação do ser humano: deixarmos de sermos medíocres e irmos além do que somos.

    Pelo menos é o que entendi. Alles blau.

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  2. e uma sugestã: essa letrinha cursiva ali é mto difícil de ler, não dá pra colocar outra fonte?

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  3. Olá, que bom que leste; tenho posto esta fonte cursiva pra distinguir a leitura de outros textos; mas foi bom falares; vou tentar outra marca. O racismo aparece quando ele fala que a populaça não merece nada, nem atenção, e que o povo alemão é superior aos outros, daí Hitler ter adotado suas idéias.
    Bjs.

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  4. Me lasquei! Vou ter que ler pra poder discutir! Abraço

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