domingo, 14 de agosto de 2011

Meu pai

     Escrever a respeito de meu pai é um misto de alegria e prazer.
     Ele foi a primeira pessoa, junto com minha mãe, a me passar a noção de força, proteção, segurança, autoridade, carinho, amor, desprendimento, confiança, fé, bom humor, responsabilidade, auxílio, compreensão, severidade, ética, honestidade,  entre outras características.
   Meu pai nasceu em 1927, 17 de setembro; daqui a alguns dias completará 84 anos bem vividos, como homem do seu tempo.  
    Nasceu na São Borja do começo do século XX, e viu Getúlio Vargas de perto, embora não concordasse com sua forma de agir.
  Viveu a infância na Fazenda do Herval, em São Borja, e, posteriormente, foi para São Luiz Gonzaga, com a família.
    As dificuldades pelas quais passou na vida ajudaram a forjar o homem íntegro que é meu pai; que estudou até o ginásio, o que para a época era um feito,  e aprendeu as lides do comércio com um seu tio, ajudando-o em sua empresa, comprando, vendendo, negociando, o que lhe deu boa experiência.
     Quando chegou a época de servir ao exército, não quis ficar na velha São Luiz, e, juntamente com dois amigos, dirigiram-se à cidade de Canoas, para servir à Força Aérea Brasileira . Conta-nos frequentemente as aventuras dos três matutos, viajando pela primeira vez de trem, numa distância tão grande e, igualmente, longe da família. Segundo relata, foram dois anos na Base Aérea, em Rio Grande, para onde foram designados.  Viviam em uma ilha cerca de 700 homens, e para comprar mantimentos tinham que ir de barco à cidade, o que era outra aventura; foi ali que conheceu os botos, que achava que eram tubarões.
     De seus relatos o que mais o deixa chateado, é que, de tempos em tempos, os aviadores pegavam um recruta e levavam para dar uma volta de avião; quando chegou a vez dele, veio uma ordem superior para cancelar tais vôos; talvez seja o único servidor da FAB que nunca andou de avião. Já o convidei várias vezes com o fim de viajar para algum lugar que queira, de avião, mas diz que agora não quer mais.
     Conheceu minha mãe no culto de inauguração da Igreja Metodista; ela tinha 14 anos e ele 22; entre namoro e noivado foram 3 anos. De casamento eles vão completar, em setembro, 59 anos.
     O lazer dele, durante toda a sua vida ativa, foi a pescaria, coisa que ele fazia de tempos em tempos, com colegas da Prefeitura, que entravam com o caminhão, a garrafa de pinga, que eles bebiam (nunca vi meu pai beber pinga, ele conta que os amigos que bebiam); e ele tinha todo o equipamento de pesca, do barco a todos os tipos de anzóis, redes, panelas e chaleira de ferro, e tudo o mais que um pescador organizado, como ele é, deveria ter. Tanto que a menina curiosa carrega, até hoje, a cicatriz de um anzol que enganchou em seu dedo, e que foi uma dificuldade e uma dor tremenda para tirar.   Tanto ele era organizado, que, brinca, os amigos quando o convidavam, na realidade estavam convidando os equipamentos para a pescaria.  Mas quem relata melhor estes episódios é meu irmão mais velho, no blog dele. Ele foi, dos 3 filhos homens, o que mais foi pescar com pai, desde guri.
     Aposentou-se há já algum tempo, e vive na casa que construiu posteriormente, vendendo a mais velha e indo mais para o centro, desde 1973, com minha mãe.
     Sempre foi um pai responsável: ele que ia à escola buscar os boletins, o que nos enchia de ansiedades e, depois, alegria, pois recebíamos elogios calorosos, que sempre nos incentivou a estudar, e nos incutiu que só o estudo, para quem não nasce em berço de ouro, pode nos levar ao crescimento pessoal, social e financeiro.  Ele tirava os pontos quando tínhamos prova; a tabuada, e se não soubéssemos a matéria, era só nos dar uma olhada que nem precisava dizer - vá estudar mais! Eu conhecia meu pai pelo olhar; que se abrandou com o tempo, pois que crescemos, e este olhar para nós, hoje, é só afeto, uma vez que a responsabilidade de nos criar e educar já vai longe.
     Sempre gostou de andar de terno e gravata, bem asseado e perfumado; nunca o vi sem bigode, o que é uma característica sua desde a juventude.
    Ensinou-nos, junto com a mãe, a encapar os cadernos, engraxar os sapatos, organizar toda a louça antes de lavar - das menos sujas e delicadas, para as mais sujas e engraxadas-; a ser metódicos em tudo, pois sempre foi muito organizado; seu galpão velho, onde guarda as ferramentas e serve como depósito, parece um arquivo de tão organizado; a respeitar os mais velhos e demais pessoas, a ter fé em Deus, a ser honestos, a trabalhar com zelo, a ser responsáveis.  Muito mais teria que falar, mas daí estaria me repetindo.
     Agora que moro longe dele, e não posso estar junto em todas as ocasiões, nem todas as especiais, sinto muita falta dele; que o telefone ajuda a suprir, matando um pouco a saudade.
     Homenageio, desta forma,no dia dos pais, publicamente e para os quatro cantos do mundo, meu pai, um homem íntegro e muito amado por todos nós, seus filhos, netos, e bisnetos.
     Um beijo, meu pai, e um grande abraço do tamanho do mundo!

     
    
    

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