segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Da minha janela eu vejo...

     Durante toda a minha vida tive este "quê" de observar o que vejo de minha janela.  Como era muito curiosa, quando criança, e relembrando as referências de romances antigos, geralmente de Jorge Amado, em que as donzelas ficavam à janela olhando a vida passar; ou a música de Gilberto Gil "...tá me esperando na janela, ai, ai..."; ou quando ouvi pela primeira vez Adriana Calcanhoto cantar "Esquadros" (eu ando pelo mundo, ...pela janela do quarto, pela tela, pela janela, eu vejo tudo enquadrado ...), lembrei-me desta mania e vi que não estou só, o que é um alento a um ser por demasiado humano;  sempre observei o que se passava sob minhas janelas.
    Quando criança, da janela de meu quarto, na velha casa da Penha, eu via um grande pé de cinamomo; a casa da vizinha, cheia de crianças arteiras, em algazarra.  Da janela da frente, víamos toda a Ijuí, pois nossa casa era no alto, então se enxergava o morro do Bairro São Geraldo, com a Unijuí ao lado; o morro do centro, com a Praça da República e o comércio ao seu redor, e se adivinhava o terceiro morro, onde estava o cemitério. Tínhamos uma visão privilegiada da cidade.


    




Na atual casa de meus pais, de minha janela eu via a casa da vizinha - e ela me via, tão perto são as casas.  Mas da janela e porta da frente, víamos diariamente o lindo pôr-do-sol da cidade, com árvores ao fundo, visão esta que hoje está encoberta por construções e uma enorme árvore que meu pai plantou em frente à casa.
(Foto de Athena; 1976)   






Quando trabalhava em uma companhia de seguros, no centro da cidade, da janela em frente à minha mesa, eu via todo o movimento da rua; via pessoas caminhando, conversando, correndo, entrando e saindo de carros; achava interessante olhar de cima (no primeiro andar) e as pessoas não me verem, a não ser que olhassem para cima.  Era como uma testemunha, não sei de quê.
     Quando fui morar em Cruz Alta, já casada, eu via um senhor que morava na casa ao lado, e o coitado bebia... como bebia! Ele tinha uma mania de pegar latas de azeite e empilhar...que derrubava, numa barulheira infernal; depois montava tudo de novo, e assim passava os dias.  No começo achei engraçado, depois tive pena dele.

  Em Panambi, na primeira casa em que morei, eu via o morro em frente - explicando: a topografia desta cidade gaúcha é toda acidentada, tem vários morros, e casas construídas em todos eles.  Neste morro, tinha muitas casas, um pouco de mato - lá se preservava muito o verde; em frente, morava um casal de meia idade; às vezes o homem empinava um pouco bastante...; um sábado à tarde, enquanto a marvada ia fazendo seu efeito, ele escutava músicas bem alto, no rádio; a mulher não gostou, e desligou o rádio...ele começou a gritar e quebrar as coisas..."por que desligou o rádio? a música tava boa... "  Encolhemo-nos dentro de casa e aguardamos a tempestade passar.  Mas o amanhecer era muito lindo, (vide foto, embora antiguinha, 1978),  e nem todos meus vizinhos empinavam...

     Na outra casa que moramos nesta cidade, antes de construir a nossa, à frente eu via a casa dos vizinhos, muito linda, com cortinas que balançavam à janela...aos fundos, um gramado bem cuidadinho, e pinheiros plantados em fileira. Nunca esquecerei um dia, tremendamente frio, em que geou, e a grama ficou toda branquinha, parecia neve.

                                    (Os pinheiros enfileirados; foto de Athena, 1980)

     Quando nossa casa ficou pronta, da janela de meu quarto eu via a Rua Bento Gonçalves, por onde passavam todos os ônibus que iam e vinham da estação rodoviária que ficava a uma quadra de minha casa; à frente tinha uma lenheira, noutra esquina uma casa muito bonita. Ao lado tinha um bar, onde um papagaio  falava o tempo todo, e onde alguns passavam ao fim do dia para molhar o gargumilo..., que posteriormente se transformou em uma igreja! São as incongruências do Brasil.
     Já na frente da casa, víamos a creche municipal, com seu parquinho e as crianças que sempre brincavam e faziam muito barulho. Ao lado, a casa de uma vizinha que tinha o jardim mais lindo da cidade; cuidava das flores com muito carinho e dedicação, estava sempre adubando, tirando os matos, plantando e replantando, e eu ficava, de longe, admirando.  Sempre amei jardins.
     Quando nos mudamos para Caxias do Sul, achei muito triste a visão que tinha do apartamento: era de uma fábrica, e só se via aquele paredão, sem janelas, ouvia os apitos da fábrica nos horários de entrada e saída, muito ...sei lá... não gostei.
     Em outra casa, de volta à minha terra, via um belo jardim...na outra, que ficava abaixo da rua, via a rua e seu movimento, acontecendo lá em cima,  pois era uma das principais da cidade...
     Depois vim para a região onde moro atualmente....da janela do apartamento via outros prédios de apartamentos, tudo muito frio, impessoal, muita alvenaria e alturas...
     Hoje vejo da minha janela, em minha casa, as flores que plantei: coqueiros, azaléias, uma roseira, que adoro rosas...e  pássaros de todas as espécies, pois antigamente este local era zona rural e uma fazenda; até um beija-flor, que apelidamos chiquinho, vem todos os dias beijar as flores da nossa casa;  e vejo, também,  a casa do vizinho da frente, sempre fechada, pois saem para trabalhar e voltam tarde da noite.
     Mas a visão das minhas plantas é privilegiada, amo muito e fico muito feliz.

                           (Aqui consegui capturar um passarinho no galho do coqueiro; foto de Athena)


     Da outra janela, ao lado, vejo a BR que passa perto, onde acontecem muitos acidentes, pois os motoristas daqui são tudo meio maluco...e ouço, infinitamente, o ruído de caminhões, ônibus, carros, freadas bruscas, sirenes de polícia e ambulâncias...motoqueiros em alta velocidade disputando rachas, e assim por diante.
     Quantas janelas ainda?
    

                (Minhas azaléias, que sempre florescem em agosto; foto de Athena)

2 comentários:

  1. Eu gostava da janela da frente, na Penha, via quase toda a cidade. Gostava também a janela da frente de min ha casa em Charqueadas, a vila residencial era muito bonita e arborizada. Abração

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  2. Interessante a Profe usando linguagem coloquial... hehehe... to brincando, viu, mãe... Vale uma continuação. Gostei muito... beijos

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