quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Viagens - I



     Andando por este mundão de Deus aprendi a gostar de viajar.  Não recordo qual foi minha primeira viagem, mas puxando pela memória, minhas primeiras visões de viagem são entre Ijuí e Santo Ângelo, quando íamos visitar meus avós paternos que moravam lá.
     Para nós, crianças, era um acontecimento quando, nas férias, o pai avisava que íamos visitar os avós.  Era um tal de arrumar as malas, fazer roupa nova, comprar sapatos, que tinham ficado gastos durante o ano e, principalmente, andar de táxi.  Sentíamo-nos importantes quando sentávamos no banco de trás com minha mãe, o pai no banco da frente e nos dirigíamos à estação rodoviária ou ferroviária.  De ônibus eu não gostava muito, pois nas estradas de chão levantava muita poeira e, quando o ônibus parava - pinga-pinga - entrava um cheiro forte de gasolina, que me dava ânsias.
     De trem Maria Fumaça era uma aventura! Saíamos no começo da tarde, creio, ou do dia, sei lá, e chegávamos geralmente à noite; o legal era ver o trem fazendo as curvas, que a gente enxergava as pontas do mesmo e de um lado a outro; e tinha o balanço do trem, te-tlec, te-tlec, o apito longo nos cruzamentos - piuiuiuiuiuiuiiiiiiiiiiii!  

A Maria fumaça fazendo a curva
                                             

(Imagem: http://www.google.com.br/imgres?q=maria+fuma%C3%A7a+em+curvas&um=1&hl=pt-BR&client=firefox-a&sa=N&rls=org.mozilla:pt-BR:official&biw=1245&bih=541&tbm=isch&tbnid=mr0c-5pu7sLz6M:&imgrefurl=http://www.crocantefotolog.com/archives/2006/08/index.html&docid=qtZRQ0TLVtrohM&w=500&h=375&ei=-QlDTpCfD8qugQfOzb2-CQ&zoom=1&iact=hc&vpx=297&vpy=233&dur=6312&hovh=194&hovw=259&tx=136&ty=116&page=2&tbnh=121&tbnw=155&start=18&ndsp=19&ved=1t:429,r:1,s:18)
   
      A mãe levava um farnel, - afinal, viajava com  quatro crianças e dois adultos,-  que constava de sanduíche de pão caseiro (uma delícia!), com queijo e mortadela, alguma fruta, suco ou leite; às vezes galinha enfarofada (outra maravilha que minha mãe fazia divinamente), o pastel divino que ela fazia, entre outros quitutes. Para nós era uma festa.
     Na minha visão de menina que tudo observava,  achava estranho que os postes corressem à frente dos meus olhos, tão rápidos...aos poucos fui me dando conta que os postes estavam parados e o trem que se movimentava...mas que parecia, parecia!
     Ao chegar em Santo Ângelo, outra vez o status de andar de táxi - como a Angélica, ...- e a chegada na casa de meus avós, que era sempre uma maravilha.
     Meus avós tiveram quinze filhos, sendo que dois faleceram ainda crianças.  Então tinham muitos netos; minha vó nunca se lembrava do meu nome; como o apelido de minha mãe é Mimi, me chamava de Mimizinha; creio que era a forma que ela tinha de memorizar quem era filho de quem.  Mas ela era muito querida, fazia coisas gostosas para comermos; e meu avô,  gostava de contar histórias pra nós, ele era muito engraçado.
     Eu gostava de passear pelo centro de Santo Ângelo; lá tinha uma praça onde criavam jacarés, que a gente olhava com um misto de curiosidade e medo; creio que hoje já não existe mais, suponho que o Ibama deve ter proibido. Mas, proibido ou não, o fato é que encontrei na internet imagens da mesma:

Não sei o nome da praça, mas os jacarés estavam lá.

     Quando cresci, fui conhecer as Ruínas de São Miguel das Missões, que fica coladinho em Santo Ângelo; tem um museu com imagens de esculturas sacras feitas pelos índios, e onde é apresentado o programa som e luz, encenando a saga dos índios com a colonização jesuítica. É muito interessante, vale a pena ver.


Ruínas da Igreja de São Miguel dos 7 povos das Missões.
                                   



Esculturas feitas pelos índios no Museu das Missões.

     A praia fui conhecer quando tinha 15 anos, com minha tia mais nova; fomos na Praia de Ipanema, no rio Guaíba ,em Porto Alegre - minha primeira praia era de rio, não do mar, mas gostei assim mesmo.

Praia de Ipanema, Porto Alegre\RS.

     Aliás, foi a primeira vez que fui a Porto Alegre, fomos de trem Minuano - no RS os meios de transporte têm nome.   Ficamos na casa de uma senhora, parente do marido de outra tia; ela cozinhava muito bem, foi a primeira vez que comi filé de peixe, pois meu pai adorava pescar, mas sempre trazia peixes cheios de espinhas, que era uma dificuldade comer. 

Trem Minuano, transporte de passageiros, com restaurante e poltronas reclinávei

      Praia de mar conheci com 20 anos, quando já trabalhava e era filiada ao SESC; anualmente eles promoviam férias coletivas, o que propiciava para nós, comerciários, 10 dias nas praias do litoral gaúcho, com muito sol, brincadeiras, novas  amizades, paqueras, passeios e muita diversão. Desta vez fui de ônibus, já havia asfalto e o trajeto era feito mais rapidamente.  A política já era de incentivo ao uso de ônibus e automóveis, caminhões, e os trens estavam sendo desativados.  Uma grande burrice do governo ditatorial.  Poderiam fazer as estradas asfaltadas, estimulando o transporte rodoviário, mas deveriam ter mantido e atualizado o ferroviário, aproveitando os trilhos que já estavam instalados. Enfim...
     Fomos para a praia de Araçá; foi a primeira vez que fui em um hotel sem ninguém da minha família,; estava começando meu processo de independência; uma amiga minha, Cecília, que estudava comigo na faculdade, também foi; era uma diversão só.

Praia do Araçá, em Capão da Canoa\RS.

     Posteriormente fui à praia nem sei quantas vezes, daí já casada, com meu marido e filhos.  Preferimos as de Santa Catarina, tendo em vista que a água das praias gaúchas são muito frias, e as do outro estado, mais mornas.  Com o tempo fomos ficando 'experts' no assunto; aprendemos a tomar banho de sol sem nos queimar, cuidando os horários e curtindo o bom do verão. Abandonamos os meios de transporte coletivos, e somente viajamos de carro; com crianças é melhor, a gente pára onde e quando quer, fica mais fácil. Infelizmente as viagens aéreas não estão disponíveis para todos os lugares, então temos que ir correndo os riscos de sermos viajantes automobilísticos neste nosso Brasilzão de guerra.




2 comentários:

  1. Prima, a praça não tem mais jacaré, foi reformada e aí o Ibama ou a Fepam, sei lá quem cuida, descobriu os jacarés e proibiu a sua volta para o local.

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  2. oi, Fábio; que bom que me achaste....eu suspeitava que os jacarés não estivessem mais ali, mas não tinha certeza. Obrigada pela informação. bjs.

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